Na frente do número de corrida, a atleta do Afeganistão Kimia Yousofi exibia o número de participante para os 100 metros. Na parte de trás do cartaz, a velocista escreveu uma mensagem ao mundo e apontou-a às câmaras assim que terminou a prova das preliminares femininas dos 100 metros, em Saint-Denis, França, a 2 de agosto.
Kimia Yousofi não levou o ouro para casa, mas clamou pelos direitos das mulheres, amplamente restritos desde que os talibãs regressaram ao poder, e usou o palco mundial possível: os Jogos Olímpicos de Paris 2024. “Educação. Desporto. Os nossos direitos”, lia-se, em inglês e em nota escrita à mão, na parte de trás do número de corrida de atleta.
Logo após a corrida, Kimia justificou, citada pela CNN, a iniciativa: “Estou a lutar por uma terra de onde vêm os terroristas. Se eles entrarem na vossa casa, vocês dizem: ‘Saiam, esta é a minha casa’. O que é que eu deveria estar a sentir? Eles tomaram a minha terra.” “Ninguém no Afeganistão os reconhece como o governo. Ninguém. Eles não podem falar. Eu posso”, acrescentou.
Desde que o governo talibã retomou o poder no Afeganistão, em 2021, o grupo islâmico tirou as raparigas das escolas, vedou-lhes o acesso ao ensino secundário, proibiu as mulheres de frequentarem o ensino universitário, de trabalharem nas organizações não governamentais, de irem até ao cabeleireiro e restringiu a possibilidade de viajarem sem um acompanhante masculino.
Nascida de pais refugiados no Irão durante o governo anterior do Talibã, Kimia Yousofi mudou-se para o Afeganistão para representar o país nas Olimpíadas do Rio de 2016 e foi a porta-bandeira do país em Tóquio, em 2021. Em 2022, a velocista mudou-se para a Austrália para treinar para os Jogos Olímpicos de Paris.