Tony Carreira: “A vida tem sido muito generosa”

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Tony Carreira [Fotografia: Gerardo Santos/Global Imagens]

Esta quinta-feira, 25 de julho, estreia-se o documentário sobre a vida e os 30 anos de carreira de Tony. Da história da emigração ao regresso, passando pelo grandes e os pequenos palcos, os plágios e o amor e a ‘não promessa’ de um regresso cabem neste trabalho assinado por Jorge Pelicano.

Mas também cabem as dúvidas: Se sair do cinema com ideia de que o cantor possa estar doente, então, não será nem a única, nem a primeira espetadora a ter essa sensação.

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Certo é que à data do concerto de despedida de Tony, o artista estava mesmo doente. Hoje, as suas circunstâncias são seguramente diferentes. O cantor romântico mostra-se ao seu público que já o conhece, diz que tem saudades de regressar e deixa que as fãs tomem uma parte do palco, num documentário em que a família é uma referência constante, mas que não é, na sua maioria, ouvida para este trabalho.

Porque aceitou fazer este documentário agora?

A primeira vez que me fizeram uma proposta de filme foi há cerca de dez anos. Neste tempo, tive quatro ou cinco convites muito interessantes, mas recusei sempre porque – não sem bem porquê – não me apetecia. Surgiu um realizador que eu não conhecia, o Jorge Pelicano, gostei muito da forma como ele me abordou. Ele conhecia o meu percurso muito por alto, situação que achei interessante, por ter um olhar diferente. Basicamente, o meu mundo passava-lhe um pouco ao lado e o dele a mim. Aceite por instinto, e as grandes decisões que tomei em toda a minha vida foram instintivas. Disse-lhe que ia dar o último concerto da minha carreira de cantor, que iria ser no Altice Arena, e disse-lhe: ‘vem atrás de mim, dou-te total liberdade e faz o que sentes, o que achas e o que é o teu olhar’. Não lhe pedi absolutamente nada e ele apresentou-me o trabalho acabado.

Está mesmo decidido que aquele foi mesmo o último concerto da sua carreira?

Não. Decidi fazer uma pausa, foi apenas nesse sentido. Ele andou atrás de mim em vários países, foi filmando, fez uma recolha de imagens fantástica, desde os meus dez anos. E confesso que gostei do resultado final. É um retrato fiel do meu percurso e dei-lhe os parabéns. Por vezes não é fácil.

“Acho que uma pessoa que se ouve muito deve ter alguns problemas”

Como assim?

Muitas vezes, as pessoas encontram-me no carro e pedem-me um CD autografado e não tenho. Sabe, eu não me oiço muito. Acho que uma pessoa que se ouve muito deve ter alguns problemas. Oiço a minha música como profissional, mas depois não estou no carro a ouvir-me, não faz sentido. Em relação ao filme, foi um pouco a mesma coisa. Ao ver o resultado final, eu estar a ver-me sempre com um olhar muito duro, muito crítico.

Qual a parte que mais gostou lhe custou ver?

O que mais me custou foi o lado emocional, foi sem dúvida a parte do último concerto porque sei o que senti naquele momento, no último minuto em que estive em palco.

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O que sentiu?

Nunca chorei em palco. Podia tê-lo feito, mas nunca chorei. Mas isso aconteceu, no backstage prolongou-se.

[Fotografia: Divulgação]
Há várias imagens, vários planos no documentário que deixam uma ponta solta relativamente à sua saúde. A primeira pergunta que se impôs depois de ter assistido a este trabalho foi se estaria doente. Está?

Se estou doente? Com o meu conhecimento, não. Tenho alguns amigos médicos e eles próprios, alguns, dizem: ‘Não vás fazer exames porque pode haver problemas e é melhor não saberes. O que procuras, encontras’. Posso ter alguma coisa que não saiba, mas que tenha conhecimento, não.

Então, o que se passou?

O concerto acontece numa sexta-feira e na terça anterior estava de cama. Pela primeira vez na minha carreira, achei que teria de desmarcar os dois concertos no Altice Arena. Fisicamente, estava de rastos com uma constipação muito forte e, naquela semana, tomei toneladas medicamentos. O primeiro dia de concerto foi muito difícil, por isso aparece aquela máscara. Estava cansado e recorri ao oxigénio.

Vai voltar aos palcos?

Neste momento não sei. O que falei há oito nove meses mantém-se: não sei.

Tem saudades?

Tenho saudades, claro que sim. E ao ver este filme ainda mais, tem momentos muito bonitos. Continuo a gostar muito de música, mas, falei nisso na altura, preciso emocionalmente de uma pausa. Talvez isso seja uma doença. Tenho algumas fragilidades em mim, de cansaço, preciso fisicamente de recuar e de estar um bocadinho longe dos media, de algumas coisas.

