#Delasfaz: Fomos ao vaginásio

Depois de fazermos uma notícia sobre o workshop de ginástica para a vagina, decidimos ir experimentar. Queríamos saber na prática que exercícios são esses que promovem a elasticidade e a firmeza dos músculos vaginais, melhorando a saúde da vagina e a vida sexual. Entre a teoria e a prática, acabámos por descobrir quase todos os segredos do pompoarismo.

Com roupa confortável e sentadas no chão, sobre o tapete de ioga, ouvimos de Carmo Gê Pereira a história da arte oriental de pompoar e as várias vertentes existentes. Aos 35 anos, Carmo é Educadora Sexual para Adultos, Conselheira Sexual há mais de dez anos e, desde 2011, realiza workshops de pompoarismo.

“O pompoarismo que ensino é centrado no auto-conhecimento, focando-se no bem-estar e no prazer de qualquer pessoa com vagina. Ao contrário da maioria da abordagem do pompoarismo vinda do Brasil nos anos 90 que, focada no ato de dar prazer, se centrava na sexualidade como uma arma e não uma conquista pessoal, procurando sobretudo satisfazer o parceiro”, o que Carmo pretende é que as mulheres sejam capazes desfrutarem ao máximo do sexo. Apoiando a vertente Sex Positive Critical, Carmo ensina um pompoarismo de empoderamento, virado para o prazer sexual independente e individual, com vantagens também para a saúde vaginal e recuperação dos músculos da zona.

Da teoria à prática

“Alguém precisa de ir fazer xixi?” pergunta Carmo, referindo que “é importante ter a bexiga vazia antes de se iniciarem os exercícios”. Já prontas para o treino, começámos pela respiração. Sentadas com pernas ao chinês, inspirámos e expirámos pela boca. Conseguir descontrair o corpo, sobretudo a parte pélvica, para relaxar o músculo períneo, é o objetivo. Para nós não foi assim tão fácil, mas é uma questão de treino até se conseguir, garante Carmo.

“Estes exercícios podem ser feitos em casa, nos transportes públicos, no trabalho ou até mesmo numa fila de supermercado. Ninguém repara, porque estamos a trabalhar um músculo interno”

Seguiram-se os exercícios para trabalhar os músculos vaginais e que “devem ser feitos em casa, regularmente, para se conseguir ver resultados”, avisa Carmo. O primeiro é o de contração. Deitadas de barriga para cima, consiste em abrir e fechar os três anéis vaginais sem mexer a parte abdominal (afinal o corpo tem de estar relaxado). No início foi complicado e fechávamos tudo de uma vez. “Não podem ir com tanta sede ao pote”, referiu Carmo que, depois de explicar como se faz, acompanha as alunas, uma a uma. Colocando a mão sobre a nossa barriga, pede para fazermos o exercício. “Ah, estava quase! Contrais o abdominal no último anel! Tenta outra vez”, disse no fim. Deitadas de barriga para cima tentámos novamente, relaxámos, e lá conseguimos fazer: um… dois… três!

Estes são os movimentos básicos e também os mais importantes. Devem ser feitos entre cinco a três vezes por semana, nos primeiros três meses. 15 minutos por dia chegam e a educadora sexual avisa: “Não há desculpas, estes exercícios podem ser feitos em casa, nos transportes públicos, no trabalho ou até mesmo numa fila de supermercado. Ninguém repara, porque estamos a trabalhar um músculo interno”.

Novamente deitadas de barriga para cima e de pernas fletidas, aprendemos o segundo exercício. Carmo diz para irmos fechando os três anéis enquanto inspiramos fundo, trazendo o abdominal para dentro. Depois suspendemos a respiração, fazendo uns segundos de apneia, e expiramos de repente. Uma vez chegou para sentirmos toda a parede abdominal. A sensação era a de termos acabado de fazer cem abdominais. Bem mais exigente a nível físico, este exercício necessita de tempo e prática.

Passados dois ou três meses, Carmo garante ser possível notar algum controlo dos músculos vaginais, conseguindo-se apertar o pénis ou objetos sexuais. Além disso, também os orgasmos poderão parecer mais fáceis e intensos, e problemas de incontinência ou secura vaginal regridem bastante.

