António é um camionista que vive um dilema entre aquilo que faz e os seus princípios e valores. Interpretada por Vítor Norte, esta é uma das primeiras personagens com que o olhar do espectador se cruza no filme ‘Carga’, que trata o tema do tráfico de seres humanos.
As dúvidas e inquietações determinam o percurso de António na ação, um homem que o ator descreve como “simples e rude, à sua maneira”, mas nem por isso insensível ao sofrimento dos outros. No entanto, é por esse caminho que as decisões que toma o levam.
“Não é por as pessoas serem simples e rudes que não têm sentimentos e que não têm escolhas [a fazer]. É um personagem muito amargurado, porque tem de trabalhar, sustentar a neta e a mulher e ao mesmo tempo fazer uma coisa que vai contra ele, contra os seus princípios morais”, explica Vítor Norte.
A sua personagem, António, é também um retrato do desespero provocado pelas crises económicas, que colocam as pessoas em circunstâncias onde, possivelmente, nunca pensaram estar e que as obrigam a fazer escolhas impossíveis, e que, como alerta Vítor Norte estão longe de estar ultrapassadas. “Eu acho que a crise cada vez é maior, isto não reflete um passado, está bem presente. Há uma grande crise, um bocado disfarçada, há muita miséria, muita gente a passar fome. Mas sim, reflete a crise. As pessoas têm de fazer alguma coisa, têm de sobreviver, e o António, no fundo, é um sobrevivente.”
Vítor Norte é um dos atores mais experientes de um elenco que conta com participações de outros atores consagrados, como Rita Blanco e Miguel Borges. Mas essa experiência não impede que encare cada trabalho com a curiosidade de um iniciante, pronto a entrar numa aventura nova a cada rodagem. E ‘Carga’, o primeiro filme de Bruno Gascon, não foi exceção.
“Para mim fazer uma longa-metragem é sempre como se fosse fazer a primeira, fico sempre com um grande entusiasmo, só a pensar e a viver aquilo. Nunca faço tudo de forma muito rígida, apesar de saber o texto deixo sempre [uma parte] para poder moldar na altura de filmar. O realizador é o maestro, sempre. Posso dar ideias, mas se ele não as aceitar, perfeitamente porreiro! Tento fazer o que ele quer, acho que é uma aventura maior do que fazer aquilo que eu acho.”
Por isso, para Vítor Norte bastou essencialmente o guião, visualizar o enquadramento geral do filme e o da da sua personagem, em particular, e seguir e as indicações do realizador para construir a sua personagem.
Depois de o filme chegar às salas de cinema (em Portugal, a partir de 8 de novembro) espera o mesmo que os seus colegas, que, pelo menos, sirva para chamar a atenção das pessoas para o problema do tráfico humano.
“Quando me deram o argumento para ler também não tinha grande ideia sobre o que é que se passava. Sei que roubam pessoas para tirar órgãos, sei que aparecem imensas pessoas para a prostituição, e que deve ser nestes termos. Mas fiquei com uma ideia mais clara do que se passa. E se este filme puder ajudar a alertar para esta causa, melhor”.
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