Von Calhau! inauguram mostra em Londres

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A dupla de artistas portuguesa Von Calhau!, composta por Marta Ângela e João Alves, inaugura hoje uma exposição inédita em Londres, que inclui uma peça insuflável de grande dimensão que força o público a sair da galeria.

A exposição consiste numa instalação sonora, que será gravada durante uma performance da dupla no dia da inauguração, de um conjunto de imagens com colagens e jogos de palavras, e de uma peça intitulada Mancha Negra, que é construída unindo sacos de plástico de lixo de cor preta.Usando uma máquina, o adereço, que foi feito à medida da sala, é lentamente enchido com ar e depois esvaziado, num ciclo contínuo que dura vinte minutos, descreve João Laia. “Aquilo vai enchendo, enchendo, enchendo, enchendo até que ocupa o espaço todo e as pessoas, das duas uma: ou fogem ou ficam presas dentro do espaço da galeria, porque já não podem sair sem destruírem o objeto”, diz.

Intitulada “Phantom Blot Back to Attack” (“Mancha Negra Volta a Atacar”), a exposição parte de um grafito da frase, datado dos anos 1970-1980, ainda visível numa parede de um edifício em Venda Nova, perto da Amadora, um subúrbio de Lisboa. Mancha Negra, ou, na tradução para inglês, Phantom Blot, é também o nome da personagem de banda desenhada de Walt Disney, rival de Mickey Mouse e o maior criminoso de Patopólis, tendo como característica deixar uma mancha negra nos locais por onde passa.

O sinal de passagem é como um “tag ou grafito”, que o programador, o português, João Laia, entende que pode ser interpretado tanto em termos figurativos, como “o que a mancha negra significa em termos narrativos”, como materiais, já que “todos os desenhos de banda desenhada são, no limite, manchas negras de tinta sobre fundos brancos de papel”.

É nesta tradução do inglês para o português, de Phantom Blot para Mancha Negra e vice-versa, que Laia considera existir “uma mutação de significados decisiva” e que lhe interessou desenvolver para este projeto. “Passa-se de mancha negra para mancha fantasma e de mancha fantasma para mancha negra, criando estranhas relações entre solidez e vaporosidade que serão trabalhadas na exposição, através do uso justaposto de materiais como ar e plástico ou conceitos como cheio e vazio, entre outros recursos ambivalentes”, refere o programador.

Ativos desde 2006, os Von Calhau! possuem um trabalho fértil e variado de colaboração nas áreas da música e das artes visuais, com se reflete em concertos e performances, na edição de discos, na realização de filmes e vídeos, na produção de desenhos e obra gráfica e em publicações.

A exposição, inédita e a primeira individual da dupla no estrangeiro, teve o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, do Instituto Camões e da Embaixada de Portugal no Reino Unido e fica até 10 de fevereiro na galeria independente Kunstraum.

Atualmente a frequentar um programa de doutoramento na universidade Bikbeck, em Londres, João Laia é um programador independente que tem estado envolvido na organização de exposições não só em Portugal, mas também Espanha, Suíça, Brasil e Reino Unido. É curador da Opening, a seção da feira de arte ARCO Lisboa, e membro das equipes curatoriais da exposição inaugural do MAAT em Lisboa (2015-17), além de colaborar com publicações como frieze, Spike Art Quarterly, Flash Art, Terremoto ou Público.

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