Ter endometriose após cesariana é “risco real”, mas “muito baixo”

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[Fotografia: Pexels/Jonathan Borba]

Células endometriais podem também reproduzir-se após uma cesariana, podendo, em casos críticos, levar à dor e à incapacidade em períodos menstruais posteriores, configurando quadro de endometriose.

Se para algumas mulheres tal era claro, não o era para todas. Ao Delas.pt, a ginecologista-obstetra, especialista naquela doença incapacitante, Filipa Osório, esclarece esta matéria e na véspera de a causa voltar às ruas para protestar contra a falta de proteção das mulheres que padecem da doença e convocar atenções para uma condição de saúde que, estima-se, afeta cerca de 350 mil mulheres em Portugal.

“Esta questão [da endometriose após a cesariana] é um risco real mas a probabilidade de acontecer é muito baixa”, afirma a médica e membro da direção da Secção de Endoscopia da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, lembrando que, nestes casos, “deve-se procurar ajuda especilizada”.

Recorde-se que Portugal está atualmente entre os dez países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com mais elevadas taxas de partos cirúrgicos e já acima de valores de cesarianas reportados, por exemplo, nos Estados Unidos da América. Aliás, análise recente a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) sobre 2021 apontava para uma taxa de cesarianas, entre público e privado, de 37,5% do total dos partos realizados em território nacional nesse mesmo ano, ou seja, mais de 1/3.

De acordo com a análise da ERS (que pode ser consultada na íntegra aqui), divulgada em janeiro deste ano, “da comparação entre estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e estabelecimentos privados e sociais (não integrados no SNS) resulta que 65,9% dos partos realizados por estes últimos correspondiam a cesarianas, enquanto nos estabelecimentos do SNS apenas cerca de 30,7% dos partos foram realizados por cesariana”.

Sinais de endometriose após a cesariana

“A mulher começa a ter queixas de dor com inicio na menstruação e geralmente que se prolonga durante a semana seguinte, e começa a notar um nódulo doloroso junto da cicatriz de cesariana”, revela Filipa Osório.

A ginecologista-obstetra explica que o crescimento deste tecido, “na cesariana e durante o nascimento, há células endometriais que se podem implantar na parede abdominal”. Assim sendo, prossegue a especialista, “quando a mulher retoma os ciclos menstruais, este endométrio implantado fora da cavidade uterina vai sofrer as mesmas alterações formando um nódulo da parede abdominal”.

Endometriose com marcha a 25 de março

No âmbito do movimento mundial WorldWide EndoMarch, a MulherEndo – Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose – convoca uma marcha pela maior sensibilização e divulgação da doença. A EndoMarcha vai acontecer a 25 de março, no Parque das Nações, em Lisboa, a partir das 14.00 horas.

A Endometriose – que se caracteriza pelo aparecimento de tecido do endométrio fora do útero – é uma doença que provoca dores pélvicas crónicas incapacitantes e infertilidade.

Existem cerca de 350 mil mulheres com esta doença em Portugal, uma estatística que resulta da certeza de que uma em cada 10 em idade fértil é atingida com este problema, que é mais comum em idades compreendidas entre os 30 e os 35 anos, segundo a ginecologista-obstetra, Filipa Osório. A médica também afirma que a “desvalorização dos sintomas permite a evolução da doença.” Este facto pode explicar-se pelo facto dos sintomas poderem ser confundidos com outras doenças, visto que se caracterizam pela dor na zona pélvica, manifestada durante a menstruação, durante as relações sexuais e ao urinar e evacuar. Por este motivo, não deve recorrer a nenhum tratamento sem efetuar primeiro o diagnóstico.

Em fevereiro, a endometriose e adenomiose estiveram a debate parlamentar, com a larga maioria dos partidos a apresentar propostas e resoluções no sentido de melhorar condições das mulheres que sofrem destas doenças quer no trabalho, quer na saúde. Porém, a maioria socialista chumbava a maior parte dos diplomas.

“Tendo em conta o o que observámos e a unanimidade de todos os partidos políticos da implementação destas medidas para a Endometriose e Adenomiose, todas estas rejeições no Parlamento foram mesmo um balde agua fria”. O desabafo é da presidente da MulherEndo — Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose, Susana Fonseca.