Útero descaído: Como detetar, combater e evitar

Young woman having painful stomachache with hands holding pressing her crotch lower abdomen. Medical or gynecological problems, healthcare concept
[Fotografia: Istock]

Perto de metade das mulheres com idades entre os 50 e os 79 anos têm algum tipo de prolapso genital. Vulgarmente referido como útero descaído, mas não só, esta condição, que também afeta mulheres mais novas, acaba por alterar em muito a vida íntima e mental das mulheres.

No dia Internacional da Saúde da Mulher, que se assinala esta quinta-feira, 28 de maio, fomos saber como se deteta e, acima de tudo, como se pode evitar.

Sustentando os números avançados pela Associação Portuguesa de Urologia, o que pode começar com a dificuldade em manter um tampão na vagina ou desconforto durante o coito, pode passar a peso ou pressão interna podendo evoluir para alterações mais gravosas.

As gravidezes, número e tipos de parto, mas também a hereditariedade, a obesidade, a tosse crónica, a menopausa e alterações hormonais podem promover esta alteração corporal, este enfraquecimento dos músculos e ligamentos da bacia, podendo afetar, para lá do útero, também a bexiga e o intestino. Ao Delas.pt, Miguel Brito, ginecologista-Obstetra do hospital CUF Viseu, explica como detetar esta patologia e mesmo como a evitar.

Como é que pode começar a ser detetado? Quais os primeiros sinais a que as mulheres devem estar atentas?

Existem mulheres com prolapso dos órgãos pélvicos que permanecem assintomáticas. No entanto, os sintomas mais frequentes são sensação de corpo estranho na vagina, peso, desconforto ou dor pélvica, dores nas relações sexuais, dificuldade de esvaziamento vesical e incontinência urinária. Muitos destes sintomas têm tendência a atenuar ou desaparecer quando a mulher está deitada. Se a mulher notar alguma alteração neste sentido, deve agendar uma consulta com o seu ginecologista. É importante que mantenha um acompanhamento médico regular, mesmo em tempo de pandemia. Não deve hesitar deslocar-se ao hospital uma vez que estão implementadas medidas para a segurança de todos.

É possível evitar esta condição de saúde? De que forma e a partir de que idade?

Sim, é possível prevenir ou atrasar o decurso desta doença. No entanto não existe uma idade indicada para iniciar a prevenção do prolapso. O importante é adotar um estilo de vida saudável ao longo de toda a vida. A prevenção ou atraso do desenvolvimento desta doença passa por ter uma dieta saudável, evitando o excesso de peso, a evicção tabágica é fundamental no alívio da sintomatologia e a prática de exercício físico dirigido ao reforço da musculatura do pavimento pélvico.

Que soluções existem?

As mulheres assintomáticas não necessitam de um tratamento específico. Nas mulheres que apresentem sintomas pode recorrer-se à fisioterapia por forma a fortalecer a musculatura do pavimento pélvico através de exercícios específicos – mais conhecidos como exercícios de Kegel. Há também a estimulação elétrica e biofeedback, uma técnica que promove a consciência corporal.

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Relativamente a tratamentos não cirúrgicos existe, ainda, para situações específicas, a possibilidade de colocação de um pessário, dispositivo médico de silicone que é colocado na vagina para elevar/suportar os órgãos pélvicos. Outra opção é o tratamento cirúrgico. Estima-se que cerca de 11% das mulheres com prolapso irá ser submetida, pelo menos, a uma cirurgia. Apesar do tratamento cirúrgico ser bastante efetivo nem sempre é definitivo, podendo ser necessária uma reintervenção. São várias as opções de tratamento. Contudo, o tratamento indicado para cada mulher deverá ser avaliado em conjunto com o seu ginecologista.

Em que medida é que afeta a vida e o bem-estar das mulheres? O que as impede de fazer ou viver?

A sintomatologia do prolapso dos órgãos pélvicos pode ser muito limitante e com grande impacto, não só a nível físico, mas também a nível emocional. A mulher com esta patologia, geralmente, evita ter uma vida social ativa. É uma patologia com grande repercussão socioeconómica não só pela sua clínica muitas vezes exuberante mas pela sua incidência: estima-se que cerca de 40% das mulheres irá sofrer desta patologia ao longo da sua vida.