As cerimónias fúnebres da atriz vão ter lugar a partir desta segunda-feira, 18 de abril, na Basílica da Estrela, em Lisboa. A despedida de Eunice Muñoz vai estar aberta a todos os que pretenderem deixar um derradeiro adeus àquela que ficará conhecida como a “dama do teatro”.
Segundo informação avançada pela família, o velório será privado e reservado à família até as 17 horas, sendo aberto ao público a partir desse momento, estendendo-se até às 22.30.
Será depois retomado na terça-feira, 19 de abril, das 10 às 15 horas. Na hora seguinte, será celebrada uma missa de corpo presente, na Basílica da Estrela, estando a cerimónia de cremação prevista para o cemitério do Alta de São João, às 17 horas, de acordo com informações veiculadas pelo filho da atriz, António Muñoz.
Cinzas sobre os campos de Amareleja
Sem exigências para o seu funeral, Eunice Muñoz deixou, em entrevista ao programa da SIC Alta Definição de Daniel Oliveira, em 2011, o desejo de que as suas cinzas fossem depositadas nas imediações de um poço da casa onde cresceu. Porém, o filho da atriz diz tal não ser possível devido ao facto de a propriedade já não estar nas mãos da família. Assim sendo, as cinzas da atriz deverão ser lançadas nos campos da terra que a viu nascer, Amareleja, em Beja.
A atriz, de 93 anos, morreu na sexta-feira, 15 de abril, no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, na sequência de uma paragem cardiorrespiratória. Uma perda que levou o Presidente da República Marcelo Rebelo a declarar luto nacional para esta terça-feira, 19 de abril, dia do funeral de Eunice Muñoz.
Eunice Muñoz parte com a obra evocada por responsáveis, colegas, profissionais de múltiplos quadrantes e geografias. Do Brasil, a atriz Fernanda Montenegro, de 92 anos, evocou a memória da atriz portuguesa. “Eunice Muñoz, saúdo você e o seu ofício de atriz, o dom de carnificar uma dramaturgia escrita”, afirmou a atriz e escritora numa mensagem de Facebook.
A evocação de Fernanda Montenegro
Emocionada, Fernanda Montenegro explica como “a dramaturgia escrita tem de vir para a verticalidade do palco”, para que as personagens se exponham de facto, perante a plateia, o público, e quanto desse processo e do seu humanismo tem de estar presente “na arte de uma grande intérprete” como Eunice Muñoz. “Isto faz do seu corpo, da sua sensibilidade, da sua alma, um instrumento místico, Eunice, transcendente, que visa, sem trégua, alcançar, através da sua profissão, o que de melhor, como prática, podemos atingir como criaturas humanas, como seres humanos. É o humanismo através da arte de uma grande intérprete, você, querida Eunice“, afirma a atriz que, em final de março, assumiu o lugar na Academia Brasileira de Letras.
Na mensagem, a atriz brasileira celebra a vida da atriz portuguesa. Jamais a palavra morte é pronunciada, tão pouco alude ao desaparecimento de Eunice Muñoz. Pelo contrário, dirige-se a ela diretamente, celebrando a sua vida. “Portanto viva seu coração batendo, viva sua criatividade indestrutível, viva o seu fôlego, viva a sua eterna inteligência cénica!”, afirma Fernanda Montenegro.
Numa conclusão emocionada de gratidão à atriz portuguesa, a atriz brasileira acrescenta: “Bendita, para sempre, para sempre seja a sua arte, bendita seja, para sempre, querida amiga, querida, atriz, você e você. Muito obrigada.”
Fernanda Montenegro, de 92 anos, ficou conhecida em Portugal através de telenovelas como Baila Comigo e Guerra dos Sexos, mas soma uma carreira de mais de 70 anos no teatro e no cinema, tendo interpretado as principais dramaturgias, num percurso paralelo ao de Eunice Muñoz, em Portugal, e com uma importância similar, na cultura brasileira.
Intérprete de dramaturgos como Harold Pinter, Samuel Beckett, Luigi Pirandello, Reiner Werner Fassbinder, Millôr Fernandes e Augusto Boal, Fernanda Montenegro esteve nomeada para o Óscar de Melhor Atriz, em 1999, pelo desempenho no filme Central do Brasil, de Walter Salles.
Eunice Muñoz, nascida na Amareleja, no distrito de Beja, em 1928, completou em novembro 80 anos de carreira. Em oito décadas, a atriz somou, no teatro, mais de 120 peças, em perto de três dezenas de companhias, depois da estreia, em 28 de novembro de 1941, aos 13 anos, em O Vendaval, de Virgínia Vitorino, no Teatro Nacional D. Maria II.
No cinema e na televisão, o seu nome está associado a mais de 80 produções de ficção, entre filmes, telenovelas e programas de comédia. Recebeu mais de uma dezena de prémios, seis condecorações oficiais, que culminaram na Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 2021. Em 1990, foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural.
CB com Lusa