Vem aí o dia em que todas as mulheres podem fazer greve

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Espanha prepara-se para fazer História com uma greve feminista oficial e legalizada, agendada para esta quinta-feira, 8 de março. No Dia Internacional da Mulher, a Comissão de 8 de Março apelou à greve ao trabalho, aos cuidados com os filhos, às tarefas domésticas e às compras como forma de protesto neste dia que é delas.

O objetivo é denunciar e protestar contra a violência de género e a desigualdade estrutural que afeta as mulheres nas mais diversas áreas. No trabalho remunerado através da desigualdade salarial, precariedade e difícil progressão na carreira; nas tarefas domésticas e cuidados com os filhos devido ao número de horas que despendem a tratar do lar e da família e no consumo por oposição à pouca dedicação dos homens a estas tarefas.

Esta é a primeira vez na História que centrais sindicais espanholas e alguns partidos dão cobertura à ideia, fazendo deste um evento oficial e legal.

A ideia de realizar uma greve de género durante 24h levantou polémica no país Espanha. Enquanto o Partido Popular disse tratar-se apenas de um protesto “de elites feministas, e não de mulheres reais com problemas diários”, os partidos de esquerda (Unidos Podemos e PSOE) apoiam a iniciativa, avança o jornal espanhol El País.

Também a maioria dos cidadãos espanhóis dão força à paralisação feminina: oito em cada dez considera que continuam a predominar comportamentos sexistas e machistas na sociedade espanhola; 76% considera ser difícil ser do sexo feminino em Espanha e 31% afirma já ter visto o seu desempenho no trabalho ser subestimado por ser mulher. Estes são dados recolhidos pela Metroscopia para o El País, após 1.500 entrevistas por telefone, de 28 de fevereiro a 2 de março de 2018.

Esta é a primeira vez na História que centrais sindicais espanholas e alguns partidos dão cobertura à ideia, fazendo deste um evento oficial e legal. O ano passado, várias associações feministas haviam tentado convocar uma greve de mulheres, mas não tiveram qualquer apoio.

Oito em cada dez espanhóis considera que continuam a predominar comportamentos sexistas e machistas.

Este ano, além da greve devidamente convocada, estão agendadas diversas ações do género, todas assinaladas num mapa online. Em constante atualização, este mapa interativo apresenta, atualmente, mais de 370 ações em 171 localidades do estado espanhol – desde manifestações a encontros, passando por piqueniques comunitários e mesas de informação – e espera não parar de crescer até à próxima quinta-feira.

Com o objetivo de conseguir que 177 países adiram à greve, a Comissão de 8 de Março destina-se a todas as mulheres, de qualquer idade, nacionalidade, cultura ou religião (como mostra o vídeo publicado na conta de Twitter da 8M). Um objetivo que parece estar a cumprir-se.

Vídeo publicado no Twitter da 8M, @FeminismosMad [Carregue na imagem para ver o vídeo]

Além das manifestações agendadas um pouco por todo o mundo, algumas associações feministas de vários países têm aderindo à greve, já conhecida como Greve Internacional de Mulheres. À paralisação de Espanha juntam-se outros países, de vários continentes, como Brasil, Argentina, Estados Unidos da América, Polónia, Noruega e outros.

Todos eles anunciaram adesão a este movimento estrangeiro organizado pela Internacional Women’s Strike. Alguns aderiram, mas tal como Portugal vão realizar apenas manifestações.

Em Portugal

Por cá o protesto faz-se depois das 17h30, no Rossio, em Lisboa, através da manifestação 8M Não Me Calo! Paralisação Internacional de Mulheres. A ativista Adriana Lopera Orta, da Rede 8 de Março, ainda tentou obter apoios para realizar a greve feminista e aumentar o movimento internacional, mas sem efeito.

Tal como em Espanha, o apoio político surgiu da esquerda, com o Bloco de Esquerda (BE) a secundar a iniciativa. “Estamos a tentar falar com os sindicatos para que apoiem a greve das mulheres, mas ainda não tivemos respostas. A paralisação é apoiada pelo BE, o único partido que temos confirmado”, disse Adriana Lopera Orta ao Diário de Notícias.

Sem permissão para uma greve laboral feminina, a ativista sugere que as mulheres façam greve nas tarefas do dia a dia: “Temos sempre a possibilidade de apelar à greve das mulheres no cuidar dos filhos ou no trabalho doméstico, como também está a ser feito em Espanha. Ou seja, deixar de levar os filhos à escola, de lavar a louça, de fazer as camas, as refeições para a família e não consumir ou comprar nada nesse dia”, explicou.

Também o MDM (Movimento Democrático de Mulheres) prevê realizar a Manifestação Nacional de Mulheres pela Igualdade e Justiça, mas no dia 11 de março, a partir das 14h30. Outros coletivos feministas assinalarão o Dia Internacional da Mulher com concertos e ações de rua. O dia é celebrado desde 1975, ano em que foi instituído oficialmente pelas Nações Unidas, para assinalar as desigualdades e discriminações sofridas pelas mulheres trabalhadoras.