Terapia para casais: pôr o casamento à prova ou redescobrir o amor?

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Cláudia chegou mais cedo a casa e encontrou o marido a ver um filme pornográfico – soou-lhe a traição. Manuela e Alberto tornaram-se dois estranhos depois do único filho ir para a faculdade numa outra cidade. Rute e Filipe sentiram-se perdidos enquanto casal quando nasceu o bebé que tanto ansiavam. Com mais ou menos anos de vida em comum todos eles precisaram de recorrer a terapia conjugal, que ainda parece ‘coisa de filme’ mas começa a ter cada vez mais adeptos – na maioria dos casos para evitar a separação iminente.

“Não conseguia perceber porque é que ele estava a ter prazer daquela forma, sem mim. Senti-me como se não fosse suficiente para o satisfazer, como se o Rui precisasse daquele ‘extra’ em que eu não entrava”, confessa Cláudia sobre o dia em que ‘apanhou’ o marido a ver pornografia. “Nem conseguia olhar para ele direito depois daquele ‘episódio’. Só havia duas soluções: o divórcio ou procurar um especialista que me ajudasse a processar isto”. Foi o que fez. “O terapeuta ajudou-me a perceber que o facto de um filme daqueles dar prazer ao meu marido não significava que eu não lhe bastava; que os universos eróticos podem e devem ser variados e que isso não me podia nem devia diminuir enquanto mulher”, acrescenta a auditora, de 40 anos. “Aliás, um dos conselhos que nos deu foi vermos filmes em conjunto”, diz com uma gargalhada.

“Os motivos que podem levar os casais a procurar terapia dividem-se em dois grandes grupos – preventivos ou remediativos, muito embora os segundos estejam em clara maioria,” considera Rita Fonseca de Castro, Psicóloga Clínica e Terapeuta Familiar da Oficina de Psicologia, ou seja os casais em crise são aqueles que mais recorrem à terapia de casal. A terapeuta encontra padrões:

“Existem fases na vida de um casal mais propícias a que os desentendimentos ocorram, bem como o aparecimento de indícios – que passam frequentemente despercebidos – de que uma fase menos boa na vida do casal se pode estar a aproximar.”

As dificuldades ao nível da vivência da intimidade e da sexualidade são apontadas pela especialista como um dos principais motivos que levam os casais ‘ao divã’ mas não são os únicos. “Os momentos de crise associados às diferentes fases do ciclo de vida de um casal (por exemplo, após o nascimento do primeiro filho ou a entrada dos filhos na adolescência); situações de infidelidade/relações extraconjugais; divergência em relação a diversos temas, como sejam as questões financeiras, a forma de ocupar os tempos livres, a educação a dar aos filhos”, contextualiza a psicóloga, sublinhando que o “sucesso” de uma terapia de casal não é equivalente à continuação da relação.

Foi o caso de Manuela e Alberto, na casa dos 50, que frequentaram sessões de terapia conjugal durante três meses. Ao fim desse tempo perceberam – sem mágoa, diz ela – “que não passávamos de bons amigos. A única coisa que nos unia era o nosso filho, e vai unir para sempre, mas além disso não tínhamos já mais nada em comum. Foi preciso o nosso filho sair de casa para percebermos que éramos dois estranhos que dormiam na mesma cama e comiam à mesma mesa”. Hoje vive cada um para seu lado, mas continuam a falar – e sem discutir. “Se não tivéssemos feito terapia provavelmente ter-nos-íamos divorciado na mesma mas com conflitos e sem conseguirmos estar juntos”, acredita Manuela. O sucesso da terapia foi de tal ordem que de cada vez que o filho vem a casa ao fim de semana fazem sempre um programa a três.

Rute e Filipe, pelo contrário, ‘reencontraram-se’ nas sessões de terapia conjugal, depois de muitas lágrimas e queixas de parte a parte. “Tínhamos deixado de ser um casal para sermos apenas os pais do André. A terapeuta mandou-nos namorar muito, ter momentos a sós e graças a isso redescobrimos o amor que sentíamos um pelo outro. No fundo o sentimento continuava lá, só estava era camuflado pelo nosso novo papel de pais”, conta a professora de ginástica de 28 anos.

Os TPC’s não são só coisa que os miúdos trazem às dúzias da escola. São extremamente importantes para o sucesso da terapia conjugal – por isso convém ‘estudar’ a matéria e não haver ‘baldas’ se quiserem ter nota positiva. Rita Fonseca de Castro explica porquê:

“É muito frequente que os terapeutas de casal recomendem a realização de trabalhos de casa/prescrições entre sessões. Podem ser de realização individual, para discussão na sessão seguinte, ou tarefas para o casal. Como exemplo, indicar ao casal que terá que passar 2 horas por semana sozinho, fazendo determinada atividade que fomenta a sua ligação ou nas quais tem que conversar, sendo proibido abordar uma determinada temática; cada elemento do casal tem que fazer uma lista sobre comportamentos que gostava que o outro tivesse – e que já teve numa outra fase da relação.”

A terapeuta familiar acrescenta ainda que “a presença de um elemento neutro e imparcial pode fazer com que os elementos de um casal se escutem realmente (na maioria dos casos os casais que surgem em terapia já não se ouvem), voltem a olhar um para o outro e, nesse sentido, a discussão com o terapeuta possa levar a novos ‘insights’, a novas interpretações da realidade e a novas formas de vivenciar a relação.”