O que é o luxo? Uma questão em aberto para Suzy Menkes

Suzy menkes
Suzy Menkes [Fotografia: Neil Hall/Reuters]

Suzy Menkes está em Lisboa, desta vez como anfitriã da Condé Nast International Luxury Conference que decorre até dia 19 na capital portuguesa. A editora internacional de moda da Vogue já tinha pisado solo nacional em outubro do ano passado e nessa altura já se tinha mostrado encantada com o País e com as suas produções de moda e calçado.

Numa mesa redonda com a imprensa portuguesa especializada, Suzy Menkes apresentou as noções de luxo que estão a ser discutidas nas conferências que este ano se realizam sob o tema A Linguagem do Luxo e também a sua visão pessoal sobre o assunto. Para a jornalista a manualidade é um dos fatores que mais valoriza na sua ideia do luxo e talvez seja por isso que está, como já tinha revelado anteriormente, encantada com Portugal: a filigrana é a sua última descoberta e vê nesta arte portuguesa de trabalhar o ouro um potencial enorme de negócio e de valor. A gastronomia é outra.

O luxo num mundo tão rápido

A definição de luxo é uma pergunta ainda em aberto para para Suzy Menkes: ” É a questão central. Tentar perceber o que é que sentimos em relação ao luxo. Há o verdadeiro luxo que é provavelmente feito em Itália, talvez em Portugal, onde há um sentimento forte e apegado pelo que é feito à mão, pelo que é feito com cuidado e com tempo.”

A jornalista não nega, no entanto, a existência de um sentido de luxo mais imediatista. “É o conceito de fast fashion por todo o lado, é conseguir colocar o nosso nome numa t-shirt. Acredito e compreendo que isso seja luxo para essas pessoas, que o ambicionam. Para mim não seria.” A sensualidade, a manualidade e a história por detrás de cada peça, de cada produtor são qualidades que Menkes associa ao luxo:”Para mim, e acredito que para muitas outras pessoas, o luxo é algo que se pode tocar, que dá uma ótima sensação ao toque, que cheira lindamente, e que todas estas características se relacionam com uma pessoa e não estão apenas ligadas a uma hashtag ou uma grande palavra numa t-shirt.”

“A coisa que mais aprecio no jornalismo é a honestidade.”

A rapidez do mundo afeta as vidas e também a informação. Podem os jornalistas e os meios de comunicação competir com o mundo das redes sociais, a rapidez da foto, com um produto editorial de qualidade? Como é que as empresas e especialmente as empresas que produzem conteúdos e informação podem produzir conhecimento que seja importante para o público? Suzy Menkes afirma que uma coisa não invalida a outra, que as boas reportagens de moda – área a que sempre regressa no seu discurso – não impedem que sejam feitos outros artigos de consumo mais imediato. “Porque é que não podemos ter os dois?”.

No entanto reafirma que a qualidade mais importante de um jornalista de moda, “ou de política”, é a honestidade. “A coisa que mais aprecio no jornalismo é a honestidade.” Por isso afirma que “nunca poderia fazer parte dessa forma de trabalhar, de receber dinheiro para escrever sobre alguma coisa.”

Menkes prefere dar a conhecer novos criadores de moda, boas histórias de produções ambientalmente sustentáveis, que contribuam para um mundo melhor. E por isso impõe-se uma pergunta: O luxo é um terreno ético? Suzy Menkes diz que pode ser. Que o trabalho de marcas de luxo de países com baixo rendimento pode ser justamente o desenvolvimento da economia e do ambiente social, ao mesmo tempo que desenvolvem os seus produtos e dá o exemplo de Portugal.

Eu não governo o país mas se o fizesse diria que esta joalharia devia ser apresentada como um produto de luxo

Suzy Menkes olha para Lisboa como uma cidade com toda a oferta de luxo internacional. “Neste momento dá-nos a sensação de ter todas as marcas de luxo. O que estão a fazer aqui [em Portugal] é também tentar que as pessoas comprem e que tenham atenção às coisas que são produzidas no país, em vez de estarem sempre a olhar para fora.” Não vê no entanto que a moda seja uma indústria exemplar, no entanto, afirma que “há seguramente pessoas que melhoram a moda por escolher comprar ou fazer o que fazem com materiais escolhidos com princípios éticos. Pode ser feito.”

O retrato que faz de Portugal é apaixonado. Vê-se que conhece por dentro os setores da moda e do calçado – “têm um negócio de sapatos incrível, nunca tinha visto tantos sapatos juntos na minha vida” – reconhece o imenso valor da criatividade nacional e acaba de descobrir a filigrana que diz ter todo o potencial para ser vista como um produto de luxo: “É tão bonita e falei com alguém que me dizia que estão a tentar mantê-la viva. É feita à mão e é única. E quando entramos nas lojas de joias, podemos ver que por preços razoáveis há peças mesmo boas. Eu não governo o país mas se o fizesse diria que esta joalharia devia ser apresentada como um produto de luxo.”

Fotografia: Neil Hall/Reuters