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#delasexplica: o que é uma Cabala

Percorra a galeria e conheça as personalidades que já se apresentaram como vítimas de “cabalas” [Fotografia: Shutterstock]
Dezembro de 2017, Paula Brito e Costa: A presidente da associação Raríssimas anunciou a demissão do cargo na terça-feira, 12 de dezembro, na sequência de acusações de gestão danosa e uso indevido de dinheiros públicos. No dia em que comunicou a saída disse, em declarações ao Expresso, que estava a ser alvo de “uma cabala muito bem feita”. [Fotografia: Global Imagens]
Dezembro de 2017, Donald Trump: O presidente dos Estados Unidos da América não usou mesmo a palavra, mas insinuou claramente o seu significado para responder, no Twitter, às acusações de assédio sexual, considerando que se tratava de uma nova tentativa para o destruir depois de as informações de alegada proximidade à Rússia não terem funcionado. [Fotografia: Reuters]
Dezembro de 2017, Benjamin Netanyahu: O primeiro-ministro israelita está ser investigado no âmbito de dois inquéritos: um por alegado favorecimento de empresários e o segundo por ter alegadamente feito um acordo secreto com o diretor de um jornal para evitar a publicação de notícias pouco abonatórias para o governo. O governante reitera a inocência e diz que está a ser vítima de uma “cabala”. [Fotografia: Reuters]
Junho de 2017, comunicado do Benfica: O assunto prendia-se com as contratações de serviços de bruxaria na Guiné-Bissau a troco de resultados desportivos por parte do Clube da Luz e denunciadas pelo Futebol Clube do Porto. Em resposta à revelação, Benfica emitiu um comunicado e falou de “cabala”. "A ser verdade e a confirmar-se o episódio descrito e assumido de viva voz é mais um elemento que prova de forma inequívoca, o grau zero de credibilidade de quem tem sido o porta-voz de toda esta 'cabala', construída com base em sucessivos crimes e práticas ilícitas, típicas de um 'submundo' que se considera acima da lei e das regras de um estado de direito”, lia-se no documento. [Fotografia: Global Imagens]
Outubro de 2016, Clube Futebol Canelas 2010: A tese da cabala chegou ao clube desportivo. Em reação ao boicote de 12 clubes aos jogos na Divisão d'Elite da Associação de Futebol do Porto (AFP), o presidente Bruno Canastro falou na existência de uma "cabala contra o Canelas”. A recusa dos clubes devia-se a clima de violência. [Fotografia: Global Imagens]
Fevereiro de 2016, José Sócrates: Em entrevista ao jornal holandês NRC, o antigo primeiro-ministro explicava que todo o processo da 'Operação Marquês' tinha sido, escreveu o site Notícias ao Minuto, uma "cabala", alimentada pela Justiça, e com o propósito de travar uma hipotética candidatura sua a Presidente da República. [Fotografia: Global Imagens]
Agosto de 2010, Duarte Lima: Na ocasião em que surgiu na imprensa a suspeita de que o advogado e antigo líder parlamentar do PSD estava envolvido no assassinato de Rosalina Ribeiro, Lima ter-se-á queixado a amigos de estar a ser alvo de uma “cabala”. A revista Sábado relata este episódio ouvindo o deputado José Mendes Bota. [Fotografia: Global Imagens]
Julho de 2004, Germano de Sousa: O então bastonário da Ordem dos Médicos falava do decréscimo do mercado dos medicamentos genéricos e garantia que não havia nenhuma “cabala”. [Fotografia: Global Imagens]
Abril de 2003, Mário Jardel: O jogador brasileiro dizia que estava a ser alvo de uma maquinação quando foi acusado de ter provocado distúrbios num hotel Tivoli, em Lisboa. “Não houve nem pontapés nem quaisquer distúrbios no hotel Tivoli. Não estava bêbado nem drogado”, disse, garantindo: “Isto é uma cabala montada contra mim, que brevemente será esclarecida. Estou de consciência tranquila, pois a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima.” O Sporting instaurou-lhe um processo disciplinar. [Fotografia: Global Imagens]
Maio de 2003, Ferro Rodrigues: Paulo Pedroso, ex-ministro e porta-voz socialista, era detido no âmbito do caso de pedofilia da Casa Pia. Ferro Rodrigues, o então secretário-geral do partido e que acabaria por ver o seu nome envolvido neste escândalo, saiu em defesa de Pedroso. Foi nessa altura que o partido falou na tese da “cabala”. [Fotografia: Global Imagens]
Novembro de 2001, Dias da Cunha: “Existe uma cabala contra o Sporting. Isso manifesta-se nas arbitragens dos nossos jogos e nas dos encontros dos adversários diretos", disse, antes da entrega das 17 bolsas de estudo a alunos sócios do Sporting. "Nem nos sonhos mais delirantes imaginaria um pós-jogo tão revelador! Só um distraído ou pobre de espírito pode pensar que isto sucedeu por acaso..." O presidente leonino falava dos casos de arbitragem. [Fotografia: Global Imagens]

