
Rute Santos, de 45 anos, e a filha Maria Justo, de 17 anos, ambas de Sesimbra, foram mortas na madrugada de quinta-feira, 30 de janeiro, pelo companheiro da primeira e padrasto da segunda, José Januário, de 43 anos. Dois homicídios perpetrados com recurso a faca, que culminou em suicídio e do qual apenas escapou a filha bebé do casal, de ano e meio.
Rute e Maria, Alcinda, de 46 anos, residente no Barreiro, brutalmente executada com tesoura em frente aos filhos, e uma mulher septuagenária, de Lisboa, morta por asfixia pelo companheiro, fazem disparar os números de femicídios perpetrados em Portugal, ainda o primeiro mês do ano não acabou. Quatro mulheres perderam a vida em menos de um mês e que representam metade das perdas de vidas humanas femininas em contexto de intimidade quando comprado aos primeiros três meses de 2024. De janeiro a março do ano passado, o Portal da Violência Doméstica reporta a morte de oito mulheres e um homem, em três meses.
Até ao momento, não foram revelados os dados globais de violência doméstica de 2024, mas de acordo com a Comissão para a Cidadania e Igualdade, foram registadas, de janeiro a setembro, 18 vítimas mortais, das quais 15 eram mulheres.
O Observatório de Mulheres Assassinadas adiantava, em novembro último, 20 femicídios, mais cinco do que em 2023, e indicava uma duplicação das tentativas de assassinato. Este relatório produzido pela União Mulheres Alternativa e Resposta e que recolhe os crimes noticiados na Imprensa Nacional, reportava ainda o conhecimento de violência prévia em alguns dos homicídios.
Ainda de volta aos dados da CIG e no que respeita a 2024, a entidade dá conta da participação de 85 ocorrências por dia feitas à PSP e à GNR, totalizando um valor global de 23.032 queixas.
Em dia de abertura de ano judicial, a ministra da Justiça Rita Alarcão Júdice abriu a sessão solene a falar de um crimes mais prevalecentes em Portugal, e que tem levado a mais de duas dezenas de mortes de mulheres por ano, apesar de muitas vítimas serem já do conhecimento do sistema, e a centenas de queixas a darem entrada todos os dias. “As palavras bonitas sobre a Justiça já foram todas inventadas e já foram todas ditas. Encaremos então as palavras duras”, afirmava a governante.
Em novembro de 2024 e num discurso na sessão de encerramento da conferência Combate à violência contra mulheres e violência doméstica, o primeiro ministro Luís Montenegro duvidava que, não querendo “chocar ninguém”, o aumento no número de casos que se registava nas estatísticas “significasse o aumento da criminalidade tipificada para a violência doméstica”. Declarações que causaram polémica.