Violência de género em Lisboa supera a média do País

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Duas em cada três agressões que as mulheres sofrem em Lisboa não são denunciadas, nem às autoridades nem a ninguém. A conclusão preliminar e pertence e está patente no Primeiro Inquérito Municipal à Violência Doméstica e de Género no Concelho de Lisboa . Perante uma agressão, 63% das mulheres não reage, nem sequer para se defender. E as razões para não fazer uma denúncia vão da desvalorização do ato violento (18%) ao medo que as agressões piorem (5,3%).

O estudo apresentado esta quarta-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa conclui também que os homens são, numericamente, as maiores vítimas de violência (61,9%, contra 50,3% de mulheres vítimas) e a maioria dos agressores, uma vez que ambos os géneros respondem ao inquérito como tendo sido vítimas de violência levada a cabo, sobretudo, por homens.

E de que violência estamos a falar? O inquérito feito porta a porta a mais de 2600 pessoas de todas as freguesias da capital incidiu sobre atos de violência física, psicológica e sexual que tenham ocorrido pelo menos uma vez na vida. Na tipificação verificam-se também diferenças de género: elas sofrem mais de violência psicológica (84,9% para 56,9%) e eles de violência física. Só na violência sexual, maioritariamente assédio, é que os valores são próximos.

Se os homens são os mais afetados pelo conjunto dos atos de violência – facto que coordenador do inquérito, Manuel Lisboa, atribuiu aos “processos de socialização” que ocorrem desde a infância – em contexto doméstico e de intimidade elas voltam a ser as maiores vítimas. O inquérito destrinça a violência doméstica daquela que ocorre entre cônjuges ou parceiros sexuais, as chamadas relações de intimidade, e neste ponto a distância de valores percentuais entre géneros é mais significativa: 23% das mulheres e 10,8% foram vítimas às mãos dos seus companheiros de vida.

O Primeiro Inquérito Municipal à Violência Doméstica e de Género no Concelho de Lisboa apresenta ainda os valores da violência por género e por freguesia. A Ajuda e a Penha de França são as únicas divisões administrativas em que a prevalência de vítimas de violência é inferior a 47,9% para os dois géneros. O Parque das Nações distingue-se por ser a freguesia com maior prevalência de violência nos dois géneros.

Os valores encontrados por este inquérito sobre Lisboa revelam que a prevalência de vitimização física, psicológica e sexual é superior à média nacional: mais 12 pontos percentuais no que se refere às mulheres e mais 19 no que toca aos homens.

O inquérito mostra que, em ambos os géneros, há maior vulnerabilidade à violência em situações de baixos rendimentos e de desemprego.