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A última pessoa a falar em Cabala foi Paula Brito e Costa, presidente da associação Raríssimas, aquando da apresentação da demissão do cargo na terça-feira, 12 de dezembro, na sequência do escândalo de gestão danosa e uso indevido de dinheiros públicos. No dia em que comunicou a saída disse, em declarações ao Expresso, que estava a ser alvo de “uma cabala muito bem feita”.

No mesmo dia, mas com recurso a outras palavras, Donald Trump insinuava que estava a ser vítima de uma maquinação no âmbito das acusações de assédio sexual, considerando que se tratava de uma nova tentativa para o destruir depois de as informações de alegada proximidade à Rússia não terem, explicou o governante, funcionado.

A cabala pode ser bem ou mal feita, ser montada contra uma pessoa ou instituição e maquinada por alguém que raramente é identificado. Curiosamente, quer em Portugal, quer fora de portas, tem sido um vocábulo muito usado por quem está a ser, de alguma forma, alvo de uma investigação criminal.

Na galeria acima fique a conhecer os protagonistas que já usaram a expressão. Políticos, celebridades e dirigentes. A “cabala” até chegou ao Canelas Futebol Clube 2010 e, em tempos, aos medicamentos genéricos.

O que é?

Nada melhor que a definição, arredando, desde já, o significado místico e religioso que a palavra pode ter. Cabala é uma interpretação judaica da Bíblia, através do simbolismo dos números e das letras do Antigo Testamento. Não é, contudo, por esta razão que a palavra tem sido usada. O que políticos, desportistas e figuras de relevo em geral querem dizer quando empregam o vocábulo é que estão a ser alvo de um enredo ou pacto secreto dirigido contra eles.

Que outros sinónimos de cabala existem?

Segundo o dicionário da Porto Editora, são bastantes: “cachimanha, conjuração, conluio, conspiração, enredo, fação, intriga, maquinação, multa, trama, tramóia”.

Porque é que é usada?

Os visados que ultimamente têm usado a palavra enfrentam investigações criminais. Negam as acusações que lhes são feitas e consideram que estão a ser alvo de um conluio orquestrado por alguém – raramente identificado – que tem por objetivo pô-los em causa ou mesmo destruí-los.

Origem da palavra?

De origem hebraica, Qaballah diz respeito ao conjunto de ensinamentos filosóficos e religiosos cultivados na tradição judaica que decorre de uma ordem oculta que está por trás e dirige o mundo. Códigos que estarão vertidos nas letras e números da Bíblia e que devem ser interpretados. “A partir de 1670, designou também um ministério inglês, porque as iniciais dos sobrenomes dos ministros – Clifford, Aschley, Buckingham, Arlington, Landerdale – formavam esta palavra”, acrescentou Deonísio da Silva, no livro A Vida Íntima das Palavras.

Como evolui para maquinação?

Segundo o site Ciberdúvidas, que cita aquele autor, “o sentido em que a palavra tem sido ultimamente utilizada em Portugal é o seu sentido figurado («maquinação; intriga; conluio»), como se houvesse ‘uma ordem oculta’ dirigindo as mediáticas detenções relacionadas com o chamado escândalo de pedofilia.

Imagem de destaque: Shutterstock