The Skate Kitchen: o lugar delas é a andar de skate

Skate Kitchen

Foi por acaso que Crystal Moselle, cineasta americana, deu de caras com os irmãos Angulo, o grupo que originou o seu filme de estreia, que há três anos vencia o Grande Prémio do Júri no Festival de Cinema de Sundance, “The Wolfpack”. Foi de novo graças a uma casualidade que conheceu as miúdas do Skate Kitchen, um coletivo de Nova Iorque, quando aguardava por um comboio numa das plataformas da cidade.

Depois de realizar um breve filme de cariz biográfico para a marca Miu Miu, eis uma metragem mais alargada sobre este grupo totalmente feminino que prova que a cultura dos skates não é só para rapazes. Esta é a história de Brenn Lorenzo, Jules Lorenzo, Nina Moran, Kabrina Adams, Ajani Russell, Rachelle Vinberg e Ardelia (Dede) Lovelace. Neste contexto, mais ficcional, é antes a história de “Camille” (interpretada por Rachelle Vinberg), uma skater introvertida que se junta a esta crew, num processo de auto descoberta, e de relação amorosa com o misterioso “Devon”, fotógrafo e também skater.
“Todas as vezes que assistia a um vídeo com uma rapariga a andar de skate, ouvia comentários como ‘oh, devia estar na cozinha”, descreveu Vinberg numa entrevista para o YouTube, justificando o nome atribuído ao grupo. “Espero que o Skate Kitchen sirva de afirmação para as pessoas que não têm certeza se devem juntar-se a esta cena, seja qual for a razão que as faça hesitar”, defendeu Rachelle à revista Dazed.

Mas não é difícil imaginar que em larga medida o papel das mulheres neste caso seja ligeiramente abafado por uma figura masculina. É que faltava acrescentar que o referido interesse amoroso de Camille é nada mais nada menos que Jaden Smith, que faz as vezes de “Devon” – recorde-se que, com apenas 20 anos, o filho de Will Smith acumula as funções de ator, dançarino, rapper, e ainda empresário (é fundador de uma marca de água amiga do ambiente), entre outros atributos.

Quanto ao enredo, promete mostrar as dores de crescimento, à semelhança de tantos outros, mas é acima de tudo um filme que se coloca “num canto inexplorado da cultura do skate no submundo de Nova Iorque, onde o nihilismo punk dos anos 90 é rendido por uma ética feminista”, descreve Charles Bramesco, na crítica ao filme para o The Guardian. E se para Bramesco a fita não vai além das três estrelas em cinco, no site Rotten Tomatoes o veredicto é bem mais auspicioso.

De resto, o interesse sobre este coletivo feminino vai muito além do filme, e é bem anterior a ele. Já em 2017, a revista Paper dedicava toda uma produção à história das miúdas que se conheceram na escola e nas rampas da cidade, e que conquistaram a atenção de marcas e de nomes sonantes como o músico Pharell Williams. Um belo cozinhado que promete continuar a rolar por aí.

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