Vera Jourová diz que hoje há “ambiente” de denúncia e apoio a vítimas de assédio

ABRIR JOUROVA

O dia foi de despedida para a Comissária Europeia da Justiça, Consumo e Igualdade de Género no que diz respeito às questões das mulheres, em particular o Dia Internacional, que se celebra a 8 de março. Vera Jourova esteve no Parlamento Europeu para abordar o papel das mulheres na política, esta quinta-feira, 7 de março, em Bruxelas, falou em progressos, mas não esqueceu o que a política não fez em concreto por elas. Por isso, em vésperas de eleições europeias, que têm lugar em Portugal a 26 de maio, pede que “se faça mais e talvez melhor”, que se “descubram maneiras de envolver mais pessoas nestes temas”.

Ao Delas.pt, e numa curtíssima conversa, a comissária fez um balanço do trabalho e recorda os efeitos que foram provocados pela revelação de violência e assédio sexual de que tinha sido alvo. Uma denúncia pioneira na Europa e diante dos microfones de uma audiência em Bruxelas, e que aconteceu há dois anos. Jourovà revelou, assim, que também ela tinha sido vítima e pedia a outras mulheres – no embalo do movimento #MeToo – que fizessem o mesmo.

Hoje, a comissária fala do legado e se tal revelação fez mesmo a diferença quando uma instituição como o Parlamento Europeu, com 751 eurodeputados, viu apenas 35 participar nas duas únicas sessões de esclarecimento em torno do assédio sexual organizadas até ao momento.

Depois da sua denúncia e tendo em conta o baixo número de participações voluntárias no âmbito do assédio, valeu a pena? O que espera que aconteça agora?

A razão pela qual falei há dois anos… Bem, houve inúmeros casos que saíram para fora, que ficaram no domínio geral. Foi uma grande questão. Melhor, foi uma grande exclamação e todas as instituições criaram a atmosfera para que mais vítimas denunciassem e recebessem apoio.

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A caminho da hora da saída, que balanço faz? Que legado deixa?

Estou um bocadinho sentimental (sorriso). Mas ao mesmo tempo é preciso sangue fresco é preciso que cheguem e ponham tudo numa dimensão mais concreta.

De que forma?

Mais ação, menos palavras. Que quem venha tenha uma boa combinação entre os argumentos económicos, que funcionam sempre bem junto das várias entidades, e os da justiça para com toda a sociedade, não apenas para as mulheres.

O que faltou para haver mais ação?

Temos fazer mais e talvez melhor. Descobrir maneiras atrativas de envolver as pessoas e levá-las a pensar nestes temas. As mulheres têm responsabilidades, mas não o poder.

Por exemplo?

Se elas podem ter filhos e têm essa responsabilidade, então têm o poder de ter consigo os filhos que, num plano económico, são os futuros pagadores de impostos.

Imagem de destaque: DR

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