Turquia: Mulheres de jornal digital feminista pró-curdo sob ameaça

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Jinnews, a única publicação digital na Turquia cuja redação é constituída apenas por mulheres, luta pela sobrevivência, depois de já ter sido encerrada duas vezes e proibida de publicar sete vezes por “propaganda terrorista”. As autoridades acusam a Jinnews, que publica em várias línguas, entre as quais turco, curdo e inglês, de fazer propaganda para o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um organismo classificado como terrorista por Ancara e seus aliados ocidentais.

Seis inquéritos foram abertos em tribunais por todo o país, mas a Jinnews defende-se rejeitando qualquer “propaganda terrorista” e afirmando que o conteúdo das suas publicações resulta apenas da liberdade de imprensa.

Imagem do site de informação feminino Jinnews [Fotografia: DR]

Criado a 8 de março de 2012 com o nome de Agência de Notícias Jin (palavra que significa mulher, em curdo), este órgão de comunicação social que só contrata mulheres foi pela primeira vez encerrado em outubro de 2016, por decreto-lei, alguns meses após o golpe de Estado falhado de 15 de julho contra o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Mas a equipa, então composta por cerca de 60 elementos em todo o país – para produzir texto, fotos e vídeos -, decidiu continuar a publicar, sob um novo nome, antes de ser novamente impedida de o fazer, em agosto de 2017, e de renascer sob o nome de Jinnews.

“Batemo-nos pelas mulheres enquanto mulheres que somos”

Em Diyarbakir, principal cidade do sudeste de maioria curda da Turquia, dois elementos da equipa da publicação digital deambulam pelas ruas: Beritan Elyakut, de câmara de vídeo na mão, e Safiye Alagas, pronta a disparar a máquina fotográfica, preparam uma peça para 8 de março, o Dia Internacional dos Direitos das Mulheres. “As mulheres são perseguidas, e o nosso dever enquanto agência de informação é fazer com que se saiba. Batemo-nos pelas mulheres enquanto mulheres que somos”, explicou Safiye Aladas, para quem a Jinnews se “tornou um alvo”.

O endereço da Jinnews foi bloqueado em janeiro por causa de um artigo sobre agentes dos serviços secretos turcos que o PKK afirma ter detidos no Iraque, uma captura jamais confirmada pelas autoridades turcas.

As autoridades condenam igualmente a cobertura pela publicação digital da ofensiva lançada por Ancara no enclave sírio de Afrine, contra uma milícia curda considerada pela Turquia uma extensão na Síria do PKK, mas aliada dos Estados Unidos na luta contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI). Atualmente, a publicação digital conta apenas 25 trabalhadores, oito dos quais em Diyarbakir, e só publica nas redes sociais, já que o seu ‘site’ da internet, bloqueado na Turquia, só é acessível via “redes privadas virtuais” (VPN).

Se a queixa judicial que apresentou for decidida a seu favor, a agência de notícias feminina poderá manter o nome Jinnews; caso contrário, terá de procurar um outro para garantir a sua sobrevivência, explicaram os jornalistas. Muitos meios de comunicação curdos ou pró-curdos foram encerrados desde a instauração do estado de emergência no país, a seguir à tentativa de golpe de Estado, imputada por Ancara ao clérigo Fethullah Gülen, residente nos Estados Unidos da América e que nega qualquer envolvimento.

Há também dezenas de jornalistas na prisão, o que leva a Turquia a ocupar o 155.º lugar em 180 na lista sobre liberdade de imprensa no mundo elaborada pela organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

CB com Lusa

Imagem de destaque: Shutterstock