“Talvez isso seja uma doença. Tenho algumas fragilidades em mim, de cansaço, preciso fisicamente de recuar”

Há um deadline? Tem vindo a compor?

Por mais perguntas que faça à volta disso, a resposta vai ser a mesma. O que tinha a dizer já disse em novembro passado. Fico muito feliz quando vejo que as pessoas na rua me pedem para voltar, tenho a prova de que gostam de mim.

Mas as saudades que diz ter podem indicar uma pista…

Podem… Mas vamos falar do Sporting (risos).

Relativamente ao documentário, o que lhe custou mais recordar do seu percurso de vida?

Algumas partes, há momentos das nossas vidas que são difíceis, e isso toca a todos. Não quero falar sobre esses porque, ao falar deles, vou alimentar alguma comunicação social e eu não quero. Prefiro falar dos bonitos e tenho muitos para lhe contar, se quiser.

Como por exemplo?

Olhe, o nascimento dos meus três filhos.

Notei ausência deles no documentário. Eles estão lá, em palco, consigo, mas não são ouvidos a falar sobre o pai, tratando-se de uma biografia. Foi uma decisão sua?

Não. O Jorge se calhar não achou. Essa pergunta terá de lhe ser feita a ele. Não tive nada a a ver com o que ele fez, que é absolutamente fantástico, e que é o olhar dele. Desde fãs, às pessoas que ali estão, quem tomou a decisão de entrevistar aquelas pessoas todas foi o Jorge Pelicano. Se não o fez, está mal. Concordo consigo. Vou falar com ele (risos)

Então, vem aí uma adenda, um Tony 2?

(risos). Não.

Estranhei, tratando-se de uma biografa, a ausência de um olhar da sua ex-companheira, Fernanda, ou dos seus pais.

O Jorge entrevistou muitas pessoas e acho que, a determinada altura, ele teve de escolher um caminho. Mas isso é com ele. Não sinto que haja ali ausências, não sinto que eles não estejam presentes no documentário. E ali o artista sou seu (risos), acho que devo estar mais presente do que eles (mais risos). Não me chamo Mickael, nem David ou Sara. Enfim, estou a brincar. Isso é da responsabilidade do grande Jorge.

Foi também abordado o tema dos plágios.

Decisão do Jorge, também. Abordo isso com a maior das tranquilidades. Só há uma coisa que continuo a não perceber – ou a perceber muito bem -, desde a minha acusação, várias outras pessoas também o foram e não vejo ninguém a falar sobre isso. Dez anos depois, continua-se a falar da mesma coisa. Pronto, já percebi que é um dos castigos que vou ter de levar até aos 90 anos, se cá estiver.

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E levo isto desta forma muito leviana. Entretanto, aparece no filme o próprio autor da música Sonhos de Menino, o produtor Rudy Perez, a dizer que não há problema nenhum. Perguntam agora porque é que não falei com os outros? Portanto, é um castigo que vou ter de carregar durante mais uns tempos.

“Já percebi que [o plágio] é um dos castigos que vou ter de levar até aos 90 anos, se cá estiver”

Tem mais castigos para carregar?

Não (pausa). Por acaso, ainda há pouco tempo brinquei comigo próprio numa fotografia onde tinha 40 anos e acho que não estou nada mal com 55.

Termina o documentário falando do amor…

A vida foi muito generosa comigo e a única coisa que peço à vida e a Deus é que nunca tenha de sofrer com uma doença grave, que nunca tenha de perder uma pessoa muito importante para mim. De resto, por mais dificuldades que a vida traga, a vida tem sido mesmo muito generosa.

O que espera que este documentário lhe possa prazer?

Não espero nada. Só espero é que as pessoas que o vejam, que gostem dele e que esteja à altura das expectativas que criaram. Tenho muito orgulho no trabalho que o Jorge fez, mas isto é como uma canção: podemos gostar muito dela, mas quando a lançamos cá para fora é que as pessoas decidem se é boa ou má.

O que lhe tem dito as fãs neste último ano?

Têm dito coisas muito bonitas, que gostam muito de mim. Têm-me dito que está na hora de voltar e, claro, gosto de ouvir isso. Todos gostam de se sentir desejados. Tenho ido a alguns concertos dos meus filhos, porque tenho tempo. É a prova viva de que as pessoas não ficam indiferentes a essa ausência e isso agrada-me.

Imagem de destaque: Gerardo Santos/Global Imagens

Documentário de Tony Carreira já tem trailer