Trufas e um convento à venda colocam monjas clarissas em risco de excomunhão, em Espanha

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[Fotografia: Pexels/Chrisjphn]

Requisitadas por chefs doceiros e marcas ultraexclusivas, as 16 monjas clarissas do norte de Espanha que se têm celebrizado pela doçaria e chocolataria exclusiva que fazem artesanalmente e comercializam – chegam a vender quase dois mil quilos de trufas pelo Natal – estão agora no epicentro de um cisma religioso que está a abalar Espanha.

Na segunda-feira, 13 de maio, comunicaram que tinham decidido abandonar a Igreja Católica para passarem a estar sob jurisdição de Pablo de Rojas Sánchez-Franco e da sua organização Pía Unión Sancti Pauli Apostoli. Uma decisão que coloca agora as Clarissas de Belorado (Burgos) e Orduña (Biscaia) em rutura com o Vaticano uma vez que a Igreja tinha já excomungado o fundador daquela congregação, em 2019. Ao fazerem um movimento desta natureza, as monjas arriscam sanção semelhante.

No comunicado citado pela jornal Diário de Burgos, a abadessa Isabel de la Trinid explica que a decisão de abandono se deve a atos de “perseguiçao” que dizem estar a sofrer de todos os quadrantes por o Vaticano não lhes dar “licença para vender o convento de Santa Clara em Derio, Bilbao”, que está vazio. Tal impede-as de, segundo o jornal espanhol Publico, comprar o mosteiro de Orduña, na diocese de Vitória, e sobre o qual já tinham estabelecido um contrato de compra e venda, rescindido, alegam agora, após três anos.

“Esta coisa da propriedade deve ser muito interessante para alguns, já que aparece como pano de fundo de artimanhas de que temos sido objeto estes anos. É um modus operandi desmontar comunidade de ‘linha tradicional’ e ficar com os imóveis para os vender. Temos conhecido já bastantes casos”, lê-se no comunicado assinado por Isabel de la Trinidad e em nome das 16 monjas que residem no convento de Belorado.

Ora, segundo avança a imprensa espanhola, a intenção de compra do Mosteiro de Orduna terá sido firmada em outubro de 2020, por 1,2 milhões de euros e com o compromisso de pagamentos semestrais de 75 mil euros por parte das monjas clarissas a começarem a 1 de novembro de 2022. Porém, a autorização do Vaticano para vender as instalações de Derio não terá chegado e a abadessa terá encontrado um comprador com o compromisso de a comunidade de Belorado ter permissão de usufruto do imóvel até que conseguisse a verba resultante de Derio. A solução não terá agradado e o tempo de espera fez o resto.

[Fotografia: Captura de ecrã]
A resposta a esta decisão das monjas clarissas não se fez esperar. Em comunicado conjunto do Arcebispado de Burgos e de Vitória, os representantes oficiais de Igreja dizem-se surpreendidos e negam ter recebido qualquer comunicação oficial por parte das Clarissas, remetendo estas matérias superiormente.

Ao mesmo tempo, foi ainda pedido pela igreja de Espanha aos fiéis que não participem em atos litúrgicos ministrados nos mosteiros de Santa Clara de Belorado e Orduña e dito às monjas que, caso recusem a disciplina da Igreja e sigam para a organização Pía Unión Sancti Pauli Apostoli arriscam o delito de cisma, cuja sanção máxima é a excomunhão.

Mas o que defende esta corrente rejeitada pelo Vaticano e fundada por Pablo de Rojas Sánchez-Franco, com 43 anos? Segundo o jornal El Mundo, o criador da Pía Unión Sancti Pauli Apostoli autodenomina-se duque imperial, príncipe do Sacro Império Romano-Germânico, defensor do extinto regime fascista franquista, em Espanha, e segue os estatutos de Josémaria Escrivá de Balaguer, fundador da Opus Dei. Não reconhece legitimidade a nenhum papa desde João XXIII até à atualidade nem a nenhuma das decisões tomadas desde 1958.