Web Summit: Catarina Furtado, ataques online a mulheres e a doença mental em privado

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“Mulheres de todas as idades são atacadas em frente a uma audiência global e são deixadas sozinhas atrás do ecrã, com impacto na saúde mental”, afirmou Catarina Furtado.

O rosto da estação pública esteve presente no palco central da Web Summit para falar de igualdade de género no online, direitos humanos, de mulheres e raparigas e de como a web pode fazer a diferença a superar obstáculos persistentes e estereotipados. Para Catarina Furtado, “o digital é essencial para garantir o potencial e as respostas de raparigas e mulheres”.

Foi na pele de embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População que se apresentou esta quarta-feira, 3 de novembro, para debater a existência de um teto de vidro para o sexo feminino que persiste no digital. Uma conversa que fez com Sofia Nunes, co-fundadora da Mambu, e com moderação de Charlotte Jee, jornalista da MIT Technology Review. “Acredito que a tecnologia e o digital podem fazer a diferença. Temos de ter a vontade, o compromisso e o desafio” referiu a apresentadora da RTP1, que começou por abordar o tema da menstruação e de como “ainda um problema, com milhões de raparigas pelo mundo fora da escola” por causa disso.

Um teto de vidro temático, mas também contabilístico, com as mulheres a terem “quatro vezes menos acesso” ao digital e aos devices.

Sofia Nunes considera que muito tem vindo a ser feito, dando “visibilidade nos espaços públicos, mais atentas a todo o tipo de violência”. Uma força que se move e que também leva Catarina Furtado a concluir que “há uma nova geração de feministas: não só mulheres novas, mas mais velhas e com capacidades digitais”. “Elas movem-se das ruas para a web e para falar. Isto é muito poderoso”, acrescenta.

Uma conversa que apelou à colaboração dos homens nesta luta e não esqueceu, como evocou Sofia Nunes, os efeitos nefastos da covid-19 nas mulheres, com menos emprego e mais trabalho a partir de casa. É, aliás, nesse ponto que Sofia Nunes pede mexidas. “Acredito que as empresas vão lutar e juntar esforços que irão afetar as mulheres, se criarmos os espaços inclusivos, que respeitem estes desafios, e que permitam as mulheres crescer e com mais impacto no mundo em todos os produtos e serviços”, afirmou a co-fundadora da Mambu, que pede mais mulheres na liderança. Mas não só. “Quando elas estão em casa a trabalhar [em teletrabalho, como cuidadoras], temos de ter a certeza que são igualmente visíveis no trabalho, este é um desafio adicional no qual, coletivamente, temos um papel a desempenhar”.

Catarina trouxe ao Parque das Nações as 830 mortes por minuto no mundo em tempo de gravidez e parto, a violência doméstica e também a conciliação: “As mulheres têm ainda muitas dificuldades em equilibrar trabalho e vida doméstica e são menos no topo de empresas, nos governos.” A apresentadora pediu “menos estereótipos” e lembrou, no palco da Web, a importância “do poder que existe no offline, o poder de alguém olhar nos olhos, o que dá a força para enfrentar todos os ambientes negativos”.