Carmo Teixeira Turquin é secretária-geral e cofundadora da Associação Pais21-Down Portugal e conta, na primeira pessoa, como foi ser mãe, mulher e educadora de um filho que é portador do Síndrome de Down.
Um caminho que foi feito pela promoção da independência de Henri, atualmente com 27 anos e que é tratador de cavalos, e que tem hoje direito pleno à sua vida e liberdade. Como todas as outras pessoas.
No dia mundial dedicado aos que vivem esta condição – evocado esta quarta-feira, 21 de março -, o Delas.pt recolheu testemunhos de quem lida com esta realidade
Leia o de Carmo Teixeira Turquin:
“Se não fosse o olhar dos outros, a verdade é que, no dia-a-dia, até me esqueço que o meu filho tem trissomia 21. Para mim, é um filho como os outros, que trabalha, apanha transportes, adora música, gosta de sair, tem namorada, enfim, faz tudo aquilo que fazem os jovens da idade dele.
Fui uma mãe jovem, tinha 28 anos quando nasceu o meu primeiro filho. Contra qualquer previsão, o Henri nasceu com trissomia 21. (um acidente cromossómico). Hoje, com 27 anos, vive a sua vida.
Este ano, o Henri e o seu irmão mais novo de 22 anos, o Afonso, são a cara da campanha “vivo a minha vida como tu” da Associação Pais21-Down Portugal, da qual fui cofundadora. Pegar na minha experiência pessoal para ajudar novos pais tornou-se um grande objetivo. Se pudermos mostrar como é a vida dos nossos filhos com trissomia 21, se a pessoas souberem que com o devido apoio têm uma vida plena, possivelmente não terão tanto medo, quando receberem o diagnóstico de trissomia 21.
“No meu dia-a-dia de mãe, igual ao de tantas outras mães, penso muitas vezes na sorte de o termos na nossa vida e de podermos desfrutar da sua generosidade e boa disposição”
Foi também esta a ideia que esteve na base da campanha para assinalar o dia da Trissomia 21 da Associação Pais21. Apostamos na imagem de jovens com t21 e seus irmãos para mostrar que aquilo a que aspiram é o mesmo. Todas as pessoas têm objetivos, desejos, sonhos, amores e desamores, independentemente de terem ou não trissomia 21 e nós devemos apoiar para que todos possam ter uma vida plena. Queremos que as pessoas tenham consciência que os jovens com t21 se apresentam à vida da mesma forma que os seus irmãos. A vontade de aprender, de trabalhar, de namorar… Cada um dos meus três filhos vive a sua vida.
Desde que o Henri nasceu sempre o tratamos como aos seus irmãos. Claro que, nos primeiros anos, dedicámos mais tempo à sua estimulação e terapias, mas o facto de sempre ter frequentado estabelecimentos de ensino regulares e de nunca lhe termos colocado barreiras fez com que fosse ultrapassando cada etapa de vida com muita perseverança, ganhando competências e autonomia que lhe permitem trabalhar e ser um homem como os outros.
A minha família e a minha vida não seriam iguais se não tivéssemos junto de nós o Henri. Ele é para todos um exemplo de boa disposição, generosidade e empenho em tudo o que faz.
No meu dia-a-dia de mãe, igual ao de tantas outras mães, penso muitas vezes na sorte de o termos na nossa vida e de podermos desfrutar da sua generosidade e boa disposição. Somos, de facto, uma família especial, mas por termos a sorte de, no meio de nós, haver também uma pessoa especial que é um exemplo de vida para todos.”
Testemunho editado por CB