Inditex compra 1500 milhões de euros por ano a Portugal

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A Polopique é uma das maiores fábricas de confeção portuguesas. Com uma faturação de 110 milhões de euros por ano e 1100 empregados, figura na lista dos 18 maiores empresas têxteis no país. Tem na Inditex o seu maior cliente.

É no armazém de algodão e de linho que o processo de produção de uma peça de vestuário começa. Antes de existir roupa, antes ainda de haver tecidos e mesmo antes de haver fios, as matérias-primas em bruto esperam enroladas em plástico azul, que ainda tem o cheiro e o pó de outros continentes.

Escondida atrás de um grande portão azul, está um departamento de fiação. Lá dentro o algodão em bruto passa por vários tubos metálicos num processo de centrifugação para soltar todas as impurezas que traz agarradas. Depois de limpa, a matéria-prima passa por uma máquina que, com a força do ar, faz com que o algodão se expanda e se volte a juntar ordenadamente para formar o fio grosso e frágil que mais tarde é fiado delicadamente e enrolado em bobines.

Uma vez sancionados pela marca de fast fashion voltam à base para serem produzidos em massa. O processo que demora 5 semanas. As encomendas rondam os 20 mil exemplares.

Os rolos de fio são depois agrupados e alguns são tingidos em equipamentos especializados enquanto outros passam diretamente para os teares. É aqui, numa sala de tecelagem e com um barulho ensurdecedor, que acontece a magia: metros e metros de tecido são fabricados.

Na fase seguinte, na sala de confeção, localizada já noutro pavilhão, alinham-se dezenas de máquinas de costura, cada uma destinada a uma única tarefa – juntar a manga à cava, coser os punhos, fechar pinças, por exemplo. Numa das laterais perfila-se o departamento de controlo de qualidade onde cada uma das peças feitas é examinada com olhos clínicos e rapidez. Ao fundo, vários pares de mãos embalam, com a ajuda de tábua especial para dobrar roupa, todas as peças produzidas, num número que varia entre 3500 e 6000 por dia. Este departamento tem cerca de 200 pessoas, na sua maioria mulheres.

A Polopique situa-se em Santo Tirso. Além da fiação, tecelagem e confeção de roupa, a empresa conta ainda com um gabinete de design que trabalha para a Inditex. A equipa de designers da Polopique propõe vários modelos à gigante espanhola e os que são aprovados seguem para produção. Todos os dias saem protótipos, desenhados e costurados neste gabinete, em direção à Galiza. Uma vez sancionados pela marca fast fashion voltam à base para serem produzidos em massa. O processo que demora 5 semanas. As encomendas rondam os 20 mil exemplares.

“Antigamente o design era apenas uma questão da marca, mas no final do século XX o panorama começou a mudar e criámos o nosso departamento de design. A Inditex tinha necessidade que alguém lhes fornecesse design senão teriam de ter muitas pessoas a trabalhar neste departamento. Tudo o que é desenhado por nós é feito dentro de portas. De todas as ideias que são desenvolvidas são poucas as que chegam a produção, mas é assim que o mercado funciona. Para produzir um só modelo, às vezes, é preciso desenhar 40 ou 50. Claro que o design é um valor acrescentado que é contabilizado no preço final da peça,” explica Luís Guimarães, presidente da Polopique.

A Polopique nasceu em 1996 como empresa de confeção. A partir de 2012 esta empresa têxtil começou a investir nas áreas de fiação, tecelagem e tingimento, com um investimento que ronda os 60 milhões de euros nos últimos quatro anos (em média 15 milhões de euros). Este alargamento de área de atividade representou um crescimento de 30% a 40% do volume de negócios. O grupo Inditex representa 70% do volume de negócio da Polopique, que no total anual ronda os 110 milhões.

Os números da indústria têxtil e do vestuário

A Inditex (grupo da Zara, Uterqüe, Berska, entre outras marcas) não é o único gigante da fast fashion que produz em Portugal: a H&M e a Mango são outras das duas insígnias internacionais com uma produção significativa no nosso país. A gigante sueca fabrica em Portugal constantemente desde os anos 1980. Encomendam à indústria portuguesa acessórios, produtos para lar, malhas, vestuário de lã, roupa interior, roupa de noite, moda praia, marroquinaria e meias, num total de 53 fornecedores.

No que diz respeito à Mango, 8,7% da sua produção é feita em território nacional e que as peças encomendadas são sobretudo vestuário de malha circular (polos e sweatshirts por exemplo) da coleção feminina, um tipo de artigo que representa 20% da totalidade da coleção que chega às lojas.

Portugal tem, segundo os últimos dados do Centro de Inteligência e Têxtil (CENIT), aproximadamente 11.766 empresas do setor têxtil e vestuário, o que representa 6,4% deste setor a nível europeu. A nível nacional as empresas deste setor representam 18% da indústria transformadora, o que corresponde a 1% das empresas do país.

Das quase 12 mil empresas deste setor, destas 8 374 são do setor do vestuário (confeção de roupa), sendo a confeção de tecido o maior segmento deste setor, representando 26% da produção. O setor do vestuário em Portugal é composto por um tecido empresarial bastante diverso. A dimensão empresarial deste setor vai desde empresas com menos de 10 pessoas (77% do tecido empresarial) a empresas com mais de 250 trabalhadores que representam apenas 0,2% (18) das empresas de vestuário. No entanto, é nas empresas 50 a 249 pessoas que se encontra o maior volume de negócio, segundo o último estudo publicado pelo CENIT, cerca de 1745 milhões de euros, apesar destas apenas representarem cerca de 4,3% do setor.

Esta vocação da produção nacional para a especialização é uma das grandes mais-valias do nosso setor têxtil

É ainda importante saber que setor do vestuário é 10º setor de atividade económica com maior volume de exportações em Portugal, o que representa €399 970 509.

O maior destino de exportações deste setor é Espanha, país onde Portugal tem uma quota de mercado de 7%. Um dos gigante da moda que contribui para esta percentagem de mercado é o grupo Inditex com volume de compra têxtil e de vestuário em Portugal que ronda os 1500 milhões de euros por ano, informa o grupo. A presença do grupo em Portugal insere-se na estratégia de produção de proximidade do grupo, que tem como principais pilares quatro países: Espanha, Portugal, Marrocos e Turquia. Além destes países, o grupo espanhol conta com mais 53 países no mapa de importações.

Em solo português, a gigante espanhola conta com 170 fornecedores, o que corresponde a um total de 1350 fábricas – visto que vários dos fornecedores subcontratam outras empresas para completarem as suas encomendas – onde são produzidos os produtos com uma “maior componente de moda”, como são alguns artigos de segmento mais elevado da Zara Woman. Esta vocação da produção nacional para a especialização é uma das grandes mais-valias do nosso setor têxtil, segundo o último relatório do CENIT sobre o comércio nacional e internacional de maio de 2017, Portugal é o único país europeu que se consegue classificar no ranking das 10 economias com maior grau de especialização.

O setor do têxtil e vestuário nacional representam 4% da empregabilidade do setor a nível europeu. Apesar do crescimento do setor ser progressivo, segundo o Inquérito de Conjuntura da Indústria Têxtil Vestuário e Moda de Portugal mais de 50% das empresas do setor afirmam ter registado um aumento de encomendas, de volume de negócio e de exportação. É ainda de salientar que a taxa de natalidade de empresas no setor é superior ao da indústria transformadora no seu todo, afixada no caso de vestuário nos 13,6% e no têxtil nos 11.6%, no entanto a taxa de mortalidade do setor do vestuário é de 13,5% e no têxtil de 9,9%.

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