Ter saúde mental pode não implicar entrar em bancarrota

Nem sempre é preciso estar no limite para reconhecer que é preciso ajuda. No caso da Saúde Mental, a regra é, aliás, exatamente a contrária: a indicação é a de que não se deve deixar que se cruze a fina linha entre o bem-estar e o desespero.

No entanto, também é certo que, hoje em dia, ir ao psicólogo é olhado como uma necessidade cara, geralmente pouco acessível às bolsas dos portugueses.

Há consultas para todas as carteiras, mas também há alternativas mais em conta. Por isso, no dia Mundial do Psicólogo, que se assinala este domingo, 27 de agosto, o Delas.pt foi à procura de entidades que promovem a saúde e a higiene mental a preços mais acessíveis.

Na galeria acima ficará a conhecer algumas das alternativas atualmente em vigor, mas também novas medidas que estão a ser implementadas este ano e que passam por ter mais especialistas disponíveis para a comunidade: nos centros de saúde e nas escolas. Mas há entidades e universidades que já o fazem.

Alternativas que devem ser dadas a conhecer uma vez que, para lá dos preços das consultas – que operam na sua maioria no setor privado -, a Saúde Mental é uma das áreas clínicas menos cobertas pelos seguros de saúde em Portugal. E também estes exigem encargos, podem ser onerosos e não garantem a cobertura de todas as especialidades.

De acordo com os dados divulgados pela Lusa, em abril, eram residuais as apólices que cobriam serviços de pedopsiquiatria, pediatria do desenvolvimento, psiquiatria ou psicologia. No final do ano passado – e segundo o estudo Basef Seguros (de referência para o setor), da Marktest -, os portugueses beneficiários de seguro de saúde ultrapassavam os dois milhões, ou seja, 1/5 da população nacional. Dava-se, então, conta de que, apesar de haver um crescimento do setor, a maioria das apólices de seguro de saúde não cobria os serviços na área da saúde mental.

2017: o ano do combate à depressão

Recorde-se que este foi o ano que Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou para o combate à depressão. Os números de incidência da doença justificam o porquê desta opção.

Em Portugal, a OMS estima que cerca de um milhão de portugueses sofra de depressão ou ansiedade, atingindo todas as idades, tendo sido já correlacionado um aumento da doença decorrente dos anos de crise económica e social que o país viveu recentemente.


Leia mais sobre a depressão, ansiedade e as doenças em que as mulheres são as mais afetadas


Não é mistério que a depressão se trata de uma doença que atinge em larga escala as mulheres e o quadro agrava-se quando se percebe que são precisos, em média, cinco anos para que se inicie tratamento médico, após detetadas as primeiras sintomatologias.

Habitantes de Pedrógão Grande pedem ajuda

Em véspera de completar 80 anos, Rosalina Rosa, uma das mulheres que perdeu tudo nos fogos mortais de Pedrógão Grande, em junho, queixa-se que “anda doente”, que precisa de ajuda e que os comprimidos já não estão a fazer efeito desejado.


Recorde o testenunho na íntegra aqui


Esta octogenária é apenas uma das várias habitantes de aldeias afetadas pelo incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e que pediram, no início de julho, mais psicólogos no terreno. A Administração Regional de Saúde garantia que as equipas estavam nos concelhos atingidos pelas chamas.

“Os psicólogos estiveram lá a fazer consulta na primeira semana, mas, depois disso, nunca mais voltaram“, disse à agência Lusa José Esteves, de 52 anos, a viver em Pobrais, Pedrógão Grande, concelho que assistiu, a 17 de junho, ao início do incêndio que provocou a morte a 64 pessoas e mais de 200 feridos.

Também em Nodeirinho, havia vários casos de pessoas que criticavam a falta de presença de psicólogos nas aldeias afetadas, referindo que a resposta não podia estar concentrada em centros de saúde, por muitas das pessoas que precisavam de apoio não terem forma de se deslocar às vilas de Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera ou Pedrógão Grande.

O presidente da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC), José Tereso, vincou à data: “Continua a haver equipas multidisciplinares da unidade de saúde mental comunitária”, bem como as unidades de cuidados na comunidade, constituídas por enfermeiros e por outros profissionais.

“Todas as aldeias precisam de alguém no terreno. Todas as pessoas têm de ser verdadeiramente ouvidas. Houve pessoas que, mesmo não perdendo um familiar, ouviram os gritos e os berros. Lidar com esta situação não é fácil“, salientou Dina Duarte, habitante de uma das aldeias mais massacradas nesta tragédia, Nodeirinho.

Imagem de destaque: Shutterstock