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Falta de ambição e autoestima das mulheres são fruto da educação

Percorra a galeria e fique a conhecer alguns dados nacionais e internacionais que explicam a desigualdade entre géneros [Fotografias: Shutterstock]
De acordo com dados divulgados pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, a 2 de novemnbro, o abandono da situação ativa por parte das mulheres tem mais expressão – entre 2015 e 2016 são quase 12 mil trabalhadoras a menos. Elas são 48,8% dos assalariados.
Entre 2015 e 2016, o crescimento do emprego nas profissões altamente qualificadas entre 2015 e 2016 foi mais significativo para as mulheres (+4,3%).
Segundo a CITE, a diferença salarial entre homens e mulheres mantém-se: elas ganham cerca de 83,3% da remuneração média mensal de base dos homens.
Dados do Fórum Económico Mundial divulgados recentemente avançam que Portugal continua a piorar os seus dados. Em 2017, ocupa a 33ª posição no que diz respeito à paridade global. Em 2016, o relatório indicou que o nosso território estava em 31.º lugar. Isto na lista de 144 países.
Ainda segundo o mesmo relatório, em 2017, há melhorias no que diz respeito à participação económica, subindo da 46ª posição para a atual 35ª.Na saúde e sobrevivência, a mudança foi assinalável, tendo subido deixado a 76ª posição, em 2016, para ocupar a 55ª este ano. Mas piorou nos restantes indicadores. Ao nível da educação, baixou da 63ª para a 70ª posição (em 2017), caiu de 36ª para 43ª ao nível do empoderamento político.
A disparidade entre homens e mulheres continua a ser mais acentuada na participação económica e na capacitação política, sendo, nos 144 países analisados, de 58% na primeira e 23% na segunda. Na saúde, os níveis de 96% situam-se ao nível do ano passado e 95% na educação.
A economia e a saúde permanecem as áreas que mais desafios apresentam. Se no ano passado, a igualdade de género no trabalho só seria atingida dentro de 170 anos, o relatório de 2017 volta a apontar um retrocesso, agora para os 217 anos. Já o fosso da educação encolheu 13 anos.

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“As mulheres são educadas de uma forma diferente. São educadas para ter menos ambição, menos autoestima e mais vergonha”, atira Manuela Ferro. Esta portuguesa está no Banco Mundial desde 1994 e é, desde 1 de julho deste ano, vice-presidente da Política de Operações. Agora, fala dos desafios, da pobreza, da redistribuição da riqueza e das desigualdades no mundo, em particular das que afetam as mulheres.

Manuela Ferro [Fotografia: World Bank]

Na base da disparidade entre géneros está, considerou aquela responsável em entrevista ao jornal Público, a educação. Ainda assim, considera que a realidade está a mudar. Mesmo em Portugal. Vinca, porém, que são elas que acabam por sucumbir face aos acontecimentos da vida, interrompendo ou parando mesmo os seus percursos profissionais. “As mulheres que têm mais filhos, durante essa fase da carreira, ficam um bocadinho para trás. A mesma coisa quando têm pais idosos”, verifica.

Os dados mais recentes publicados pela Comissão para Igualdade no Trabalho e no Emprego (e que pode ver em detalhe na galeria acima, a par de dados publicados pelo Fórum Económico Mundial), em novembro, apontam para o facto de o sexo feminino ainda estar em minoria no mercado laboral e de ganhar menos do que os homens: contas feitas, todos os meses entram, em média, menos 165 euros nas contas bancárias das portuguesas, quando comparadas com as dos homens.

Letras vs Ciências: dois caminhos, dois destinos

“O que acontece muitas vezes é que, logo ao início, as mulheres vão para Letras e os homens vão para Ciência. Depois, isso vê-se nas carreiras profissionais”, analisa Manuela Ferro.

E reconhece que não é fácil encaminhar o sexo feminino para áreas mais técnicas. “Tentámos muita coisa. Há países onde as coisas são mais simples de diagnosticar”, explica, exemplificando: “Trabalhei no Paquistão, onde muito poucas raparigas iam para o liceu. Faziam a primária e depois saiam. Isto porque quando se casavam a tradição era ir para casa, não era ir trabalhar. A sociedade não valorizava a educação. Nós pusemos o governo a subsidiar a educação das raparigas pagando aos pais”.

A receção foi positiva, segundo conta a especialista licenciada em Engenharia Agronómica e posteriormente formada em Economia. “Eles alinharam. Eram muito abertos de espírito. (…) Tentámos convencer os imãs das mesquitas a dizer aos pais de família que deviam mandar as filhas para a escola, que era o dever deles. Tinham era de ser escolas só para raparigas e, além disso, recebiam um subsídio do governo”, relatou ao Público.

Imagem de destaque: Shutterstock