Pesquisadores da Fundação brasileira Oswaldo Cruz (Fiocruz) demonstraram que é possível impedir o crescimento de tumores malignos de mama alterando o perfil dos macrófagos, um dos tipos de células de defesa do organismo, por meio de nanopartículas de óxido de ferro.
O estudo, publicado no International Journal of Pharmaceutics e divulgado esta segunda-feira, 24 de abril, pelo maior centro de referência científica do Brasil e da América Latina, revela que o método foi capaz de reduzir em quase 50% a massa tumoral numa espécie de ratos.
De acordo com os pesquisadores da Fiocruz, cerca de 50% da massa tumoral é composta por macrófagos e a atividade dessas células influencia diretamente o prognóstico do cancro.
Existem dois tipos principais de macrófagos: os macrófagos M2, que têm características mais anti-inflamatórias e estão geralmente associados a uma maior permissividade tumoral, e os macrófagos M1, que são pró-inflamatórios e mais eficazes para limitar a progressão dos tumores.
A abordagem dos investigadores consistiu em reprogramar o perfil dos macrófagos M2 no ambiente tumoral, transformando-os em M1, de modo a inibir o desenvolvimento tumoral.
As nanopartículas de óxido de ferro utilizadas no estudo, que são biocompatíveis, de baixo custo e de rápida síntese, facilitando a produção em escala, foram produzidas nos laboratórios da Fiocruz em Minas Gerais, por meio de uma parceria com o Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco, que desenvolveu originalmente o composto magnético.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores realizaram três fases de experiência.
Na primeira, foi utilizado um sistema artificial especial para colocar células tumorais da mama em contacto com macrófagos. Ao incubar as duas células, verificou-se que as células tumorais se multiplicavam. Mais tarde, a equipa introduziu as nanopartículas e verificou que as células tumorais morriam.
Com estes resultados, os investigadores realizaram uma segunda experiência com ratos, que foram injetados com células tumorais e nanopartículas e deixados em observação durante 21 dias.
No final do período, a equipa verificou uma redução de quase 50% da massa tumoral nos ratos expostos à nanopartícula, em comparação com os animais que não receberam o tratamento.
A terceira fase, em modelo multicelular tridimensional, simulou o microambiente tumoral e reconfirmou os resultados obtidos nas duas experiências anteriores.
Para o líder do grupo de Imunologia Celular e Molecular e coordenador do projeto, Carlos Eduardo Calzavara, os resultados abrem portas para novas pesquisas que podem permitir estratégias complementares para o tratamento do cancro da mama.
“O estudo é um ponto de partida. Ainda são necessárias mais pesquisas focadas em farmacodinâmica e farmacocinética para avaliar uma série de questões relevantes, como efeitos fisiológicos, mecanismos de ação, efeitos colaterais, tempo de absorção do fármaco e biodistribuição no organismo, entre outros aspetos”, disse o coordenador em comunicado à imprensa.
LUSA