
A violência doméstica deve “ocupar um lugar cimeiro do sistema judicial”, declarou a ministra da Justiça em dia de arranque do ano judicial, a 13 de janeiro. Rita Alarcão Júdice escolheu tocar num dos crimes mais prevalecentes em Portugal, e que tem levado a mais de duas dezenas de mortes de mulheres por ano, apesar de muitas vítimas serem já do conhecimento do sistema, e a centenas de queixas a darem entrada todos os dias. “Muitas pessoas pensam que a violência doméstica é apenas uma questão familiar, e até se envergonham de serem vítimas, o que as leva a sofrer em silêncio. Mas a violência doméstica não é uma questão familiar. É um crime, e dos mais graves, que precisa de ser denunciado, investigado, reprimido e, acima de tudo, evitado. Alcinda Cruz é a grande ausência, e o grande silêncio, nesta sala e nesta cerimónia”, sublinhou.
Alcinda Cuz foi morta pelo marido a golpes de faca e tesoura à frente dos filhos em que havia uma queixa apresentada em 2022 e “arquivada no ano seguinte”. “Há quatro dias, pouco depois da meia-noite, uma mulher de 46 anos foi morta pelo marido, em sua casa, no Barreiro, à frente dos seus filhos menores, de 6 e 14 anos. Foi degolada e ferida na barriga a golpes de faca e de tesoura. Chamava-se Alcinda Cruz. Enquanto isso, alguns dos presentes preparavam a mais importante cerimónia do ano judicial. Aqui estamos. O que temos a dizer aos filhos de Alcinda Cruz?”, indagou a governante. E acrescentou: “As palavras bonitas sobre a Justiça já foram todas inventadas e já foram todas ditas. Encaremos então as palavras duras”, destacou antes de classificar a violência doméstica como um dos crimes “mais graves” que existem.