Zhang Zhan: a jornalista chinesa que arrisca cinco anos de prisão por informar sobre surto em Wuhan

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Zhang Zhan [Fotografia: Chinese Human Rights Defenders ]

É jornalista, ativista e ex-advogada. Zhang Zhan tem 37 anos e está presa, desde junho, num estabelecimento prisional em Xangai, por ter informado sobre surto de covid-19 em Wuhan, China, ainda quando a pandemia estava começar. Agora, e em greve de fome desde setembro, arrisca condenação a uma pena de prisão que pode ir até aos cinco anos por acusação de difundir informações falsas “através de texto, vídeo e outros suportes na Internet, tais como o WeChat, Twitter e YouTube” e de “criar altercações e problemas”.

A acusação, revelada pelo jornal britânico The Guardian, fala também em entrevistas em que Zhang Zhan, que se terá deslocado àquela região chinesa para reportar o que se estava a passar, “especulou maliciosamente” sobre o primeiro surto da pandemia.

Segundo informou a organização de defesa dos Direitos Humanos Chinese Human Rights Defenders (CHRD), um tribunal da cidade de Xangai vai julgar Zhang por informações publicadas nas redes sociais sobre a disseminação da doença em Wuhan, no início deste ano. Uma acusação que frequentemente é usada contra críticos e ativistas na China.

O CHRD relatou, em setembro, que a mulher tinha sido detida em maio por ter difundido nas redes sociais que os cidadãos de Wuhan receberam comida estragada durante o confinamento de 11 semanas da cidade, ou que foram forçados a pagar para fazerem testes de despistagem do novo coronavírus.

Ativa e crítica, Zhang Zhan tem sido detida frequentemente. Segundo a CHRD, foi uma das vozes que, em 2019, se elevou para relatar os protestos de Hong Kong, tendo publicado comentários, escrito artigos e erguido cartazes para apoiar os manifestantes. Em setembro do ano passado, foi intimada pela polícia de Xangai e mais tarde foi detida criminalmente e presa sob a suspeita de “provocar conflitos” pelo seu apoio a Hong Kong. A polícia libertou-a em 26 de novembro de 2019 e a organização de Direitos Humanos refere que a jornalista terá sido forçada a submeter-se a exames psiquiátricos em duas ocasiões.

Zhang também denunciou prisões de outros jornalistas ou assédio a familiares de vítimas da pandemia que exigiram que as autoridades se responsabilizassem pela má gestão nos estágios iniciais do surto. Outros cidadãos que também narraram o que se passou em Wuhan desapareceram ou foram presos este ano, incluindo o empresário Fan Bing, o advogado Chen Qiushi ou o jovem repórter Li Zehua.

Em Wuhan, as autoridades locais atrasaram a divulgação de informações sobre o surto, nos estágios iniciais, porque, de acordo com o então presidente da câmara, Zhou Xianwang, precisavam da aprovação do Governo central para o fazer.

A cidade de Wuhan, onde foram detetados os primeiros casos de covid-19, no final do ano passado, foi colocada sob quarentena em 23 de janeiro. A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.319.561 mortos resultantes de mais de 54,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 3.472 pessoas dos 225.672 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

CB com Lusa