Chegámos ao terceiro e último exercício do workshop: “Agora é de pé. Chegou a hora de dançar”, afirma Carmo enquanto se levanta. Fechar os três anéis enquanto fazemos movimentos circulares com a anca é o objetivo. “Quando rodam a bacia sentem que os anéis deixam de estar fechados não é?” Sim, era verdade! Ao realizarmos o exercício era como se os anéis que tínhamos fechado desaparecessem. “É normal. Para ser mais fácil ao início, façam por níveis. Fecham e rodam um bocadinho, voltam a fechar e a rodar. Sempre assim até completarem uma volta. Depois repetem”, explicou. Aí sim tornou-se mais fácil.

Mas o pompoarismo não se fica por aqui. Todos estes exercícios têm uma espécie de próximo nível, onde se pode optar por trabalhar com objetos sexuais e o grande segredo para ter resultados está na dedicação. Passados dois ou três meses, Carmo garante ser possível notar algum controlo dos músculos vaginais, bem como um aumento da líbido, da sensibilidade e da facilidade em relaxar. Além disso, também os orgasmos poderão parecer mais fáceis e intensos, e problemas de incontinência ou secura vaginal regridem bastante.

Sabia que…?

Nem só de exercícios o workshop é feito. Antes de partir para a parte prática, Carmo dá uma pequena aula de fisionomia e anatomia. Porque conhecermos o nosso corpo é importante para perceber determinadas reações e saber quando algo não está bem.

O canal vaginal demora cerca de 23 minutos a alongar: “O problema é que muitas das vezes parte-se para a penetração muito antes de esse tempo passar”.

Que tamanho tem um útero?”, começou por perguntar Carmo enquanto segurava um útero feito de croché (que pode ver percorrendo a galeria de imagens acima) entre as mãos. “Um útero que nunca tenha estado em período de gestação tem o tamanho de uma ameixa, um útero que já tenha estado tem aproximadamente o tamanho de uma laranja. Mas também podemos ficar a saber o tamanho do nosso útero [sem gestações] através do tamanho nosso punho, pois têm a mesma dimensão”, respondeu.

Quando relaxado o canal vaginal tem cerca de sete a dez centímetros e, de acordo com a terapeuta, passa a ter aproximadamente 15 centímetros quando a mulher está sexualmente excitada. No entanto, este crescimento demora algum tempo. Carmo explica: “Alguma vez, durante a penetração, sentiram um certo desconforto? Uma sensação de que o pénis esbarrava contra algo e acharam ser necessário mudar de posição? Quando isso acontece é sinal que o canal vaginal ainda não está totalmente esticado”. Isto não quer dizer que a mulher não esteja excitada, referiu Carmo, tal acontece porque o canal vaginal demora cerca de 23 minutos a alongar: “O problema é que muitas das vezes parte-se para a penetração muito antes de esse tempo passar”.

“Muco a mais nunca é um problema! Aliás é sinal que o nosso corpo funciona bem e que está a fazer uma boa limpeza nessa região. Devemos ter cuidado é quando há pouca produção de muco ou quando este começa a ter algum cheiro, aspeto amarelado ou espessura”

Também importante para a vagina é a presença de lubrificação. E é tão importante que temos duas! “Além da lubrificação sexual, que resulta do desejo e da vontade sexual, as vaginas têm lubrificação própria, o chamado muco vaginal. Este é o responsável por manter toda a flora vaginal limpa e livre de impurezas, diminuindo o risco de desenvolver de infeções urinárias, por exemplo”, explicou Carmo. Nem todas as vaginas produzem a mesma quantidade de muco, mas é importante controlar a quantidade e o aspeto deste. “Muco a mais nunca é um problema! Aliás é sinal que o nosso corpo funciona bem e que está a fazer uma boa limpeza nessa região. Devemos ter cuidado é quando há uma pequena produção de muco ou quando este começa a ter algum cheiro, aspeto amarelado ou espessura. O ideal é que tenha uma consistência leitosa, seja transparente e quase inodoro”.

Com a lição estudada e os exercícios aprendidos, está na hora de aplicar todos os conhecimentos em casa. Após o workshop, as participantes podem adquirir um kit de treino (por €55), composto por um vibrador, bolas chinesas (Ben-wa) e um lubrificante. Por e-mail recebem uma sebenta, com todos os exercícios e a explicação dos mesmos, mais uma grelha semanal para controlar as idas aos treinos.

Percorra a galeria de imagens de imagens para ver o estojo de pompoarismo e conhecer alguns dos objetos apresentados durante o workshop.

[Imagem de destaque: ]

A doença que afeta as mulheres que não fazem sexo

Ejaculação feminina: sim, existe mesmo!