‘Variações’ chegou esta quinta-feita aos cinemas. Saiba o que esperar do filme

Variações

São cerca de 60 as salas de cinema portuguesas que vão receber o filme Variações, a partir desta quinta-feira, 22 de agosto. O projeto que o realizador João Maia escreveu e dirigiu sobre o músico e cantor António Variações demorou quase duas décadas a ser concluído e chega, finalmente, ao grande ecrã, com Sérgio Praia a dar corpo e voz ao artista português, falecido há 35 anos.

Além da interpretação física do músico, o ator também canta todas as canções, recriando as sessões de composição e gravação dos temas em várias cassetes – em casa com um gravador e uma caixa de ritmos, ou em salas de ensaio com músicos amadores -, até à primeira atuação de Variações, na discoteca Trumps, em Lisboa, em 1981.

“O João [Maia] decidiu que as gravações de voz iam ser todas feitas no momento. Nenhuma das músicas que nós fizemos antes das filmagens foram usadas, é tudo ao vivo. E eu percebi, ali na pele, que realmente era preciso aquela energia de estar à procura no momento”, explica Sérgio Praia, numa entrevista ao Delas.pt, que pode ler na íntegra aqui.

Além de Sérgio Praia, o elenco inclui, entre outros, Filipe Duarte, Victoria Guerra, Augusto Madeira, Teresa Madruga e José Raposo, entre outros.

O filme foca-se sobretudo no período entre 1977 e 1981, altura em que António Joaquim Rodrigues Ribeiro, barbeiro de profissão tentava a sua sorte na música, gravando as suas primeiras cassetes e tentando viver das suas canções. O António Ribeiro que se viria a transformar em António Variações, marcando a música portuguesa a partir dos anos 1980. No filme, o auge da carreira do cantor é remetido para um plano informativo, não tendo destaque de relevo nas cenas. Uma opção que o realizador justifica, ao Delas.pt, com a preferência por dar a conhecer o lado mais embrionário do percurso musical de Variações e a sua obstinação por construir a sua personalidade artística.

“Quando ele ficou conhecido toda a gente sabia que ele era barbeiro, que tinha tentado fazer um disco durante muito tempo e, de repente, fez um disco de muito êxito – o Anjo da Guarda foi um disco de muito sucesso – e depois quando saiu o segundo disco, ele morreu logo a seguir. Admito que pudesse também ser uma parte interessante da vida dele – alguém que tentou durante tanto tempo e, de repente, ficou famoso, mas achei que o mais interessante seria mostrar porque é que ele ficou famoso”, explica o realizador.

 

 

Arrojado e irreverente, influenciado pelo fado, pela música popular e pelo pop rock, António Variações morreu aos 39 anos, a 13 de junho de 1984. Gravou o seu primeiro discom quase 40 anos, como recorda João Maia, e deixou apenas dois álbuns editados pouco antes de morrer: Anjo da guarda (1983) e Dar e receber (1984). Uma carreira curta mas fulgurante, que continua a cativar novas gerações.

“Durante as filmagens vi miúdos, que se calhar as avós é que eram fãs, que sabiam quem era o Variações. Miúdos de 10 anos! Parece que é um fenómeno que perdura. E foi isso exatamente que aconteceu quando o Variações fez sucesso. Era transversal, dos 8 aos 80, e era alguém que toda a gente achava que era um artista underground, porque ele vinha de um certo underground lisboeta – foi assim que começou. Mas quando ele lançou os discos isso mudou, tornou-se num fenómeno totalmente transversal. E, desde muito cedo, era isso também que eu gostaria que o filme fosse, transversal”, sublinha João Maia.

Pelo menos duas artes o filme já juntou, dentro e fora do ecrã: a representação e a música.

Variações deu origem a uma banda sonora que ganhou vida própria. O músico e produtor Armando Teixeira, que assina a direção musical do filme, teve acesso às cassetes que António Variações deixou com dezenas de canções, excertos, ensaios, experimentações; as mesmas cassetes que foram recuperadas para o projeto Humanos, em 2004, e das quais é agora retirado um tema inédito, intitulado ‘Quero dar nas vistas’.

A canção é uma das incluídas no disco com a banda sonora do filme, que será lançado esta sexta-feira e seguido de alguns concertos pelo país. A ideia é replicar os espetáculos da última edição do festival NOS Alive, que juntaram em palco Sérgio Praia, na voz, Armando Teixeira (sintetizador) e os músicos Vasco Duarte (guitarra), David Santos (baixo) e Duarte Cabaça (bateria).

“Quando começámos as filmagens, no Trumps, principalmente, começámos a perceber que aquela energia contagiava muito as pessoas e foi quando o Armando [Teixeira] me disse que achava que eu devia pensar com carinho em fazermos concertos, em celebrarmos com as pessoas, ao vivo, a música do António”, diz Sérgio Praia.

Para já a celebração segue nas salas de cinema do país. Mais tarde Variações chegará à televisão, já que o filme conta com o apoio da RTP, estando previsto ser emitido na RTP1. Quanto ao estrangeiro, está tudo em aberto, mas o realizador adianta que no Brasil há “uma possibilidade grande” de o filme ser exibido.

 

João Maia: “Durante as filmagens vi miúdos de 10 anos que sabiam quem era o Variações”

Sérgio Praia: “Cada um de nós tem uma versão do Variações. O fascinante é que ele é muita coisa”