Carolina Deslandes pede: “Vamos falar de depressão porque é urgente”

“Toda a gente é ‘tua mana’ quando apareces com bom ar, bem vestido, com a energia pra cima e vontade de brindar, mas quando estás na merda, triste demais para ir para a festa, cansada demais para fingir que está tudo bem, contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que vão dedicar o seu tempo a tirar-te do buraco mais fundo”. Esta é uma das passagens de um longo texto, sobre a depressão que a cantora Carolina Deslandes publicou esta quinta-feira, 23 de maio, na sua página de Instagram e que levou várias seguidoras a partilharem a sua história pessoal de depressão.

A cantora começa o texto por mencionar o tabu que ainda é falar de doenças como a depressão e sintomas como a ansiedade, escrevendo que “falar de tristeza incomoda muita gente”. “Assusta, é chato, não é apelativo nem dá vontade de ficar (…) Ninguém que falar de depressão, ninguém quer falar de solidão, isso é conversa negativa. E depois vêm os julgadores apontar o dedo e dizer “mas que razões é que tu tens para estar depressivo?”, prossegue, acrescentando que se fala da depressão como se “fosse uma escolha, como se fosse um acto de ingratidão com a vida, como se as pessoas não fossem reféns dessa doença e desse estado”.

 

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Falar de tristeza incomoda muita gente. Assusta, é chato, não é apelativo nem dá vontade de ficar. Toda a gente é "tua mana" quando apareces com bom ar, bem vestido, com a energia pra cima e vontade de brindar, mas quando estás na merda, triste demais para ir para a festa, cansada demais para fingir que está tudo bem, contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que vão dedicar o seu tempo a tirar-te do buraco mais fundo. Ninguem que falar de depressão, ninguém quer falar de solidão, isso é conversa negativa. E depois vêm os julgadores apontar o dedo e dizer "mas que razões é que tu tens para estar depressivo? Tens tudo na vida" como se a depressão fosse uma escolha, como se fosse um acto de ingratidão com a vida, como se as pessoas não fossem reféns dessa doença e desse estado. Respeitem as feridas dos outros porra. Respeitem as suas batalhas, dêem-lhes água em vez de ficarem a apontar para o deserto a gritarem que ele é interminável. A internet constrói vidas de mentira, e constrói a ilusão de que cada um pode dizer o que quer. É preciso muita sabedoria para saber gerir a liberdade de expressão e entender que magoar o outro gratuitamente não é uma expressao de liberdade, é só a constatação de que tu és prisioneiro de ti próprio. Do teu ego, das tuas merdas, da tua necessidade de denegrir o outro. Vamos falar de depressão porque é urgente. É urgente deixar que as pessoas possam procurar ajuda sem serem alvo de chacota. É urgente que as pessoas sintam que a vida delas INTERESSA. É urgente voltarmos a lembrar-nos de que somos pessoas de carne e osso e que a vida pode ser muito f*dida. Vamos falar de EMPATIA. E vamos falar de COMPAIXÃO. Se estás a ler isto, tu importas para alguém. Tu importas. ❤️

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Em 2017, um relatório revelava que as mulheres portuguesas eram as mais afetadas pela depressão na OCDE. Enquanto na Espanha, Lituânia, Hungria e Polónia as mulheres eram atingidas por esta doença em mais 50% do que os homens, em Portugal a percentagem subia para os 66%.

Em termos de proporção populacional, referia o mesmo relatório, cerca de 18% da população feminina portuguesa sofria de depressão crónica, por comparação com cerca de 6% da população masculina.

Carolina Deslandes termina o seu texto a pedir que se fale de depressão “porque é urgente”. “Se estás a ler isto, tu importas para alguém. Tu importas”, remata a cantora.

A depressão e as doenças mentais têm mobilizado várias figuras públicas no apelo e sensibilização da sociedade para esta doença. Um dos casos mais recentes é o de Kate Middleton e William, que têm falado publicamente sobre a importância de dar mais visibilidade a estas questões de saúde. Por outro lado, várias celebridades também já assumiram publicamente sofrerem, ou terem sofrido, de depressão – como pode ver na galeria acima – procurando dessa forma alertar para o problema.

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