Teletrabalho: a exigência de se estar sempre online

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A realidade de vários trabalhadores pelo mundo todo mudou: há meses que milhões de pessoas estão em teletrabalho. Ainda que vários já tenham voltado ao seu posto de trabalho habitual, muitos ainda continuam a manter o seu emprego através de casa. E há uma exigência de presença cada vez maior.

Poderíamos pensar que o teletrabalho ajudou muitas pessoas a poupar tempo. Afinal de contas, já não temos de contar os minutos para conseguir apanhar o transporte a horas ou não apanhar trânsito durante a viagem. Mas a verdade é que, na maioria dos casos, há uma cada vez mais exigência pela presença permanente.

São e-mails que chegam às 21 horas, videochamadas que não têm fim, prazos que cada vez se apresentam mais curtos ou objetivos que se tornam maiores para tentar fazer face à crise que muitos negócios sentiram. As equipas, muitas vezes, diminuem com o desemprego mas o trabalho mantém-se igual ou maior.

Para muitos, o teletrabalho não deixou os seus dias ou rotinas mais flexíveis, pelo contrário. Quando mal compreendido, acaba por trazer horas a fio de trabalho, quase como que uma maratona que não tem fim, onde a carga de tarefas é muito superior ao antigamente, em vários setores e atividades.

Muitos países já faziam do teletrabalho uma atividade normal. E em países como Portugal, em que esta ainda não era uma realidade presente, acreditávamos que esta seria a conciliação perfeita entre a vida pessoal e a laboral. Mas, muitas vezes, nem por isso.

Segundo vários especialistas, a resposta está nos moldes errados em que este pressuposto se está a basear. Muitos dos maus hábitos do trabalho normal acabaram por ser transferidos para o teletrabalho, como as videochamadas que substituem as reuniões imensas ou a exigência de horas extra que muitas vezes não são pagas e que agora se traduzem numa exigência de permanência no mundo online e que dificultou uma reconciliação familiar, aumentou o stress e a fadiga e está a deixar muitas pessoas com ansiedade ou depressão.

Exige-se das pessoas a urgência do imediato, do estar sempre disponível, excesso de reuniões e chamadas que acabam por atrasar o trabalho e obrigar a horas extra para cumprir prazos, excesso de tarefas e encurtamento de prazos na esperança de se conseguir, desta forma, mais e melhor.

Esta é a realidade de muitas pessoas que, há quase quatro meses, viram as suas rotinas não só totalmente alteradas como também intensificadas.