Tarefas domésticas: Homens mais novos admitem que podiam ajudar mais

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Partilhar as tarefas domésticas? Porque não? Numa altura em que tanto se fala de igualdade de género, há quem acredite que, cada vez mais, os jovens casais dividem entre si as tarefas do lar, não sendo estas já estritamente da responsabilidade feminina. Mas… Será mesmo assim?

O tema voltou a estar em cima da mesa este mês, no passado dia 18 de julho, quarta-feira, durante o debate “Desafios às diferentes parentalidades”. A decorrer na sala de conferências do British Council, o evento procurou responder de que forma os pais podem enfrentar os desafios impostos por parte de uma sociedade machista e preparar os filhos para a igualdade.

Neste registo, Manuel Abrantes, um dos oradores e Técnico Especialista no gabinete da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, referiu o estudo português: “Os Usos do Tempo de Homens e Mulheres em Portugal”, apresentado em 2016.

Um estudo realizado a nível nacional e que após inquirir 10 146 pessoas (5 797 mulheres e 4 353 homens), com idades entre os 15 e os 65 anos, apurou que em Portugal cerca de 20% dos homens (dois em cada dez) tem consciência que faz menos do que devia quanto às tarefas domésticas, enquanto 75,6% considerou justas todas as tarefas realizadas e 4,8% afirmou ser mais do que justo toda a ‘ajuda’ prestada – dados recolhidos pelo CESIS (Centro de Estudos para a Intervenção Social), em parceria com a CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego).

Já a maioria das mulheres, quando questionadas quanto à partilha de tarefas domésticas mostraram estar conformadas com as tarefas do lar: sete em cada dez (71%) consideraram justo todo o trabalho doméstico realizado diariamente e só 21,6% exprimiu um sentimento de injustiça, considerando fazer mais do que devia.

Os dados recolhidos revelaram ainda em que faixas etárias se encontra este sentido de justiça ou de injustiça: as mulheres entre os 25 e os 44 anos são as que se sentem mais injustiçadas, admitindo fazer mais do que é justo, enquanto 26,4% dos homens mais novos, com menos de 25 anos, reconhecem que poderiam ajudar mais com as tarefas domésticas – talvez por isso sejam as mulheres com menos de 25 anos, as que apresentam uma percentagem mais pequena quanto ao sentido de injustiça (8,8%) – como revela o gráfico abaixo.

Gráfico retirado do estudo “Os Usos do Tempo de Homens e Mulheres em Portugal”, apresentado em 2016 e elaborado por: Heloísa Perista, Ana Cardoso, Ana Brázia, Manuel Abrantes e Pedro Perista.

No entanto, a tomada de consciência, por parte dos homens mais jovens, de que podem contribuir mais nas tarefas domésticas não garante que o façam. E os números recolhidos, no mesmo estudo, indicam que, em pleno século XXI, as tarefas domésticas continuam a ser exercidas principalmente pelo sexo feminino: 3h06 é o tempo diário que as mulheres dedicam às tarefas do lar, enquanto os homens despendem de 1h54.

Ângelo Fernandes, representante da Associação Quebrar o Silêncio, também fez parte do painel de oradores, colocando em causa uma possível evolução das novas gerações: “‘Ser homem é ser o pilar que sustenta a família’ [monetariamente]. Caso contrário é-se menos homem. Estes são valores que estão enraizados aos 15/16 anos“, referiu. E prosseguiu explicando o porquê de (talvez) muitos homens passarem ao lado das tarefas domésticas: “Se as coisas sempre apareceram feitas ‘por magia’, ou porque a mãe fazia, ou a avó, ou a irmã’… quando o homem sai de casa espera que isso aconteça”.

Por isso mesmo, Jean Von Hoendorff, psicólogo e professor universitário no Brasil, afirmou ainda: “O feminismo é importante não só para as mulheres, como também para os homens”. Uma educação para o feminismo. Será mesmo essa a solução para direitos iguais dentro das quatro paredes?

Até lá “continua a registar-se a tendência de o homem ser entendido como aquele que ‘ajuda’, aquele que ‘apoia’, longe de um panorama de partilha efetiva da responsabilidade e da execução das tarefas domésticas”, afirma o estudo. E concluiu-se que: “as expectativas quanto à participação do homem nas tarefas domésticas são, por vezes, tão reduzidas que qualquer contribuição da sua parte, modesta seja, é encarada como significativa e valiosa”, pode ler-se ainda na conclusão.

[Imagem de destaque: Shutterstock]

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