Conheça a mulher que quer limpar a imagem do turismo na Tailândia

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Está há três anos no cargo de ministra do Turismo e do Desporto, na Tailândia. Kobkarn Suriyasat Wattanavrangkul é mulher e uma das primeiras ações que tomou, assim que chegou ao executivo, passou por olhar de frente para as zonas de resort onde a prostituição ilegal mais se fazia notar: Pattaya. Medidas de um projeto-piloto que vão ser alargadas a outras cidades costeiras no território.

A propósito da campanha turística que quer trazer mais mulheres a viajar sozinhas ao reino, Wattanavrangkul explica em entrevista ao Delas.pt o porquê desta ação. Como mulher, vejo tudo de uma determinada perspetiva, e como mulher que viaja – como mãe de uma filha jovem – compreendo pessoalmente a importância da segurança na forma como tal modela a experiência de viagem de uma pessoa”, vinca.

Nesta mesma conversa, a governante explica o que está e deverá ser feito para reverter e acabar com a imagem da Tailândia associada à prática ilegal e anuncia as campanhas que estão a ser preparadas.

Disse recentemente que a Tailândia recebeu 17,32 milhões de turistas na primeira metade do ano. Quantas eram mulheres e quantas viajaram sozinhas?
O departamento do Turismo, do Ministério do Turismo e do Desporto ainda não divulgou os dados pelo segmento feminino de 2017. Os dados mais recentes de que dispomos são de 2015, ano em que a Tailândia recebeu 14,5 milhões de mulheres viajantes, mais 35,56 % do que 2014. O número representou 48,34% da quota de mercado de um total de número de visitantes de 29,92 milhões.

Ser mulher e ministra foi decisivo nas escolhas feitas relativas aos planos de turismo para a Tailândia? Porquê e em quê, especificamente?
Houve muitos fatores que contribuíram para os desafios que escolhemos abordar e a forma como olhamos o mundo e o género desempenhou, com certeza, um papel, mas sendo mãe e líder em vários campos, esses fatores também fizeram parte.

Como mulher?
Como mulher, vejo tudo de uma determinada perspetiva, e como mulher que viaja – como mãe de uma filha jovem – compreendo pessoalmente a importância da segurança na forma como tal modela a experiência de viagem de uma pessoa. Dito isto, como ministra do Turismo e do Desporto, tenho-me dedicado a garantir que a Tailândia é um refúgio seguro para todos os visitantes, independentemente das crenças e do passado de cada um, seja mulher ou homem, seja jovem ou velho.

Ministra do Turismo e do Desporto na Corrida da Mulher de Banguecoque, em setembro [Fotografia: Facebook]

Como decidiu, então, implementar os planos?
A forma como tudo isto impactou os planos que iniciei, em 2016, a Autoridade do Turismo da Tailândia (ATT) criou a campanha da Women’s Journey concebida para atrair mulheres visitantes locais e internacionais até ao país e melhorar a Imagem positiva do reino como um dos destinos da Ásia mais amigáveis para as mulheres. A campanha mostra como as viajantes femininas podem desfrutar dos nossos produtos e serviços únicos quando visitam a Tailândia em agosto. A ATT lançou muitas outras atividades como parte da campanha, incluindo de golfe para mulheres, celebridades femininas na Tailândia, o país visto pelos olhos das mulheres, o sexo feminino nos tecidos e as mulheres bloggers. Com uma oferta larga de produtos e serviços que podem responder às necessidades das mulheres, a Tailândia pode ser, definitivamente, o destino ideal. Tudo isto complementa campanhas prévias, em que o ATT se focou nos públicos em geral, como por exemplo, o reconhecido programa “Amazing Tailand”, “Discover Thainess” e outros.

Como é possível convidar as mulheres para irem até à Tailândia, sozinhas, e dizer que é seguro. Como tudo isto se conjuga com as questões da prostituição?
A Tailândia está mais do que preparada para dar as boas-vindas a todos os viajantes e eu quero, pessoalmente, assegurar de que encontrarão um destino de férias amigo das famílias. A Tailândia reconhece a imensa importância do turismo, e a segurança dos turistas tem sido e é uma prioridade para nós. O governo tailandês, e a nossa equipa da ATT – em conjunto com as autoridades recalcionadas e com o setor privado – estão a trabalhar em conjunto para garantir a segurança dos turistas que, claro, inclui as mulheres. Isso é uma missão pessoal que tenho. Assim que assumi o cargo de ministra, em 2014, comprometi-me a limpar a imagem do turismo na Tailândia, começando pela cidade resort de Pattaya.

