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Tony Carreira: “Todos os dias vou ao cemitério”

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A dor imensa de perder um filho. Tony Carreira falou pela primeira vez sobre a perda de Sara Carreira, que morreu abruptamente num acidente de viação, em dezembro. Na entrevista tocante que concedeu a Manuel Luís Goucha, na TVI, nesta segunda-feira, 17 de maio, o cantor revelou as várias fases difíceis pelas quais passou nos últimos cinco meses.

“Quando a minha filha partiu foi uma violência extrema, morri por dentro, ainda estou a tentar encontrar alguma vida aqui dentro”, revelou. E prosseguiu: “Bebi mais do que devia, andei ali uns tempos que parecia um zombie. Depois veio alguma violência, fui injusto com pessoas que amo muito, revoltei-me contra o mundo inteiro, neste momento estou à procura de alguma fé, da fé que me resta. Eu que não acreditava na vida depois da morte, hoje agarro-me a esta esperança”, revelou.

Uma dor que não se cala, em que acordar “é o vazio total”, adormecer é a “chorar agarrado a uma almofada”. Tendo ao lado os dois filhos, Mickael e David, Tony revelou mesmo que “a vida claramente não tem sentido”. É por eles que segue porque “a vida tem de continuar”, contou.

Fotografias: Instagram Sara Carreira

“Tenho uma caminho a percorrer, o que me tirou toda esta violência, agressividade, revolta foi eu pensar que tenho que ser tão generoso, tornar-me ainda melhor porque acredito hoje que se há uma coisa para lá disso, será nos anos que me restam, a possibilidade de reencontrar a minha filha”, confidenciou.

Tony fala de si como um homem ”para lá de magoado, com uma ferida sem cura, e obrigatoriamente melhor”. Um pai que todos os dias visita a última morada da filha à “procura de respostas”. “Todos os dias vou ao cemitério porque, até ter outras provas que a procuro ou respostas que procuro, o único sítio onde sinto bem-estar é ali. Falo com ela, faço-lhe muitas perguntas, mas isso fica para mim e para ela. Estou à espera das respostas, espero senti-las no meu coração”, acrescentou.

Olhando para si e para o seu futuro, Tony é claro: “Quero acreditar que o caminho cá já não será assim tão longo. Gostava que não fosse longo, já dizia isso antigamente, mas agora foi acelerado”, afirmou.

Uma partida súbita de Sara Carreira que uniu ainda mais Tony e Fernanda, que estão separados, e os dois filhos, Mickael e David. Uma conversa intimista com Goucha que não esqueceu Ivo Lucas, namorado de Sara e que conduzia a viatura aquando do acidente na A1. “Ele teve a fatalidade de ir ao volante daquele carro”. “Já lhe disse: ‘Não te vou condenar, julgar, ninguém, não há semana que não estejamos com ele. Sempre tratou muito bem da minha filha, a filha amava-o e, se ela me estiver a ver, saberá que não quererá que seja inimigo”.

O cantor tem-se refugiado na música, quer poder voltar aos espetáculos no máximo das suas possibilidades para procurar estar ocupado como forma de vencer a dor. O álbum que preparava para sair em dezembro, mês da inesperada morte da filha mais nova, foi não só adiado como rescrito. E sobre Sara, com Tony a antecipar um dos versos: “Sei que tinhas tantos sonhos que ficaram por aqui, mas enquanto eu puder abrir os olhos aqui estarei para os fazer por ti.” “Só consigo escrever canções para minha filha, tenho-me refugiado muito na música. Apetece-me cantar para ela, fico em paz”, acrescentou.

Uma entrevista com duras críticas dirigidas aos media e ao que têm escrito e ao Ministério Público, que ainda não concluiu as investigações ao acidente mortal. “Dizem que só para agosto, acho desumano. O covid serve para desculpar tudo. Acho desumano tanto tempo, e falo em nome de qualquer pai que passe por isto.”