Tecnologia e sustentabilidade são os pilares do novo luxo

Lisboa recebeu durante os dias 18 e 19 de abril a Conferência de Luxo da Condé Nast Internacional, editora que detém títulos como a Vogue, GQ e Vanity Fair. Durante estes dois dias Suzy Menkes foi a anfitriã e moderadora de várias conversas sobre o futuro do mercado de luxo e da moda.

O evento decorreu no Páteo da Galé e contou com nomes de renome internacional como Hervé Pierre, conselheiro de estilo de Melania Trump, Hilary Swank, atriz e fundadora da marca Mission Statement, Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da Dior, Christian Louboutin, designer de sapatos, Giambattista Valli, designer de moda, Filipe Oliveira Baptista, diretor criativo da Lacoste e Federico Marchetti, diretor executivo do grupo YOOX Net-a-porter, entre outros.

O futuro do luxo é a evolução tecnológica

Sophie Hackford, especialista em nova tecnologias e apresentada por Suzy Menkes como futurista, surpreendeu ao revelar algumas das novas tecnologias que estão a ser desenvolvidas e que acredita que são o futuro do luxo. “A inteligência artificial (IA) vai transformar completamente a forma como vivemos. Alguns sistemas com IA já conseguem aprender por eles mesmos, aprendem com o comportamento humano e já existem sistemas que conseguem usar a criatividade e a intuição“, explicou Sophie acrescentando que os humanos não devem recear as máquinas devem vê-las como companheiras de equipa para o progresso. “O futuro não é uma corrida contra as máquinas, mas uma corrida com elas”.

“Devemos estudar os comportamentos das máquinas como estudamos o comportamento humano e animal. Elas falham em coisas que os humanos nunca falham, por isso devemos compreender a fronteira onde o que é humano acaba e onde o que é robot começa”, deixou claro a futurista. Sophie sugeriu ainda que a inteligência artificial e o mundo virtual podem ajudar a abrir as mentes humanas, sugerindo-lhes cenários que antes nunca tinham imaginado e que depois de criados virtualmente podem ser aplicados no mundo real.

 

“O futuro não é uma corrida contra as máquinas, mas uma corrida com elas”

 

Esta predisposição para a tecnologia e para o desenvolvimento digital, a par da grande quantidade de consumidores jovens com poder de compra, é um dos pontos que torna a China num dos mercados mais apelativos para o luxo. “As pessoas na China são muito mais abertas ao desenvolvimento tecnológico” explicou Adrian Cheng, fundador do K11.

Quando falamos de mercado de luxo os novos desenvolvimentos na área digital não se prendem apenas com novas plataformas de e-commerce e novas formas de comunicação digital entre as pessoas, mas também do desenvolvimento de novos materiais e novas matérias-primas para moda. Hoje em dia já é possível desenvolver diamantes em laboratório com igual qualidade e valor aos diamantes africanos, também é possível replicar outro tipo de matérias-primas de origem animal como o couro ou a seda, além da enorme diversidade de materiais feitos de plástico e outros desperdícios reciclados.

A sustentabilidade é o novo luxo

Sustentabilidade foi uma das palavras mais ouvidas nestes dois dias de conferência. O luxo do futuro está muito ligado a fazer moda e acessórios de forma consciente, uma consciência que se prende não apenas com a forma como as matérias-primas são desenvolvidas, mas também com a forma como a roupa é produzida e como é consumida. Um caminho que se faz de uma sustentabilidade ambiental, social e económica.

Esta mudança acontece não apenas porque há cada vez mais desenvolvimentos tecnológicos que permitem uma moda mais ecológica, mas também porque os consumidores de hoje são cada vez mais informados e querem de facto saber aquilo que estão a comprar. Os novos consumidores não querem consumir apenas artigos, querem fazer parte de causas, consumir algo com significado. Um bom exemplo é a coleção cápsula da Lacoste que trocou o logo do crocodilo por espécies em via de extinção e cujos lucros reverteram a favor da preservação destes animais em risco. Este projeto foi um sucesso não pelo produto em si, que eram apenas polos brancos, mas porque tinha uma causa forte associada. Esta coleção cápsula dizia “Nós (Lacoste) importamo-nos”, explicou Filipe Oliveira Baptista, diretor criativo da marca.

 

Os novos consumidores não querem consumir apenas artigos, querem fazer parte de causas, consumir algo com significado.

 

A voz mais revolucionária de todos os debates foi a de Stefan Seigel, fundador e CEO da marca Not Just a Label. “Precisamos de abrandar o consumo, parar de poluir os oceanos e respeitar a sociedade. 10 milhões de crianças com menos de 10 anos são vítimas de trabalho infantil”, além disso “estamos a encorajar crianças a viciarem-se em consumo ao deixá-las seguir cegamente celebridades do Instagram. Não há orgulho nenhum em fazer crianças esperar horas por uma nova coleção de ténis, devíamos ser adultos com integridade moral. Quando encorajamos as pessoas a serem famosas, em vez de criarem coisas famosas, estamos todos errados”.

Um discurso disruptivo que estremeceu a audiência com a certeza de que “mudar o mundo já não é opção, é uma obrigação”. Uma mudança que está a acontecer e será cada vez mais uma preocupação de todas as marcas, desde o grande consumo ao luxo. E se dúvidas houvesse de que a sustentabilidade é imperativa, o CEO da Bottega Veneta, Claus-Dietrich Lahrs, provou que a indústria está a mudar, ao declarar publicamente que a marca, que está intimamente ligada às peças de couro, pode começar a usar alternativas à pele de origem animal.

O luxo volta a ser discutido a 10 e 11 de abril de 2019 e terá como país anfitrião a África de Sul, onde será debatida a natureza do luxo.

O que é o luxo? Uma questão em aberto para Suzy Menkes