Tribunal vai exibir imagens das violações de Gisèle Pelicot. Vítima critica que o faça à porta fechada

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Gisèle Pelicot acompanhada pelo advogado Stephane Babonneau [Fotografia; Christophe SIMON / AFP]

Para o advogado de Gisèle Pelicot, mulher de 71 anos drogada pelo marido, Dominique Pelicot, durante dez anos para ser abusada sexualmente por outros homens, não há que ter medo da verdade. Por isso, defende que as imagens das sucessivas violações devem ser exibidas publicamente, contrariando a decisão do tribunal de Avignon, França – onde decorre o julgamento -, que quer fazê-lo à porta fechada e longe do olhar do público.

“Não há necessidade de temer enfrentar a violação, como fez Gisèle Pelicot quando decidiu assistir a estes vídeos pela primeira vez“, justificou o advogado da francesa, Stéphane Babonneau, no dia em que o tribunal decidiu fechar as portas aquando da exibição de provas.

Num julgamento, que tem sido público e que traz à luz a violência sexista e a submissão química de uma mulher às mãos do seu marido e agressor, Dominique Pelicot, o causídico lembra que “é preciso ter a coragem de enfrentar” a realidade da violação neste processo que “deve mudar a sociedade”. Aliás, a propria vítima Gisèle pediu que todo este processo fosse público por forma a que “a vergonha mude de lado”.

Recorde-se que Gisèle Pelicot, de 71 anos, foi drogada durante uma década pelo então marido Dominique Pelicot para que fosse violada por dezenas de estranhos. Agora, o agressor e mais 50 acusados enfrentam a possibilidade de uma pena de 20 anos de prisão durante o julgamento em curso.

Embora, nos últimos dois dias, o tribunal tenha exibido as primeiras imagens e vídeos dos violações, sem plateia mas com a presença da imprensa, o presidente, Roger Arata, decidiu que a partir de agora a exibição acontecerá a portas fechadas, devido ao caráter “indecente e chocante” das imagens, justificou.

Apenas magistrados, advogados, réus e partes civis poderão visualizar os vídeos e fotos, que Dominique Pelicot gravou entre 2011 e 2020, desde que uma ou mais partes o solicitem.