O Dia de São Valentim ou Dia dos Namorados, como é vulgarmente chamado, traz à tona a parte mais romântica dos relacionamentos amorosos, mas muitas associações aproveitam a data e o seu mediatismo para lembrar o outro lado, bem menos romântico e muitas vezes violento e perigoso.
É por essa razão, e à semelhança do que já tem feito em anos anteriores, que o MDM – Movimento Democrático de Mulheres escolheu esta terça-feira, 14 fevereiro, para apresentar o projeto Unlove/Unpop. Um videojogo e um guião, em forma de kit pedagógico, que visam sensibilizar e prevenir os jovens e adolescentes contra a violência no namoro, promovendo a igualdade entre rapazes e raparigas.
Estes produtos foram a maneira que a organização encontrou de chegar a este público tão inexperiente como exigente. “Na nossa experiência o que resulta melhor é usar linguagens que sejam próximas das linguagens dos jovens. Não é muito fácil falar destes assuntos de forma demasiado direta. Daí utilizarmos, o videoclipe e as tecnologias digitais, neste caso os videojogos”, explica Joana Lima do MDM.
Depois dos testes feitos em algumas escolas, junto de professores e alunos, o projeto está agora pronto a arrancar. A Universidade de Aveiro, parceiro da organização neste projeto que tem o apoio da Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade, é o local escolhido para o seu lançamento e as escolas do distrito o primeiro território para a sua aplicação, que irá decorrer durante 18 meses.
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Violência no namoro continua a aumentar
O projeto prevê abranger cerca de oito mil jovens, na região, através da realização de atividades em todas as escolas secundárias, na universidade e noutros espaços, antes do videojogo e do kit chegarem a plataformas mais abrangentes que permitam pôr o projeto num terreno mais alargado, levando-o a todo o país e a toda a web.
O jogo Unlove dá continuidade a um protótipo já desenvolvido no ano letivo de 2013/2014 no âmbito de uma parceria do MDM com a Universidade de Aveiro. Esse protótipo ainda pode ser visto em unlove.web.ua.pt, mas a versão final – que será de livre acesso – só deverá ficar disponível na internet e em app para telemóvel dentro de um ano.
O jogo Unlove
Em tempo-real, de base narrativa e partindo de uma lógica de apontar e clicar, o videojogo permite ao jogador, com recurso ao seu avatar, viver virtualmente uma relação de namoro, onde lhe são colocadas várias situações sobre as quais terá de tomar decisões comportamentais, para prosseguir na narrativa.
Entre essas situações Joana Lima destaca a violação da privacidade, acedendo ao telemóvel do parceiro ou entrar no seu computador, situações de ciberviolência, o controlo dos movimentos e das suas decisões. A estes episódios, contemplados já no protótipo, juntar-se-ão outros, sendo a prioridade alertar para a violência psicológica.
“A violência psicológica é a que os jovens têm mais dificuldade em associar à violência. Facilmente associam um murro ou um empurrão, mas não percebem que entrar no telemóvel da namorada ou do namorado ou no seu Facebook é também uma forma de violência que depois pode escalar para outros tipos de violência. E o jogo simula este tipo de situações.”
As decisões que o jogador tomar conduzem a diferentes caminhos de relação, percorrendo diferentes espaços, como a casa, o café, a escola ou a praia. Ao longo do percurso, o jogador vai tomando consciência da forma como as suas decisões afectam os sentimentos no seu/a parceiro/a virtual e na sua própria personagem, e, consequentemente, como elas interferem no seu “crescimento”.
O videojogo Unlove possibilita ainda a criação de “comunidades”, espaços reservados a grupos de utilizadores, onde será possível partilhar situações, sugestões e colocar dúvidas.
“Tem sido prática do MDM pensar em produtos de sensibilização que sejam eficazes e nessa procura acrescentou-se ao Unlove, a atividade Unpop, que tem sido uma atividade de desconstrução de videoclipes que o público-alvo vê mais. Primeiro do próprio videoclipe – entre a letra, música e a imagem – e depois a desconstrução da ideias, dos valores e dos comportamentos que são passados, numa perspetiva de estimular o espírito crítico”, explica Joana Lima
Unpop ou como desconstruir videoclipes
Enquanto o videojogo Unlove desperta um interesse quase imediato nos jovens, o Unpop e a sua desconstrução dos videoclipes põe os jovens “de facto, a pensar”, salienta Joana Lima.
“A reação é de alguma surpresa até, e uma das coisas que os surpreende é a diferença grande que existe entre a letra e a imagem que é usada e haver discrepâncias muito grandes nessas duas mensagens”, ilustra.
É a partir deste último que nasce o guião Unpop, um kit pedagógico que ensina a utilizar, em contexto educativo, videoclipes dos rankings nacionais e internacionais, que os jovens mais consomem quotidianamente, e onde estão presentes estereótipos de género e de identidade e orientação sexual, assim como outros, mas também a “banalização da erotização e sexualidade, preconceitos e mitos sobre modelos de relação, que podem estar associados ou possam ser geradores de discriminações e de violências de género”, refere a informação da MDM.
O guião Unpop visa ser um instrumento acessível a qualquer utilizador (professor ou dinamizador de grupos de jovens), podendo ser usado em vários contextos. O objetivo é contribuir, através daquela desmontagem, para apontar caminhos alternativos para construir uma cultura de igualdade e de prevenção da violência, sugerindo conteúdos, recursos, estratégias e atividades que contribuam para esse fim.
“Amar-te e Respeitar-te”
Também contra a violência no namoro, o projeto pedagógico do cantor Jimmy P “Amar-te e Respeitar-te” tem estado a percorrer escolas e várias cidades do país. Depois de ontem ter sido apresentada na Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e em Braga, no auditório Galécia, a campanha chega, esta terça-feira, Dia dos Namorados, à Escola Secundária Vergílio Ferreira, em Lisboa.
Este projeto pedagógico, promovido pela Betweien, é dirigido aos jovens e visa capacitá-los e dar-lhes ferramentas para identificarem e prevenirem comportamentos agressivos nas relações de namoro.
“Amar-te e Respeitar-te” inclui um livro e vários formatos para se apresentar nas escolas nacionais. O livro contém três histórias sobre violência no namoro, e espaço em branco para, a partir dos instrumentais com letra de Jimmy P sobre esta temática, disponíveis para donwload no site da campanha, os alunos escreverem as suas próprias letras, criando versões alternativas das canções originais. Há ainda um capítulo de apoio à preparação de uma campanha de sensibilização sobre esta problemática.