Tensões natalícias comprometem sexo. No ano novo é que é!

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As curvas da natalidade têm provado que o tempo das festividades de fim de ano tem sido tempo de boas festas… pelo corpo todo. Afinal, setembro e outubro têm sido, há décadas, os meses com maior número de nascimentos. Contas feitas, falamos de fecundidade que tem lugar entre dezembro e janeiro, exatamente por altura do Natal e do Ano Novo.

A ginecologista, obstetra e coordenadora de Medicina Sexual da Sociedade Portuguesa de Sexologia, Maria do Céu Santo, não nota, na prática clínica, grande variação no número de nascimentos. Reconhece, porém, que “em matéria de planeamento familiar, há mais disponibilidade para falar sobre esta matéria em junho, antes das férias, e em dezembro, antes do fim do ano. Creio que as pessoas, com relações mais estáveis, estão mais disponíveis porque acham que vão estar mais em família, vão ter mais sexualidade, vida afetiva e vão ter mais tempo”.

No entanto, esta especialista considera que a quadra natalícia é mais inibidora da sexualidade do que o réveillon. “Mais do que o sexo no Natal, creio que a ocasião mais comum é o ano novo.” E porquê? “Porque o primeiro é mais familiar, as pessoas estão geralmente mais atarefadas e há mais conflitos, temos de conciliar os pais, os sogros, por vezes segundas famílias e isso cria maior tensão”, refere. Mas há ainda um outro facto que promove o arrefecimento da vida a dois por altura do Natal. “Muitas vezes as famílias vão para casa dos pais ou dos sogros e, como as casas não são muito grandes, os filhos ficam a dormir no quarto da mãe e do pai, colocando a sensualidade e a sexualidade num segundo plano”.

“No Natal, as pessoas estão geralmente mais atarefadas e há mais conflitos”

Já no Ano Novo, a coordenadora de Medicina Sexual da Sociedade Portuguesa de Sexologia diz que tudo é diferente. “Aí é ao contrário. Geralmente, é uma fase em que as pessoas investem mais nos amigos, muitas vezes conhecem pessoas novas, iniciam novos relacionamentos e têm mais tendência para a sedução e imagem.”

E o que diz a demografia sobre esta altura do ano? “Não há estudos, mas há algumas associações que podemos equacionar e que podem estar relacionadas com expectativas das pessoas para o novo ano e por estarem mais descontraídas, por estarem de férias”, começa por explicar Maria Filomena Mendes. Para a professora universitária e presidente da Associação Portuguesa de Demografia, “há um ambiente de maior festividade e de alguma felicidade em família e isso pode fazer com que as pessoas, sobretudo aquelas que querem ter filhos tenham, efetivamente, essa intenção. Estamos quase sempre a falar de crianças desejadas, de pais que querem ter um filho, ou um segundo e até um terceiro. Esta altura do ano propicia isso.”

Segundo dados recentes e tendo em conta os testes do pezinho, em 2017 houve até uma quebra em setembro, com mais nascimentos a chegar nos dois meses que se lhe seguiram, com mais mil bebés face a período homólogo de 2016 e totalizando mais de 79 mil crianças este ano. Os dados oficiais do Instituto nacional de Estatística hão de chegar posteriormente.

Num estudo recente que teve por base dados das redes sociais e pesquisa online – levado a cabo e coordenado por investigadores Gulbenkian da Ciência e da Universidade de Indiana – vem demonstrar uma coincidência entre um maior interesse sexual na altura das festividades e para o hemisfério norte, coincidindo com maior fecundidade nove meses depois: em setembro. De acordo com os investigadores, confirma-se um grande pico do uso da palavra ‘sexo’, nesta altura do ano quando comparado com outro com outras semanas, sendo superior a 10 ou a 20%.

É possível mudar o stresse do Natal?

Maria do Céu Santo tem dúvidas: “É difícil!”. “As pessoas estão numa correria, vivem naquilo a que tenho chamado a disfunção de vida (leia mais sobre isto aqui) e é complicado superar essas questões”, justifica. Por isso, uma semana depois da festa da família chega um outro período para o romance e o amor. “A passagem do ano é um espaço aberto ao namoro, à sedução, ao investimento em nós próprios, o Natal é o conceito de família com tudo de bom e de mau que isso implica”, vinca a especialista ao Delas.pt.

Maria Filomena Mendes também entende o Ano Novo como uma fase que pode ser interessante em matéria de fecundidade e demografia. “Só o facto de as pessoas estarem mais relaxadas e bem consigo próprias pode ter um efeito positivo. Mas falamos de uma constatação de facto de que há mais nascimentos em setembro, significando uma maior taxa de fecundidade no final do ano, uma fase em que paira a expetativa num futuro melhor, com mais rendimento, talvez com mais emprego e que pode condicionar a decisão, creio que é uma época em que as pessoas acreditam mais no que está por chegar”.

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