Tami Hoag: “As mulheres são vítimas todos os dias”

Tami Hoag

A escritora norte-americana Tami Hoag, conhecida por escrever sobretudo romances e thrillers, viu recentemente o seu livro, Coração Frio, ser traduzido para português. A obra conta a história de Dana Nolan, uma jovem e promissora repórter de televisão que é raptada pelo assassino em série cujo caso acompanhava. Acaba por matar o raptor e sobreviver, mas fica com profundas cicatrizes físicas, emocionais e psicológicas.

No final do livro percebemos que a autora de 60 anos quis abordar a questão das lesões cerebrais traumáticas por ser um problema com que também se deparou aos 10 anos e com o qual os médicos, na altura, não souberam lidar.

De Portugal pouco conhece, mas espera vir em breve passar férias e praticar muita equitação, outra das suas paixões.

Este Coração frio é um thriller forte que lida com temas como violação, violência e lesões cerebrais traumáticas. Onde se inspirou?

Queria escrever um livro sobre uma vítima que sobreviveu a um crime e que teve de lidar com todas as consequências físicas e emocionais para seguir em frente com a sua vida após o calvário. Tenho um interesse particular no cérebro, de como esta parte do nosso corpo retém informações e como funciona após uma lesão. Isso é fascinante. Então combinei esses dois fatores no caráter da Dana.

No final do livro percebemos a razão que a levou a escrever sobre lesões cerebrais traumáticas: tem uma que não foi corretamente diagnosticada. Ainda é um assunto pouco falado nos dias de hoje?

A ciência realmente avançou muito em apenas 10 anos. Costumávamos perceber pouco sobre concussões e de como funcionam as diferentes parte do cérebro. Quando sofri a minha concussão há 50 anos, ninguém sabia realmente o que fazer em relação a isso. Tive de lidar com esse problema. Agora temos grande consciência das lesões cerebrais e da sua prevenção no desporto, por exemplo. Tomamos precauções para evitar esse tipo de lesão. Temos uma maior compreensão do que está a acontecer no cérebro lesionado e de como lidar com isso. É um momento muito emocionante para a ciência.

Quais foram as maiores dificuldades ao escrever a história de uma personagem que foi abusada por um serial killer ao ponto de ficar com problemas cerebrais?

A parte da lesão cerebral foi muito difícil para mim. Tento mergulhar na personagem para sentir o que ela sente e pensar o que ela pensa. Todos esses sentimentos e pensamentos estão muito misturados numa pessoa com lesão cerebral. O processo de pensamento é retardado, pesado e cansativo. Então, ao mesmo tempo, tive de descobrir como transmitir isso de forma a que o leitor possa compreender. Foi cansativo, especialmente porque tinha duas personagens – a Dana e o John – que estavam a lidar com a mesma coisa.

Algumas partes do livro são bastantes obscuras. O que costuma fazer para desanuviar depois de um dia de trabalho a escrever estas partes?

Geralmente faço jardinagem depois do trabalho ou escapo-me para o celeiro, para montar os meus cavalos. O processo foi tão difícil com os dois personagens principais deste livro, acabei por trabalhar realmente muitas horas. No final do dia estava demasiado cansada para fazer mais alguma coisa, mas via televisão durante algumas horas e, depois, ia para a cama.

Temos duas mulheres como vítimas: Casey Grant e Dana Nolan. Por que razão as mulheres continuam a ser as principais vítimas deste tipo de histórias?

É a realidade do nosso mundo, não é? As mulheres são vítimas todos os dias, tanto por parte de estranhos como por parte de pessoas que deveriam amá-las. Isso é algo de que todas as mulheres estão bem cientes e muitas têm experienciado em primeira mão. Como mulher e escritora de thrillers, claro que vou escrever sobre os problemas de violência contra as mulheres. A parte bonita de um livro é que realmente posso obter justiça para as minhas vítimas de crime.

“Sempre ouvi que os portugueses são calorosos e hospitaleiros, estou ansiosa para descobrir na primeira pessoa.”

Quem é a sua personagem preferida do livro?

A Dana. Admiro a sua resiliência e determinação para superar o que lhe aconteceu, apesar das dificuldades que enfrentou. Liguei-me muito a ela.

O livro já está disponível em português. O que sabe de Portugal e dos portugueses?

Sei que Portugal é um país bonito e um lugar que quero visitar há muito tempo. Amo a arquitetura, a comida e sei que reproduzem magníficos cavalos. Um dia vou aí para umas férias de equitação. Não acredito que ainda não fiz isso acontecer, mas tenho sempre datas a cumprir para os livros e não consigo tempo para férias. Sempre ouvi que os portugueses são calorosos e hospitaleiros, estou ansiosa para descobrir na primeira pessoa.

Qual é a sua série preferida?

Sou uma grande fã de ‘A Guerra dos Tronos’ desde o primeiro episódio. Estou muito ansiosa pelo final da temporada que foi agora para o ar, embora vá odiar que acabe.

Quais foram os melhores livros que leu no ano passado?

Neste último ano foi muito difícil para mim ler por causa do trabalho e da família. Ficámos fora de casa muito tempo devido aos enormes incêndios no sul da Califórnia, então infelizmente houve muito pouco tempo para ler por prazer. Estava a ler muitos livros de não-fição – como pesquisa para o livro em que estava a trabalhar – e política, que parece ser uma necessidade nos EUA dos dias de hoje. ‘The Great Alone’, de Kristin Hannah’s, e ‘What Alice Forgot’, de Liane Moriarty’s, foram os que se destacaram para mim. Ambas escritoras maravilhosas.

Que tipo de livro planeia lançar a seguir?

O meu mais recente, The Boy, foi apenas lançado nos EUA, em janeiro, e traz de volta os meus personagens de A Thin Dark Line, Annie Broussard e Nick Fourcade. Gostei tanto de me reconectar com as personagens que estou prestes a começar a trabalhar num outro livro com eles.

Ficha técnica do livro:

Tami Hoag

Coração Frio, de Tami Hoag. 18,84€, Círculo de Leitores

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