Três coleções com assinatura portuguesa aplaudidas em Roma

O Guido Reni District, um antigo quartel remodelado em Roma, Itália, encheu-se na tarde de sexta-feira para receber o desfile coletivo de três designers portugueses: a marca Pé de Chumbo, o jovem Estelita Mendonça e Susana Bettencourt. No evento Alta Roma, onde o Portugal Fashion participa pela segunda vez, os criadores nacionais apresentaram coleções dentro do estilo a que cada um nos tem habituado, recheadas de ousadia e personalidade.

A marca Pé de Chumbo, de Alexandra Oliveira, abriu o desfile com uma coleção de 20 coordenados com mais cor do que é habitual. Além dos já comuns preto e cinzento, a marca nacional apresentou peças bege, azuis e verdes.

“Nesta coleção metemos mais cor. Temos sempre três temas, uma parte mais sportswear, outra mais festa, fazemos sempre festa, e um casual chique. Estamos em vários mercados e tentamos abranger a oferta”, explicou aos Delas.pt Alexandra Oliveira.

Para o look mais festivo, a marca nacional apresentou peças com um brilho subtil nos rendados com folhos. Já as peças do tema casual chamaram a atenção pelas lãs grossas com várias cores e riscas. Neste look reinaram os camisolões e os vestidos soltos em tiras de malha, para usar em ambientes mais descontraídos.

Apesar de a Pé de Chumbo comercializar muito para o Médio Oriente, Alexandra Oliveira explicou que não têm a preocupação de fazer peças mais recatadas para serem usadas por essas mulheres.

“O que acho estranho é que elas compram tudo igual aos outros países. Gostam de coisas compridas, de vestidos de festa, mas também depende do país. Há países em que, se a peça for muito decotada à frente, pedem para subir, mas atrás podemos decotar. Isso surpreendeu-me muito. Às vezes até me pergunto onde é que elas vão vestir algumas peças”, afirmou a fundadora da marca Pé de Chumbo.

Estreia de Estelita Mendonça com forte mensagem social

O jovem Estelita Mendonça estreou-se neste evento da Semana da Moda de Roma com 20 coordenados que transmitiram uma mensagem social forte e interventiva, como já vem a ser hábito por parte deste designer português. Ao contrário da Pé de Chumbo e de Susana Bettencourt, Estelita apresentou uma coleção para homem.

Em todas as peças houve uma clara aposta nos materiais reciclados. A crise dos refugiados, já abordada pelo jovem em coleções anteriores, foi representada por capas, parecidas com cobertores e sacos-cama, feitas a partir de desperdício de algodão, dando a ideia de que quem as veste é alguém em constante movimento.

“Alguma reciclagem, tanto a nível de cobertores como sacos-cama. Depois tens alguns materiais que são feitos a partir de garrafas de plástico derretidas e trituradas. Há uma componente de reciclagem muito forte apesar de eu não ser um eco designer, não é essa a ideia”, sublinhou Estelita Mendonça.

O Brexit, a eleição de Donald Trump nos EUA, a crise social e política na Rússia, o impeachement presidencial no Brasil e o Estado Islâmico também estiveram presentes nas várias peças através de logótipos criados pelo designer Eduardo Vascov.

“É uma coisa bastante presente na minha marca desde o início. Claro que a mensagem política continua cá e desta vez ainda é mais enfatizada. Houve trabalho com um designer gráfico para fazer algumas impressões e brincadeiras com logos de empresas e políticas mais fortes”, disse o jovem designer português.

Apesar de a maquilhagem ser também um dos trabalhos de Estelita Mendonça, nesta coleção masculina o criador nacional não apostou num homem muito maquilhado e explicou porquê: “O homem da minha marca é um homem que não aposta demasiado num look make up. Portanto, a maquilhagem é sempre clean, os cabelos não saem muito da mesma coisa. É o tipo de imagem que a minha roupa precisa”, reforçou.

Uma coleção de roupa inspirada no Instagram

Susana Bettencourt, a designer portuguesa que já vendeu peças a Lady Gaga, apresentou a coleção WEAR’ART (Usa Arte, em português), inspirada na rede social Instagram. E como é que se faz uma coleção de roupa inspirada numa rede social? Susana explica.

“Há uma parte da coleção, a parte dos pretos, que até foram duas ou três fotografias da Alyssa, uma Instagramer de arte de rua, que me inspiraram. Não há grande colaboração, o que lhe disse foi: “Vou inspirar-me na tua arte, vou fazer e depois envio-te uma sweater para tu usares”. Peguei na arte dela e transformei-a em roupa para as pessoas usarem, daí termos algumas peças que dizem mesmo WEAR’ART”, ressalvou Susana Bettencourt.

Nesta coleção viu-se uma grande aposta nas figuras geométricas e comprovou-se que a criadora nacional continua a cruzar a tecnologia com uma vertente mais artesanal.

“Não me sei expressar de outra forma, é mais isso. O trabalho de mão são as minhas origens. Para se perceber de malha tem de se perceber como se faz malha à mão. Faço malha desde os cinco anos e só percebendo todo o trabalho é que agora consigo fazer a programação a nível de computador, os vestidos são todos nossos”, afirmou a designer portuguesa.

Daqui para a frente, Susana Bettencourt não quer usar o Instagram apenas para se inspirar, mas também como plataforma de venda.

“Tenho muito isso em conta. Todas as marcas e todos os designers devem ter em conta o Instagram e o Facebook. Quando me perguntam qual a importância dos prémios ou de estarmos aqui, eu digo que é tão significante como as vendas que traz”, acrescentou a criadora.