A 78ª edição anual dos Globos de Ouro, os prémios de cinema e televisão da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood (HFPA, na sigla em inglês), ficou marcada pelas críticas à falta de diversidade nas nomeações, em noite de condecoração inequívoca da plataforma de streaming Netflix. Com as celebridades em casa por causa da pandemia de covid-19, a cerimónia realizou-se de forma virtual, entre Los Angeles e Nova Iorque, e as apresentadoras não ignoraram a controvérsia. “Há muito lixo vistoso que é nomeado”, disse a comediante Amy Poehler, que voltou a fazer dupla com Tina Fey na apresentação da cerimónia.
“Toda a gente está compreensivelmente chateada com a HFPA e as suas escolhas”, afirmou Poehler, referindo-se às críticas dirigidas à Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood, responsável pelos Globos de Ouro, por ter ignorado obras relevantes do último ano escritas, realizadas ou protagonizadas por afro-americanos.
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“Todos sabemos que as cerimónias de prémios são estúpidas”, acrescentou Tina Fey. “A questão é que, mesmo com coisas estúpidas, a inclusão é importante e não há negros entre os membros da Associação da Crítica Estrangeira em Hollywood”, afirmou, instando a organização a fazer mudanças.
A cerimónia realizou-se dias depois de uma investigação do jornal Los Angeles Times ter questionado a relevância e a credibilidade da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood (HFPA, na sigla inglesa) na indústria cinematográfica nos Estados Unidos. O jornal traçou uma imagem de atuação duvidosa, protecionista dos seus membros e desligada da realidade, revelando que há membros da associação a receber remunerações avultadas, cuja proveniência não é transparente, e nem todos são efetivamente jornalistas.
Fonda, uma das poucas vencedoras com mensagem política
Esta mensagem foi ampliada por Jane Fonda, que recebeu o prémio de carreira Cecil B. deMille e destacou no seu discurso de agradecimento a importância da diversidade de histórias contadas por Hollywood.
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“Há uma história que temos tido medo de ver e ouvir sobre nós nesta indústria. Uma história sobre quais as vozes que respeitamos e elevamos e quais as que desligamos”, afirmou a atriz. “Vamos todos fazer um esforço para expandir a ‘tenda’, para que toda a gente seja elevada e as suas histórias tenham oportunidade de serem vistas e ouvidas”, apelou, afirmando que a arte não só caminha a par da História como também a tem liderado.
O discurso de Fonda foi um dos poucos com mensagens políticas, num evento em que os vencedores se concentraram nos sorrisos, lágrimas e agradecimentos profusos.
Em termos de televisão, ficaram em destaque as séries da Netflix “The Queen’s Gambit”, que venceu o prémio para Melhor Minissérie e deu a Anya Taylor-Joy o galardão de Melhor Atriz; e “The Crown”, vencedora de quatro Globos de Ouro, incluindo para Melhor Série Dramática.
A série sobre a vida da família real britânica obteve ainda o prémio para Melhor Atriz em série dramática (Emma Corrin), Melhor Atriz Secundária em série dramática (Gillian Anderson) e Melhor Ator em série dramática (Josh O’Connor). Jodie Foster venceu na categoria de melhor atriz secundária, pelo filme “The Mauritanian”, e Rosamund Pike levou a estatueta de Melhor Atriz em comédia ou musical por “I Care a Lot”.
Os Globos de Ouro, prémios de cinema e televisão da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood, distinguiram hoje Chadwick Boseman a título póstumo, como melhor ator dramático, numa cerimónia em que a Netflix foi a grande vencedora. O ator, que morreu em 2020, aos 43 anos, foi premiado pelo seu papel no filme “Ma Rainey: a mãe do blues”, de George C. Wolfe.
Os vencedores da noite
A Netflix, que contava com 42 nomeações, venceu a maioria dos prémios para televisão, com a série “The Crown”, que contava com seis nomeações, a obter quatro globos de ouro, incluindo o prémio para melhor série de drama. A série, que reconstitui a vida da família real britânica, recebeu ainda prémios para os atores Josh O’Connor (no papel de príncipe Charles), Emma Corrin (princesa Diana) e Gillian Anderson (Margaret Thatcher). A realizadora Chloe Zhao, nascida na China, tornou-se na primeira mulher de origem asiática a obter um Globo de Ouro, pela realização do filme “Nomadland – Sobreviver na América”, que obteve igualmente o prémio para melhor filme de drama.
Zhao é além disso a primeira mulher a conquistar o prémio desde Barbra Streisand, com “Yentl”, em 1984, numa categoria em que apenas estas duas mulheres receberam aquela distinção.
O filme “Mank”, de David Fincher, que liderava as nomeações na área do cinema, foi o grande perdedor da noite, não tendo conquistado qualquer prémio.
“Mank” estava indicado em seis categorias, incluindo as de Melhor Drama, Realização, Argumento (para Jack Fincher, pai do realizador), e Ator em Drama, para Gary Oldman.
O filme “Os 7 de Chicago”, de Aaron Sorkin, também exibido pela Netflix, obteve o Globo de Ouro na categoria de melhor argumento.
Sasha Baron Cohen, que estava nomeado na categoria de melhor ator dramático pela participação no filme de Sorkin, acabaria por vencer o prémio como ator de comédia ou musical, por “Borat 2”.
O prémio de melhor atriz num filme dramático foi para a cantora Andra Day, por “The United States vs Billie Holiday”, com a britânica Rosamund Pike a vencer na categoria de comédia ou musical por “I Care a Lot”. Jodie Foster obteve o prémio na categoria de melhor atriz secundária, pelo papel no filme “The Mauritanian”. Daniel Kaluuya conquistou o Globo de Ouro para melhor ator secundário pelo filme “Judas and the Black Messiah”.
O Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro foi para “Minari”, de Lee Isaac Chung, batendo “Another round”, de Thomas Vinterberg, “Uma vida à sua frente”, de Edoardo Ponti, protagonizado por Sophia Loren, “La llorona”, de Michael Chaves, e “Deux”, de Filippo Meneghetti. Aaron Sorkin venceu o prémio de Melhor Argumento, com “Os 7 de Chicago”, enquanto “Soul”, da Pixar, obteve o prémio para Melhor Animação em Longa-Metragem.
A Melhor Série de Comédia foi “Schitt’s Creek”, que também deu a Catherine O’Hara o galardão de Melhor Atriz em série de comédia ou musical. “Ted Lasso” deu uma vitória à Apple, com a estatueta de Melhor Ator em série de comédia ou musical para Jason Sudeikis, e “I know this much is true” coroou Mark Ruffalo com o Globo para Melhor Ator em minissérie ou filme para televisão.
Da investigação às críticas. Globos de Ouro sob ataque
Entre as críticas feitas à HFPA, está a ausência de nomeações para as séries da HBO “I may destroy you” e “Insecure” e para o filme de Spike Lee “Da 5 Bloods”.
Outros filmes considerados potenciais candidatos aos Óscares, como “Ma Rainey: A mãe do blues”, de George C. Wolfe, “One Night in Miami” e “Judas and the Black Messiah”, ficaram ausentes das categorias mais apetecíveis, como Melhor Filme.