Trissomia 21: “A Madalena é muito coquete, feminina, é muito mulher”

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“O nosso primeiro grande momento a duas acontece depois de todos saírem de casa de manhã e irem para as suas vidas”. Na verdade, o pequeno-almoço em casa de Bibá Pitta é feito com Madalena, 20 anos, com Trissomia 21. “Acordo-a ou ela aparece no meu quarto para me dar os bons dias e ficamos juntas até ela ir para a escola”, acrescenta.

“Ela penteia-se, lava os dentes sozinha, fez a sua higiene, veste-se sozinha. Mas, curiosamente, antes de sair do quarto, já fez a cama dela. É a única, de entre cinco irmãos, que sempre a fez e faz”, revela a mãe, entre o orgulho e o sorriso. “A Madalena é muito coquete, feminina, é muito mulher”, sorri. Um relato emocionante que chega no dia em que se evoca mundialmente a Trissomia21, quarta-feira, 21 de março.

Bibá Pitta com a filha Madalena, 20 anos [Fotografia: Facebook]

Frequentando uma escola pública, a Escola Básica e Secundária Ibn Mucana, em Alcabideche, Madalena comparece às aulas um pouco mais tarde, pelas dez da manhã, sem comprometer os horários da turma em que está inserida.

“É uma miúda que tem evoluído imenso com a ajuda dos professores, da equipa de ensino especial, de todo o ambiente. E não é só a Madalena que é diferente, há mais dois alunos – a Sara e o Diogo, com patologias diferentes – e todos esperam uns pelos outros para o recreio ou para almoçar”, refere Bibá Pitta.

No fim do dia e com a chegada a casa, Madalena gosta de ver as suas séries e novelas, por vezes relata os episódios aos irmãos, mas também participa ativamente nas tarefas que se impõem àquela hora, como ajudar no jantar ou pôr a mesa. “Dizem que ver televisão faz mal, é um mau hábito. Mas será?”, inquire a mãe de Madalena. “As outras pessoas também jogam, têm consolas, estão no telemóvel. E é bom?”, prossegue, justificando depois: “Ver televisão ajudou a Madalena a desenvolver a fala. E quando via a série Violetta, em espanhol, passou a dizer, de repente, imensas coisas em castelhano”, recorda.

Bibbá Pitta com o marido e os cindo filhos [Fotografia: Global Imagens]
A noite na família não termina sem um momento especial: “Ela tem uma particularidade amorosa, que é só dela: não se deita, sem nos aconchegar na cama – à mãe e ao pai – e dar um beijinho a cada um. É um amor de pessoa, um bom ser humano. Não é por ter um cromossoma a mais ou a menos. Ela tem um bom coração.”

Fazer equitação, dançar e ser modelo

Até há pouco tempo e quando as quintas-feiras não eram tão preenchidas, Bibbá e Madalena iam para o Academia Equestre João Cardiga para as aulas de equitação. “Hoje em dia é mais complicado porque esses dias estão mais preenchidos”, justifica Bibbá. Há, porém, outras atividades que para Madalena, mesmo diante a sua condição, são imperdíveis, provando que não são, afinal, inacessíveis. “Ela dança kizomba como ninguém, é um gosto vê-la. Adora sair e convidam-na sempre porque sabem que ela aprecia, usufruiu muito desses momentos”.

A moda tem sido, para a filha de Bibá, um caminho possível. “Ela gosta de estar bonita. É modelo fotográfico e de passerelle também. Já fez variadíssimas fotografias, fez uma campanha para o Boticário para o Dia da Mãe e já representou uma marca portuguesa”, relembra a mãe, que conta que a carreira de Madalena, “indo de vento em popa”, tem ainda muito por onde se revelar. “Adorava que ela fosse a uma ModaLisboa, a um Portugal Fashion, uma coisa à séria, onde mostrasse os seus dotes de modelo, mas pudesse também ser voz pela integração e pela diferença”.

Ciente das especificidades e das realidades, Bibbá conta que “todos os seus cinco filhos são diferentes. Porque se fosse iguais, tinham as mesmas asas”.

No entanto, prossegue, “as da minha Madalena são mais pequeninas, mas estou cá para compor o resto. Sempre do lado dela”. Um acompanhamento que começou por ser feito pelo pai e pela mãe, mas que hoje conta com o parecer dos quatro irmãos. “Tudo o que diz respeito à Madalena é hoje discutido entre todos lá em casa, todos participam e todos têm uma palavra a dizer”, termina Bibá Pitta.

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