Fazer uma sopa a cada dia da semana já custa quase 4,5 euros a mais desde 2022

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[Fotografia: Pexels/Foodie Factor]

Uma sopa simples com batata, cenoura, couve coração, cebola e um pouco de polpa de tomate, para uma família regular de quatro pessoas e sem sobras, já custa por dia mais 63 cêntimos, em apenas um ano. Trata-se da solução alimentar mais simples que existe para os agregados e que, pelas dosagens apresentadas, obrigam a que seja feita uma todos os dias, totalizando um aumento de 4.41 euros pelos sete dias da semana, excluindo o aumento do custo da energia. Nestas contas, não há carne, nem peixe, nem ovos, nem arroz ou massa, preços que igualmente dispararam e estão a por as famílias a braços com os gastos.

E se a invasão da Ucrânia pela Rússia têm feito disparar o valor global de um cabaz de compras de bens alimentares, este fator está longe de ser o único que está a promover um aumento de preços dos alimentos quase três vezes acima da inflação anual – que foi de 7,8% em 2022 segundo o Instituo Nacional de Estatística.

Somam-se os relatos, denúncias, contraordenações e queixas-crime contra cadeias de venda de bens alimentares a fazerem disparar os valores a pagar não só na linha de caixa – face ao que estava marcado – como na alegada especulação de preços, com lucros impressionantes para os retalhistas.

Olhando ao detalhe para os preços, a mesma sopa – proposta por uma grande cadeia de hipermercados – com 240 gramas de batata, outro tanto de cenoura, 200 de cebola, 80 de couve coração e ¼ de polpa de tomate custava, em fevereiro de 2022, 92 cêntimos. Atualmente, e de acordo com o dados semanais da DECO Proteste, o Delas.pt revela que a mesma ementa já vai em 1,55 euros, assumindo, claro, que será difícil alimentar uma família apenas com este menu. Mas se o tivesse de fazer, ao fim de uma semana a carteira já estava mais leve em quase quatro euros e meio.

E ainda que a inflação esteja a abrandar há quatro meses consecutivos, esse item – a par de tantos outros – não parece estar a entrar no carrinho de compras das famílias. De acordo com os dados da associação de consumidores, um cabaz básico com 63 produtos alimentares essenciais na despensa da maioria das famílias – onde se incluem os da receita – pode custar atualmente 230,38 euros, o valor mais alto de sempre desde 5 de janeiro de 2022.

Segundo a mesma entidade, “se compararmos o custo total do cabaz esta semana com o preço registado a 23 de fevereiro de 2022, véspera do início da guerra na Ucrânia, a subida foi de 25,46%, ou seja, mais 46,75 euros por exatamente os mesmos produtos”, refere a nota emitida pela DECO. Entre os preços de alimentos que mais dispararam num ano, “uma cesta com frutas e legumes já sofreu um aumento de 34,16%, custando atualmente mais 8,06 euros, ou seja, 31,67 euros”.

Contas da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) nesta quinta-feira, 9 de março, e para um cabaz mais reduzido, o aumento foi de 29% desde 2022 e até fevereiro deste ano para 96,44 euros. Neste caso, o cabaz é composto por bens essenciais, nomeadamente peixe, carne, legumes, frutas, massas, arroz, azeite, óleo, ovos açúcar, leite, pão e farinha.

Especulação. ASAE detetou margens de lucro acima de 50% na cebola

A autoridade realizou, desde o segundo semestre de 2022, mais de 960 ações de fiscalização e vai iniciar esta quinta-feira, 9 de março, uma nova operação, em todo o país, com as suas 38 brigadas.

Neste âmbito, instaurou 51 processos-crime por especulação em fiscalizações e detetou margens de lucro superiores a 50% na cebola. A ASAE moveu ainda 91 processos contraordenacionais, no âmbito destas ações que decorrem desde o segundo semestre de 2022.

Em conferência que está a decorrer nesta manhã de quinta-feira, o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, vincou estar a equacionar medidas “musculadas” para o setor. “Estamos a equacionar todas as opções, inclusive as mais musculadas, mas queremos tomar essas medidas na posse de toda a informação recebida”, assegurou em conferência de imprensa, em Lisboa.

O governante afirmou não ser muito favorável à imposição de preços ao mercado, notando que o ideal seria a autorregulação. Defendeu que o ideal seria chegar a uma fase em que o sistema e os próprios operadores respondem e assumem “a responsabilidade social de ter cabazes de produtos mais baixos […] e publicitam os produtos essenciais que vendem de forma mais em consonância com o que os consumidores esperam”.

Costa Silva reiterou que todas as opções estão em aberto e que o Governo está a olhar para elas, acompanhando a experiência de países como Espanha, França ou Grécia.

Questionado sobre a diferença entre o valor pago ao produtor e o preço para o consumidor final, o titular da pasta da Economia e do Mar disse que é importante sentar a produção, transformação e a distribuição à mesma mesa para chegar a uma conclusão, uma vez que, no momento, “cada uma elas tem a sua narrativa”. Contudo, para António Costa Silva “não podem existir três narrativas, mas uma verdade objetiva”, com base em “factos, números e equações”.