Beijos, amor, sexo e aparelho nos dentes. Especialistas revelam cuidados a ter

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[Fotografia: Pexels/Merili Magi]

Amovíveis ou fixos, o uso de aparelhos dentários mexe com a autoestima e com a autoimagem de quem os usa. E mesmo sabendo que o resultado final será o que sempre se desejou, o de ter os dentes impecavelmente alinhados, o processo para lá chegar pode ser muitas vezes longo e nem sempre pacífico.

Com cada vez mais adultos a optarem por recorrer a esta necessidade ortodôntica, é também tempo de olhar para o que muda na intimidade de quem usa e do parceiro e desfazer ideias que possam parecer, à partida, desconfortáveis.

A sexóloga Vânia Beliz considera, em conversa com a Delas.pt, que o uso deste tipo de aparelhos pode “limitar a intimidade e até algumas práticas sexuais”.

Sexóloga Vânia Beliz [Fotografia: Artur Machado/Global Imagens]
Sexóloga Vânia Beliz [Fotografia: Artur Machado/Global Imagens]

E recorda: “Durante algum tempo, a maior parte dos aparelhos dentários eram muito invasivos e incluíam peças metálicas, elásticos e fios que podiam cobrir todo o céu da boca. Hoje, existem inúmeros dispositivos que são removíveis e outros quase impercetíveis”. |

A médica ortondontista da Malo Clinic, em Lisboa, descarta, desde logo, “riscos graves”, mas lembra que, por “existirem diversos tipos de aparelhos em ortodontia”, “a utilização do aparelho dentário pode ter uma implicação diferente na intimidade de cada pessoa”. “É importante distinguir se falamos de aparelhos removíveis (como os alinhadores invisíveis), ou fixos (como as braquetes convencionais), uma vez que os cuidados a ter no momento de intimidade são distintos”, afirma Ana Senra.

Ana Senra, Médica ortodontista [Fotografia: DR]

A médica refere que “quando se trata de um aparelho removível, recomenda-se que o mesmo seja retirado antes do momento de intimidade. Por outro lado, se este for fixo, podem ser exigidos alguns cuidados adicionais para garantir o conforto e segurança durante as relações”.

Do beijo ao sexo oral

Portanto, nada está perdido! “Os sorrisos metálicos” de outrora que “faziam tremer o outro e causavam insegurança no momento de encostar a boca a outra para um simples beijo”, sublinha Beliz, são agora bem menos ameaçadores.

Ana Senra alerta para a força do beijo: “Ao usar aparelhos dentários, é importante ser cauteloso em relação à intensidade com que se beija o parceiro, para evitar colisões que possam causar desconforto ou lesões.” Na verdade, sem cortar na paixão, beijar alguém enquanto se utiliza aparelho dentário pode requerer alguns cuidados para evitar constrangimentos. De entre as dicas elencadas por Senra, “são de evitar alimentos duros e pegajosos antes do beijo que possam ficar presos no aparelho e causar desconforto, a manutenção de uma higiene oral adequada, como a escovagem três vezes ao dia, o uso de fio dentário e/ou escovilhão e de elixir, é também importante para garantir que a boca está limpa, saudável e sem halitose durante o beijo”.

Se os cuidados se aplicam os lábios, também devem estender-se ao sexo oral por medo de se ser magoado e magoar. “Durante a excitação, as nossas zonas íntimas acumulam muito sangue e por isso qualquer corte pode dar origem a um sangramento embaraçoso pelo que a prática com estes aparelhos mais invasivos deva ser mais acautelada de forma a evitar lesões incómodas”, alerta a sexóloga. Já sobre as infeções, a especialista avança que “as feridas abertas podem ser porta de entrada para vírus e bactérias. Muitas pessoas que usam alguns destes aparelhos sofrem de lesões com aftas que podem ser muito desconfortáveis durante o beijo mas também na prática de sexo oral”, analisa Vânia Beliz.

Desmistificando os riscos, Ana Senra aconselha a que “tanto o parceiro quanto a pessoa que usa aparelho dentário devem estar cientes do risco de lesões orais durante as atividades íntimas, como algumas úlceras. Assim, se certas áreas do aparelho estiverem a causar desconforto durante a atividade sexual, pode ser aplicada uma cera ortodôntica nos metais do aparelho que estiverem fora do lugar. Paralelamente, para evitar magoar o parceiro devido às arestas aguçadas do aparelho, sugere-se que se tentem adaptar alguns movimentos e posições durante a intimidade para encontrar o que é mais confortável para ambos: ser cuidadoso durante o contacto próximo com o parceiro é importante”.

A médica crê também que “o uso de lubrificantes pode ser um auxílio, caso o paciente sinta que a sua boca está mais seca devido ao uso do aparelho. É aconselhado, ainda assim, falar com o ortodontista de forma a averiguar se é viável fazer algum ajuste para minimizar esse desconforto”, pede.

Como agir diante de sexo ocasional e preservativo

“O uso de aparelho dentário geralmente não afeta diretamente a integridade do preservativo”, sublinha Ana Senra. A médica recorda que “os preservativos são projetados para serem resistentes e elásticos, independentemente da presença de aparelhos ortodônticos”. Porém, também há cautela a ter nesta matéria. “Se as bordas do aparelho estiverem afiadas ou existirem peças descoladas ou soltas, isso pode causar certos danos no preservativo, como o seu rompimento ou até o desconforto do parceiro. Nestes casos, o cuidado a ter com a integridade do aparelho deve ser mantido e sugere-se, por vezes, o uso de lubrificantes à base de água, uma vez que ajudam a reduzir o atrito, sendo extremamente importante comunicar com o parceiro para haver compreensão entre ambos. No caso do aparelhos removíveis – como os alinhadores transparentes –, é importante retirá-los sempre antes da prática de sexo oral”.

Vânia Beliz convoca atenções para o facto de o “preservativo poder ficar danificado mais facilmente se tocado por estes aparelhos, o que pode dificultar a proteção”, situações que podem ser “ultrapassadas com prática e com cuidado”.

As soluções? “Comunicação e descontração”, pede a sexóloga. A médica ortodontista na Mala Clinic, em Lisboa, também fala da importância da “comunicação aberta com o parceiro para se poder garantir uma experiência agradável e confortável para ambos”. Isto porque, considera Ana Senra, “a experiência sexual deve ser algo saudável, independentemente do uso do aparelho, e para tal necessita de uma comunicação aberta com o parceiro, respeito pelos limites do outro, e a consciência mútua do conforto e obtenção de bem-estar”.

A médica recomenda, contudo, que “o tempo de adaptação ao aparelho deva ser levado em consideração. Se a colocação do aparelho for recente, pode ser conveniente aguardar algum período até se retomar a atividade íntima para que o paciente se consiga habituar à sua utilização”. Tudo isto sem esquecer, claro, a manutenção dos ”hábitos de higiene oral para promover uma saúde oral adequada, sem cáries e evitando o mau hálito e a inflamação das gengivas”.