E o que está a ser feito?
Aí, lançámos recentemente a ‘Happy Zone’ (Zona Feliz, em tradução literal) para melhorar a imagem da cidade, e revitalizar o seu papel como destino das famílias e um centro para desportos ativos. Estamos a olhar para este projeto como piloto e como esforços semelhantes que vão ter lugar noutros grandes destinos turísticos da Tailândia. Os visitantes da Happy Zone notarão que a zona se sente mais segura, com mais patrulhas de segurança, contando também com a cooperação dos operadores de negócios para instalar sistemas de videovigilância fora das suas propriedades. No caso improvável de os turistas experienciarem quaisquer incidentes infelizes, eles são encorajados a entrar em contacto imediato com a Linha Direta da Polícia Turística (1155) e podem ter a certeza de que as autoridades farão todo o possível para dar a assistência necessária. Também estamos a tentar chegar às mulheres viajantes através da campanha da Women’s Journey, em agosto.


Leia mais sobre esta campanha turística dirigida às mulheres aqui


Assim, logo que aterram, as viajantes notarão as vias rosa dedicadas nos serviços de estrangeiros e nas zonas de estacionamento dos aeroportos internacionais.

A Tailândia estaria a lutar contra a prostituição da mesma maneira se os ministros do turismo fossem homens? Creio que a erradicação da prática ilegal era uma das primeiras medidas assim que entrou em funções… ter sido a primeira mulher no cargo a fazê-lo é apenas uma coincidência?
Como executiva nomeada na equipa do primeiro-ministro Prayut Chan-o-cha, sei que esta é uma prioridade para todo o governo, e tenho a certeza que esta importante questão social não está apenas a ter lugar devido ao meu papel. Na verdade, mais amplamente, o governo real tailandês tomou um número de fortes medidas para fortalecer a imagem positiva do país, através da introdução do Thailand. 4.0. Todas essas iniciativas não só beneficiam a economia, mas também contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos tailandeses.

O que está a fazer – no presente e para o futuro – relativamente à prostituição ilegal feminina e de crianças? Pode dar-nos algumas medidas detalhadas do que está a tentar implementar?
O Ministério do Turismo e do Desporto, a par de outras entidades governamentais, incluindo o Ministério do Desenvolvimento Social e da Segurança e a polícia real tailandesa estão a colaborar de perto para tomar ações no sentido de assegurar um ambiente de boas-vindas e segurança a todos os turistas – e estamos a levar isto mesmo muito a sério. A prostituição é ilegal na Tailândia há mais de 70 anos. Ao fazer tudo o que posso e tenho possibilidade como ministra – e recolhendo apoios dos meus colegas [de governo], estou confiante de que estamos a ter fortes progressos. Quando assumi funções, em 2014, comprometi-me a revitalizar a imagem do turismo da Tailândia através de campanhas destinadas a mostrar o Reino como um “destino de lazer de qualidade”. Esta ideia alargou-se para passar a acomodar experiências locais únicas como festivais e eventos de cariz patrimonial, dando aos turistas muitas oportunidades para desfrutar o melhor da “Terra dos Sorrisos”. Outro exemplo prático de como os viajantes podem beneficiar disto chega com o lançamento de Pattaya como Happy Zone, como projeto-piloto a implementar por todo o país.


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O que deve ser mudado nas medidas governamentais para pôr fim à prática? O que deve mudar no sociedade tailandesa? E o que deve mudar nas pessoas que visitam a Tailândia e que o fazem como turismo sexual?
Pessoalmente acredito que os visitantes vêm à Tailândia para conhecer e experienciar a nossa bela cultura e património. Criando um ambiente em que todos os turistas podem desfrutar de segurança e conforto são as prioridades do governo, e enquanto ministra do Turismo e do Desporto espero mostrar a nossa cultura e património através de campanhas cativantes.

A campanha Women’s Journey terminou em agosto, mas que outros planos estão a ser preparados por vós? Por exemplo, no que diz respeito ao turismo médico? Ou outros?
Aproveitando o sucesso desta campanha e de outras, o Ministério do Turismo e do Desporto espera apoiar a ATT nas próximas. O foco da autoridade será sobre grupos claramente definidos de visitantes em todo o mundo, que vão desde os que visitam o país pela primeira vez, a viajantes frequentes, a seniores até aos que procuram lifestyle, tais como, entusiastas do desporto ou aficionados por gastronomia. A ATT quer atingir nichos de mercado, incluindo aqueles que querem vir casar-se ou vir de lua-de-mel, mas também adotar o compromisso de tornar a Tailândia no destino perfeito para as mulheres viajantes e cultivar a reputação do país como um dos destinos preferidos do mundo. A ATT lançou recentemente a campanha “Amazing Thailand Tourism Year 2018”, que vai arrancar a 1 de novembro – e que se estende até 1 janeiro de 2019. Esta será uma oportunidade para mostrar a capacidade da Tailândia como boa anfitriã para os nossos visitantes.

Carla Bernardino
Imagem de destaque: DR