Velocista italiana faz história como a primeira atleta transgénero nos Paralímpicos

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[Fotografia: Instagram/Valentina Petrillo]

Aos 50 anos, Valentina Petrillo prepara-se para concretizar um sonho que começou aos sete anos: ser velocista e chegar aos palcos olímpicos. Agora, a italiana, a primeira atleta transgénero presente nestes eventos desportivos, irá fazê-lo nos Paralímpicos de Paris, que arrancam esta quarta-feira, 28 de agosto, e terminam a 8 de setembro. A ‘sprinter’, com doença degenerativa ocular de Stargardt diagnosticada aos 14 anos de idade, deverá correr nos 200 e nos 400 metros (a 3 e a 7 de setembro) para atletas com deficiência visual.

Petrillo chega do mesmo país que, durante os jogos Olímpicos, viu a boxeur italiana Angela Carini – com o apoio do primeira-ministra Georgia Meloni – a apontar o dedo a uma adversária argelina que acusava de ser transgénero: Imane Khelif. O caso correu o mundo, provou-se não ser verdade e levou a italiana a pedir desculpa publicamente pelo que disse e pela atitude que teve no ringue. Khelif, que acabou por conquistar a medalha de ouro, prosseguiu com queixa por ataques de ciberbylling agravado no desporto.

De volta a Valentina, a atleta apaixonou-se pela velocidade em 1980, quando viu o concidadão Pietro Mennea vencer ouro nos 200 metros nos Jogos Olímpicos de Moscovo, começando aí a sua paixão pelo desporto. “Eu queria vestir a camisa azul (da Itália), queria ir para as Olimpíadas. Mas — e havia um mas — queria fazer isso como uma mulher porque não me sentia como um homem”, revelou Petrillo em entrevista à agência noticiosa AP. E “acrescentou: Sim, tenho problemas de visão, sou parcialmente cega, sou trans — e digamos que isso não é o melhor na nossa Itália, ser trans — mas sou uma pessoa feliz.”

Nascida e crescida em Nápoles, a velocista foi sempre criada como menino, mas acabaria por fazer o processo de transição de género já em adulta. Em 2017, a atleta assumiu ser transgénero para a sua mulher, com quem tem um filho, o processo arrancaria mais tarde. “Comecei em 2019 e em 2020 realizei o meu sonho, que era correr na categoria feminina, praticar o desporto que sempre amei fazer”, afirmou a atleta em entrevista à agência noticiosa AP. “Cheguei aos 50 e tornou-se realidade… todos temos o direito a uma segunda escolha na vida, a uma segunda oportunidade”, acrescentou.

Antes, como avança a AP, Petrillo, formada em ciências da computação, jogou futebol cinco para atletas com problemas visuais. Aos 41 anos regressou ao atletismo, tendo corrido na categoria masculina T12 entre 2015 e 2018, conquistando 11 vitórias. Dois anos depois, estreava-se nas pistas femininas como transgénero.

As divisões na leitura da participação de atletas transgénero nas modalidades voltam a ganhar força. Por um lado, a World Athletics proibiu mulheres transgénero de competir na categoria feminina em eventos internacionais se elas fizessem a transição após a puberdade, mas a World Para Athletics discordou, considerando que as atletas teriam de declarar, para as competições femininas, a identidade de género e provar que a testosterona estava ao nível natural reportado para sexo feminino, pelo menos 12 meses antes da primeira competição.

A atleta recorre a um estudo financiado pelo Comité Olímpico Internacional, publicado em abril no British Journal of Sports Medicine que advoga que as mulheres transgénero estão em desvantagem face às cisgénero em matérias como o funcionamento pulmonar ou menor força corporal.