A prémio Nobel da Paz de 2018, Nadia Murad, juntamente com o Reino Unido, apresentou esta quarta-feira, 13 de abril, um código de conduta para tentar melhorar a investigação de casos de violência sexual em guerras por todo o mundo.
Perante o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), Nadia, que foi uma escrava sexual do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) e uma das principais defensoras dos sobreviventes de genocídio e violência sexual, apresentou um guia que foi batizado com o seu sobrenome, “código Murad”, que visa contribuir para a procura de justiça para as vítimas, facilitando a recuperação de provas.
Na sua declaração perante os diplomatas que integram o Conselho de Segurança, a ativista sugeriu ainda a criação de um tribunal para processar o EI.
“O Código Murad estabelece diretrizes claras e práticas para se centrar nas necessidades dos sobreviventes ao recolher evidências e para garantir que recebem justiça e apoio”, disse a jovem iraquiana, da minoria iraquiana yazidi, que em 2014 foi sequestrada, violada e mantida por meses como uma escrava por ‘jihadistas’ do EI.
Este código de conduta vida permitir que essas vítimas testemunhem as suas experiências com total segurança e que as consequências psicológicas e físicas sejam minimizadas.
O Conselho de Segurança da ONU realizou o seu debate anual aberto sobre violência sexual relacionada com conflitos, este ano intitulado: Responsabilidade como Prevenção: Fim dos Ciclos de Violência Sexual em Conflitos. A reunião centrou-se no fortalecimento da responsabilidade e na abordagem da impunidade da violência sexual relacionada com conflitos.
“A história mostra que sempre que um conflito eclode em qualquer lugar do mundo, seguem-se as violações e a brutalidade. Estamos a ver isso na Ucrânia agora, com relatos de violência sexual que devem alarmar-nos”, afirmou a prémio Nobel da Paz.
“A história mostra que sempre que um conflito eclode em qualquer lugar do mundo, seguem-se as violações e a brutalidade. Estamos a ver isso na Ucrânia agora, com relatos de violência sexual que devem alarmar-nos”, afirmou a prémio Nobel da Paz.
“A violência sexual não é um efeito colateral, é uma tática de guerra tão antiga quanto o mundo”, insistiu Nadia Murad.
A iniciativa apresentada hoje pela ativista é apoiada pelo Reino Unido e pelo Instituto Internacional de Investigações Criminais e procura servir de guia para investigações sobre violência sexual em todo o mundo.
O diplomata britânico Tariq Ahmad, que presidiu a reunião do Conselho de Segurança, também anunciou que o seu país organizará uma conferência internacional em novembro próximo para prevenir a violência sexual em conflitos.
Já a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, denunciou “o crescente número de relatos de violência sexual por parte das forças russas” na guerra na Ucrânia.
Numa abordagem mais ampla a nível geográfico, a representante especial do Secretário-Geral da ONU sobre Violência Sexual em Conflitos, Pramila Patten, deu detalhes chocantes da violência que as mulheres sofrem em zonas de guerra.
“No norte da Etiópia, uma jovem foi levada para um acampamento das Forças de Defesa da Eritreia, onde 27 soldados a violaram. Como resultado, ela contraiu HIV/Sida. Uma mulher idosa com deficiência visual foi baleada por soldados depois de ficar detida por três dias, enquanto a sua filha foi violada por membros das Forças de Defesa Nacional da Etiópia numa sala adjacente. Um rapaz adolescente foi violado em Himora, (…) mais tarde suicidou-se “, reportou Pramila Patten.
“Em cada um desses contextos, vemos os efeitos encorajadores da impunidade”, frisou.
De acordo com a representante da ONU, os sobreviventes de violência sexual continuam a ser silenciados pelo trauma, dor e desespero, assim como pelo estigma, insegurança e escassez de prestação de serviços.