Vamos brincar ao bullying?

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(Fotografia: DR)

Maria Inês é uma boa aluna. Mas, a certo momento da sua vida, esta pré-adolescente começa a querer faltar à escola, revela ter dificuldades em concentrar-se e demonstra vontade em desistir de todas as atividades que tinha. Atitudes que, como é de esperar, geram preocupação nos pais.

Esta é a história de uma estudante, sem idade definida, que se torna protagonista de um novo jogo infanto-juvenil que quer alertar para o problema do bullying e que está a ser lançado este sábado, 25 de fevereiro, em Lisboa.

‘Bullying: Um Dia na Escola’ pretende pôr alunos, pais e a comunidade escolar a falar e a conhecer melhor esta realidade que parece cada vez mais presente na vida escolar dos estudantes.

“Cabe aos jogadores revelar o que se passa com a Maria Inês. No processo de descoberta os participantes têm de encontrar o agressor, as testemunhas, o tipo de bullying utilizado e o local onde teve lugar a agressão”, afirma Júlia Vinhas.

Júlia Vinhas, coordenadora do CADin, unidade de Setúbal, e uma das autoras do jogo "Bullying: Um Dia na Escola" (Fotografia: DR)
Júlia Vinhas, coordenadora do CADin, unidade de Setúbal, e uma das autoras do jogo “Bullying: Um Dia na Escola” (Fotografia: DR)

 

Esta psicóloga clínica é, a par com a colega Rosário Carmona e Costa, a coordenadora pedagógica deste jogo lançado pela editora Ideias com História.

Rosário Carmona e Costa, coordenadora do CADin, unidade de Cascais, e uma das autoras do jogo "Bullying: Um Dia na Escola" (Fotografia: DR)
Rosário Carmona e Costa, coordenadora do CADin, unidade de Cascais, e uma das autoras do jogo “Bullying: Um Dia na Escola” (Fotografia: DR)

Aquelas responsáveis trabalham na CADin – Neurodesenvolvimento e Inclusão, uma associação que acompanha de perto esta realidade que tem vindo a crescer em Portugal. De acordo com os dados da GNR relativos ao ano letivo de 2015/16, foram contabilizados 91 casos de alunos agredidos, num total de 949 ocorrências criminais. A PSP, também no mesmo período, registou 4102 crimes nas escolas nacionais, configurando o número mais alto dos últimos quatro anos.


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Promover empatia e ajudar a resolver problemas

“Durante o período de jogo existem momentos específicos em que se procura descobrir quem foram os envolvidos, noutras ocasiões vamos trabalhar as competências”, afirma Júlia Vinhas.

Nesta matéria, a responsável lembra: “Uma das competências está relacionada com a resolução de problemas ou com o conceito de bullying, porque é preciso perceber que nem tudo é agressão, às vezes são apenas brincadeiras sem repetição”.

Deixa, porém, o alerta: “Às vezes é preciso ter cuidado para não desvalorizar a questão da repetição, isso pode acabar por ser violento para as crianças”.

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O objetivo do jogo é “levar as crianças a encontrar e a conhecer as gradações e ajudá-las a identificar as soluções dos problemas”.

‘Bullying: Um Dia na Escola’ pode ser jogado por participantes individuais, mas também em equipas. “Os jogadores são os investigadores e estão todos a ajudar a Maria Inês. Ao todo, existem seis agressores (rapazes e raparigas), seis testemunhas (auxiliares, professores, cozinheira, colegas) e oito locais de agressão, todos dentro da escola: a casa de banho, a zona de cacifos, o refeitório, o pátio, os balneários, os campos de jogos, a biblioteca, a sala de aula e o laboratório”, descreve a coordenadora da unidade do CADin em Setúbal.

Tabuleiro do jogo "Bullying: Um Dia na Escola"(Fotografia: DR)Tabuleiro do jogo “Bullying: Um Dia na Escola”(Fotografia: DR)

 

Neste jogo de tabuleiro, para maiores de sete anos e com um custo de 18,50€, é preciso também descobrir o tipo de bullying a que Maria Inês está sujeita: “Estão contemplados seis tipos: o físico, o verbal, o psicológico, o social, o sexual e o cyberbulling”, especifica Júlia Vinhas.

Ao mesmo tempo, é recomendável que este desafio tenha lugar sempre sob a supervisão de um adulto no papel de moderador. Isto porque – explica a coordenadora e psicóloga clínica – “são trabalhadas competências como a assertividade, o controlo dos impulsos, a promoção de empatia e a resolução de problemas”. Ao todo, há 100 cartas de competências.

Jogo em formato XXL

Para lá da versão em tabuleiro, este desafio tem também um formato de grandes dimensões, de seis metros por quatro.

“É uma versão preparada para ser adquirida pelas escolas (550€), trata-se de um jogo com dados enormes, onde os alunos são espiões e que está preparado para ser jogado, por exemplo, no chão no recreio”, exemplifica Júlia Vinhas, contando com o acompanhamento por parte de um professor.

A coordenadora conta que já testou este desafio com várias crianças e o balanço tem sido positivo: “Eles adoram porque são uma espécie de investigadores, já quando chegamos à carta de competências tenho verificado que as respostas dadas em torno do bullying não são sempre as mais corretas”.

“Por exemplo, é difícil para eles definir o que é o bullying, ou saber o que fazer ou a quem recorrer caso assistam a uma situação dessa natureza. Nem sempre têm a resposta mais assertiva ou mais adequada”, conta a coordenadora pedagógica do jogo.

Sexualidade, refugiados e património histórico e cultural

Esta não é a primeira vez que a Ideias com História se associa a entidades para criar jogos didáticos de tabuleiro e em formato XXL.

“Em junho do ano passado, elaborámos um sobre a sexualidade, em parceria com a Associação para o Planeamento da Família, e pretendia fazer uma abordagem ao tema para crianças a partir de 7 anos”, conta Miguel Correia ao Delas.pt.

O editor explica que, neste desafio, são trabalhadas matérias como “a violência no namoro, a igualdade de género, a própria descoberta do corpo e até o aborto”.


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Para junho próximo, revela estar a preparar um outro jogo, mas em torno dos refugiados. “Resulta de uma parceria com o Instituto de Apoio à Criança e pretendemos sensibilizar os mais novos para esta problemática, dar-lhes contextualização e informação sobre quem são, porque se refugiam, o que tem acontecido no mundo e qual a melhor forma de lidar com pessoas de diferentes culturas”, antecipa Miguel Correia.

Também nos projetos a curto-prazo da editora está a intenção de, trabalhando diretamente com a Direção Geral do Património Cultural, “fazer uma série sobre museus e monumentos”, afirma o responsável da empresa.

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