O aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, nas últimas décadas, teve um efeito positivo na fecundidade, segundo um estudo do PlanApp – Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração Pública
“Ao contrário do que aponta a teoria clássica da economia da fecundidade, no caso de Portugal, o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas, aliado a uma baixa taxa de desemprego, possui uma relação positiva com a fecundidade“, conclui uma análise feita pelo PlanApp com base em diversos indicadores associados à fecundidade, igualdade de género e bem-estar.
Segundo o documento intitulado Como o mercado de trabalho e a igualdade de género influenciam a fecundidade em Portugal, as condições de desigualdade entre homens e mulheres “estão na raiz dos atuais problemas demográficos”.
“Os indicadores de condições materiais estão mais relacionados com a fecundidade do que aqueles que retratam a qualidade de vida”, em particular “a vulnerabilidade económica e o emprego”, que são as áreas mais diretamente relacionadas com as decisões de parentalidade, aponta o estudo.
O agravamento da pobreza, a diminuição involuntária da jornada laboral com perda salarial, o desemprego ou o aumento do peso das despesas com habitação “estão intimamente relacionados com uma queda na taxa de fecundidade“, acrescenta.
A participação da mulher no mercado de trabalho consolidou-se através dos contratos a tempo inteiro, embora a maioria dos homens e mulheres indique como ideal que as mães trabalhem a tempo parcial e os pais a tempo integral.
Para os jovens, de acordo com a análise, a entrada no mercado de trabalho apresenta desafios como a precariedade, os baixos salários e a maior predisposição às jornadas de trabalho em horários atípicos, fatores que, em conjunto com as dificuldades de acesso à habitação, “contribuem para elevar a idade média da saída da casa dos pais” e a idade média da mãe no primeiro filho.
O documento conclui ainda que, entre o total das pessoas que interromperam a carreira em função do cuidado de um filho, “aproximadamente um em cada cinco são homens” e, destes, cerca de 97% fizeram-no por seis meses ou menos, enquanto no caso das mulheres um terço fê-lo por mais de seis meses.
Quanto à questão salarial, a análise refere que o crescimento do salário mínimo na última década aproximou o salário médio entre homens e mulheres mas, ainda assim, “há diferenças salariais significativas, sobretudo entre as diferentes áreas económicas”, o que resulta num menor acesso das mulheres aos recursos financeiros necessários aos projetos de parentalidade.
No campo da conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional, “longas jornadas de trabalho, sejam para pais ou para mães, estão associadas aos contextos menos favoráveis para a parentalidade”, pode ainda ler-se na nota.
Segundo o documento, “há uma tendência de crescimento na insatisfação com a conciliação, sobretudo relacionada com os tempos de trabalho pago e os períodos de trabalho não pago e de lazer.”
LUSA