Women2Women Portugal: Uma manhã com as jovens que nos querem liderar no futuro

“Quantas de vocês é que já se sentiram vítimas de abuso ou de assédio?”. Foi a pergunta da jornalista Liliana Borges que deu início ao quarto dia do programa de liderança feminina Women2Women Portugal, seguida de um momento de silêncio, em que quase todas as 75 participantes, com idades entre os 16 e os 21 anos, ergueram os seus braços. À segunda pergunta já nenhum ficou em baixo.“Quantas de vocês sentem que já foram vítimas de discriminação por serem raparigas?”. Todas disseram que sim.

Sentadas no espaço exterior da Corações com Coroa (a associação sem fins lucrativos fundada por Catarina Furtada e uma das parceiras do Women2Women Portugal), estas 75 jovens mulheres, escolhidas entre 170 candidatas, começaram o dia a assistir à conferência sobre Ativismo e Igualdade, um dos temas do dia.

O painel, moderado pela jornalista do Público Carolina Borges, era composto pelo humorista Diogo Faro e Ana Esteves, ambos do movimento #NãoéNormal), e ainda por Alice Frade da P&D Factor e Carolina Pereira do Movimento He For She, que ao longo de uma hora abordaram conceitos como feminismo, discriminação, e ainda sobre igualdade de género e empoderamento de todas as mulheres e meninas, um dos 17 ODS, objetivos de desenvolvimentos sustentável definidos pelas Nações Unidas entre 2015 e 2030.

“Nascemos numa sociedade patriarcal e machista. Nem sempre fui feminista mas agora sou. Nunca passámos por estas coisas que vocês passam”, começou por contar Diogo Faro, que iniciou em abril o movimento #NãoéNormal, depois de ter recebido mais de três mil mensagens de mulheres vítimas de assédio e abuso sexual no Instagram. “Demorou até eu conseguir criar esta empatia de saber o que é um piropo na rua. Nós, rapazes, nascemos com este privilégio de não termos de passar por isto. Se estivessem aqui 100 rapazes, ninguém ia levantar o braço em resposta às perguntas que foram feitas”.

Ana Esteves, amiga de Diogo Faro, falou de seguida sobre os vários eixos de atuação do #NãoéNormal, que neste momento passam pela consciencialização nas redes sociais, minimização do sentimento de insegurança e pela educação em faculdades e escolas, onde o movimento até já faz parte de uma disciplina que aborda a responsabilidade civil.

Questionada por uma das jovens sobre a desvalorização destes comportamentos por parte dos pais e familiares mais próximos, Ana Esteves concordou ainda que é “preciso parar de culpar as vítimas porque só contribui que tudo se normalize”. “O nome do movimento não é por acaso, estávamos sempre a repetir que estes comportamentos não eram normais. Mas também é preciso prevenir e falar antes das coisas acontecerem”, sublinhou.

Primeira edição do evento Women2Women em Portugal. (Filipa Bernardo/ Global Imagens )

Alice Frade, diretora da P&D Factor (Associação para a Cooperação sobre População e Desenvolvimento) foi a convidada seguinte do painel a tomar a palavra e a fazer as jovens refletir sobre o objetivo das Nações Unidas para alcançar a igualdade de género e empoderamento das mulheres até 2030, instigando-as a ser parte da mudança. “É tempo das estruturas representativas da juventude terem raparigas na sua liderança e é tempo das delegações nacionais não serem representadas por elementos do sexo masculino, que falam dos problemas das raparigas. Os direitos humanos das raparigas precisam de ser reconhecidos como os de toda a humanidade ou não chegamos a fazer parte da solução por omissão. As raparigas não chegam a lugares de decisão se não tiverem a sua voz presente“, concluiu, antes de passar a palavra a Carolina Pereira do Movimento He for She.

Embaixadora da ONU, a jovem começou por contar a história do movimento, que trouxe para Portugal em 2017, depois de uma viagem à Índia a ter feito perceber “que havia muita desigualdade de género do mundo e em Portugal”. Para Carolina Pereira, a solução passa por incluir os dois géneros nesta mudança de pensamento. “Quero envolver os homens nesta caminhada conjunta, porque só quando estamos todos envolvidos nessa luta e temos os outros a dizer ‘Não, estes têm os mesmos direitos do que nós’ é que acreditamos que esta mudança é possível”, concluiu.

 

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