Uso de fato de banho que cobre todo o corpo levanta debate no Egito

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A maioria das mulheres no Egito usa um lenço na cabeça e as autoridades religiosas recomendam que o façam. Mas as mulheres que usam lenço na cabeça ou burkini (fato de banho que cobre todo o corpo) enfrentam discriminação e desprezo em alguns círculos da classe alta, onde esse tipo de vestuário é visto como retrógrado e de classe baixa.

As egípcias muçulmanas cobrem a cabeça com o famoso hijab. Já as católicas apresentam-se com os cabelos soltos pelas ruas. Mas, independente da religião, as mulheres daquele país cobrem boa parte do corpo.

Hijab [Fotografia: iStock]

No Cairo, as pernas nunca estão de fora. As mulheres podem usar calças, deixando só as canelas desnudas. Os ombros estão sempre escondidos com lenços ou camisas sem decote. O dress code só muda nas cidades frequentadas por turistas como Luxor, Aswan e Dahab, zonas onde as estrangeiras podem andar de calções e vestido.

A maioria dos bares e discotecas no Egito não permite a entrada de mulheres com lenços na cabeça, tratando a sua presença e a ingestão de bebidas alcoólicas como algo mutuamente exclusivo.

Em muitas das comunidades de praias particulares que se espalham pelas costas do Egito, os burkinis são vistos com desprezo. Muitas piscinas privadas têm uma política rígida de proibição de nadar com roupas, que se estende a fatos de banho de corpo inteiro, mesmo se feitos de licra.

Burkini [Fotografia: iStock]

O outro lado da divisão também é preocupante. Nas poucas praias públicas do Egito, que são frequentadas por classes mais baixas, a maioria das mulheres nada com lenços na cabeça e mantos compridos, e uma que use fato de banho normal ou biquíni enfrenta vários olhares e assédio.

Para além disso, uma mulher que apareça nas redes sociais em fato de banho neste país pode enfrentar uma tempestade de insultos.

A egipcía Yasmeen Samir foi humilhada enquanto nadava com a sua família numa piscina num resort na Costa Norte, um local para a classe alta do Egito. O motivo: Yasmeen Samir estava a usar um burkini.

Depois de Yasmeen Samir relatar o incidente à agência de notícias norte-americana Associated Press, este transformou-se num debate nacional sobre o que as mulheres podem vestir e destacou as pressões complicadas e muitas vezes contraditórias de classe, sociedade e religião no país de maioria muçulmana.

Muitos, na multidão que abordou Yasmeen Samir, insistiram que o material do seu burkini não era higiénico. Mas ela disse à agência que era óbvio que eles estavam apenas descontentes com a sua aparência.

Num vídeo feito por um espectador, Yasmeen Samir e seu marido Mostafa Hassan defendem-se dos insultos. A filha do casal estava com eles. Mostafa Hassan, posteriormente, publicou o vídeo no Facebook, onde acumulou mais de um milhão de visualizações e mais de 18 mil partilhas, com muitos utilizadores a dar apoio à mulher.

Yasmeen Samir disse ter recebido um grande apoio de mulheres online, que dizem que ela lhes deu coragem para nadar nos seus próprios burkinis.

À mesma agência noticiosa, um funcionário do resort onde ocorreu o incidente com o burkini, disse que o espaço não tem nenhuma política contra este tipo de vestuário, desde que seja feito de material de banho.

O Ministério do Turismo do Egito disse à Associated Press que as mulheres que enfrentam problemas por causa do seu burkini devem registar uma reclamação ao ministério.

A classe e a moralidade cruzam-se de maneiras complicadas e frequentemente contraditórias no Egito. Espera-se que as classes baixa e média sejam mais conservadoras e, as mulheres que rompem esse padrão, podem enfrentar a condenação social.

Segundo a agência, recentemente, nove mulheres foram presas e várias foram condenadas a penas de prisão por prejudicar “valores familiares” ao publicarem vídeos delas mesmas na aplicação TikTok, embora nenhum dos vídeos causasse espanto entre os egípcios de classe alta.

Para as mulheres que querem usar fato de banho normal, as comunidades de praia particular de classe alta costumam ser a única opção. Alguns espaços são conhecidos por aceitarem mais os burkinis, enquanto outros os desprezam ou os veem como a ponta de um conservadorismo que será intolerante com aquelas que usam fato de banho.