Violações do exército birmanês deixam “inúmeras mulheres e meninas feridas e traumatizadas”

Muçulmanas

Um número incalculável de mulheres e crianças rohingya foram violadas, denuncia a organização Human Rights Watch (HRW).

A organização publicou esta quinta-feira, 16 de novembro, um relatório, citado pela agência Lusa, onde além de registar inúmeros casos de violações sexuais cometidas contra mulheres e crianças da minoria muçulmana, aponta outras atrocidades cometidas pelo exército birmanês que podem ser classificadas como crimes contra a Humanidade.

São ainda referidos pela organização seis casos de violações coletivas de grupos de mulheres.

O documento divulgado pela HRW foi feito a partir de entrevistas às vítimas, 52 mulheres ou meninas procedentes de 19 aldeias situadas no estado de Rakhine, oeste da Birmânia e epicentro da crise. Juntamente com as organizações humanitárias e responsáveis pelo setor da saúde do Bangladesh.

Vinte e oito vítimas de 29 interrogadas afirmaram ter sido violadas por pelo menos dois militares. Oito mulheres ou meninas reportaram ter sido violadas por pelo menos cinco soldados. As mulheres descreveram ainda assassínios de filhos, maridos ou pais que precederam as violações de que foram alvo.

“A violação foi uma ferramenta importante e devastadora durante uma campanha de limpeza étnica do exército birmanês contra os rohingya“, denuncia Skye Wheeler, autora do relatório, acrescentando que “os atos de violência bárbaros do exército birmanês deixaram inúmeras mulheres e meninas feridas e traumatizadas”.

A mais recente perseguição à minoria rohingya na Birmânia começou no final de agosto. As operações militares levaram mais de 600 mil membros dessa comunidade muçulmana a fugir da Birmânia para o Bangladesh.

O governo birmanês assegura que a violência foi desencadeada por “terroristas” rohingya, mas o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos classificou a operação militar como “limpeza étnica”.

“A violação foi uma ferramenta importante e devastadora durante uma campanha de limpeza étnica do exército birmanês contra os rohingya”, denuncia Skye Wheeler, da Human Rights Watch

Os acontecimentos levaram, na altura, vários países e personalidades muçulmanas, como a jovem prémio Nobel da Paz Malala Yousafzai, a pronunciar-se e a protestar contra essa perseguição.

Malala criticou também o facto de Aung San Suu Kyi, igualmente Nobel da Paz e líder de facto do governo birmanês não ter condenado os atos de violência cometidos contra os rohingya.

“Nos últimos anos, não deixei de condenar o tratamento vergonhoso de que são alvo. Continuo à espera que a minha colega prémio Nobel faça o mesmo”, afirmou Malala.