“Ter avós por perto favorece os níveis de segurança e de afeto”

Os netos ganham confiança e amor, as avós vivem com “menor declínio cognitivo”, “apresentam menor risco de desenvolver doenças degenerativas como o Alzheimer” e podem, a nível estritamente físico, reportar um “fortalecimento do sistema imunitário”. Estas são algumas das conclusões dos benefícios do convívio entre os anciãos e os elementos mais novos da família. Em declarações ao Delas.pt e à boleia do Dia Mundial dos Avós, que se assinala a 26 de julho, Filipa Jardim da Silva traça vantagens desta relação.

20 coisas que aprendemos com as nossas avós

A psicóloga clínica e coach profissional revela mesmo o que significa uma rutura nesta relação. Isto quando acabamos de assistir ao facto de Dolores Aveiro, mãe de Cristiano Ronaldo, e sobejamente conhecida por ser uma avó extremosa e exemplar – sempre próxima dos netos – partir agora para uma vida mais sua (ao mesmo tempo que CR7 e a companheira e os filhos se mudam para Turim, Itália). Na galeria acima, recorde alguns momentos daquela avó e dos seus netos e que têm sido partilhados nas redes sociais.

Psicóloga clínica Filipa Jardim da Silva [Fotografia: DR]

Que efeitos pode ter uma rutura – tal como ela tem vindo a ser apresentada nos media – desta natureza? “A qualidade da ligação afetiva não se mede por circunstâncias de distância física”, analisa a especialista. Contudo, avisa Filipa Jardim da Silva, há riscos, e estes “tendem a surgir apenas quando existe uma rutura de ligação absoluta, sem explicação nem previsibilidade, muitas vezes pautada por zanga”. Apesar das diversas tentativas, não foi possível até ao momento chegar à fala com Dolores Aveiro que, refere fonte próxima da família, já está na sua terra natal.

Abaixo, leia o que diz a especialista sobre avós, netos e, claramente, o futuro que ambos podem construir em conjunto.

Que benefícios traz a relação avós-netos para as primeiras?

Os benefícios são múltiplos. Em relação aos avós, diversa investigação tem evidenciado que as que tomam conta dos seus netos entre uma a quatro vezes por semana têm menor declínio cognitivo e que, inclusivamente, apresentam menor risco de desenvolver doenças degenerativas como o Alzheimer. O contacto regular com crianças estimula a aquisição de novos saberes e favorece uma socialização de maior qualidade. Outros estudos sustentam que passar tempo de qualidade com os netos beneficia os avós a nível mental, mas também a nível físico, com um fortalecimento do sistema imunitário. Quando os avós abraçam regularmente os seus netos libertam em maior quantidade oxitocina, a dita hormona do amor, que ajuda a diminuir os níveis de stress e favorece maiores níveis de bem-estar. Adicionalmente, brincar com os netos favorece a atividade a nível físico, o que potencia a sua mobilidade, melhora a sua força e níveis de energia. Melhora ainda o humor, a qualidade do sono, as funções cognitivas e o sistema imunitário e de forma global, favorece uma maior longevidade.

“Brincar com os netos favorece que os avós se mantenham mais ativos a nível físico, o que potencia a sua mobilidade, aumenta a sua força física e níveis de energia, melhora o humor”

E para os netos?

Ter avós por perto favorece os níveis de segurança e de afeto incondicional. Acedem a mais conhecimento de forma lúdica e podem compreender melhor a própria história da família favorecendo assim uma identidade mais segura. Devido à sua experiência de vida, os avós tendem a ser ótimos conselheiros e solucionadores de problemas. Se é compreensível que os pais se sintam pressionados pela responsabilidade nova da parentalidade, os avós podem oferecer um contacto mais relaxado e divertido com as crianças, contribuindo para uma dinâmica familiar mais relaxada e em alguns momentos para maiores níveis de diversão e felicidade.

Reconhecidamente uma avó extremosa, D. Dolores, mãe de Cristiano Ronaldo, segue agora a sua vida, na Madeira, mais longe dos netos com quem tem passado estes tempos. Em circunstâncias como estas – uma avó muito presente – que riscos acarreta esta ausência para os netos? E para a avó?

A qualidade da ligação afetiva não se mede por circunstâncias de distância física. A partir do momento em que continua a existir contacto, mesmo que através de um ecrã, que os avós continuam presentes através de referências no quotidiano e fotografias por exemplo, pode confiar-se que a força do laço continuará de forma incondicional, bem como as influências positivas para avós e netos. Os riscos tendem a surgir apenas quando existe uma rutura de ligação absoluta, sem explicação nem previsibilidade, muitas vezes pautada por zanga.

“Os riscos [de separação entre avós e netos] tendem a surgir apenas quando existe uma rutura de ligação absoluta, sem explicação nem previsibilidade, muitas vezes pautada por zanga”

O que é, o que define uma boa e má avó?

De uma forma geral, poderemos destacar alguns traços presentes numa avó capaz de estabelecer uma relação de qualidade com os netos e revelar-se uma boa influência. Uma boa avó é paciente e empática, sendo capaz de olhar para o mundo através dos olhos de uma criança, é generosa na forma como disponibiliza o seu tempo e a sua atenção, ama incondicionalmente os seus netos, interessa-se genuinamente em escutar e aprender com os netos e confia na ligação afetiva criada independentemente das distâncias e frequência de contacto. Uma avó menos boa tenderá a ser o oposto.

Quais os limites de atuação?

É importante que as avós respeitem os limites do seu papel, ou seja, que não queiram substituir uma mãe ou um pai, porque eles próprios já tiveram a oportunidade de desempenhar esse papel. Uma avó é uma avó, uma mãe é uma mãe. É importante que os avós sejam avós e possam conjugar essa identidade e relação com respeito pelos pais dos seus netos.

“[Sem avós] corre-se sobretudo o risco destas crianças crescerem sem um sentido alargado de família e sem acederem à sua história familiar (…) Para elas, corre-se o risco de se isolarem e sentirem inúteis”

Numa sociedade que tem cada vez mais famílias nucleares, quais os riscos que correm estas crianças e estas famílias sem os avós por perto?

Corre-se sobretudo o risco destas crianças crescerem sem um sentido alargado de família e sem acederem à sua história familiar, perdendo a oportunidade de beneficiarem de figuras de referência adicionais e distintas dos pais. Para os avós, corre-se o risco de se isolarem e sentirem inúteis, como que focados apenas no fim da vida, sem a perceção de continuidade do seu legado.

Imagem de destaque: Shuttertsock

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